Retrofit em duas casas de família recupera estilo colonial das construções
O projeto da arquiteta Guta Louro respeitou a memória afetiva da moradora, mas também modernizou os imóveis com mobiliário contemporâneo
Era uma vez, na cidade de Jarinu (SP), duas casas construídas para uma família finlandesa – ali, a filha do casal criou boas memórias de infância. Corta para 20 anos depois: os pais já haviam voltado para a Finlândia e a propriedade é passada para o nome da filha, que mora há anos no Brasil.
Seu filho, após uma temporada fora do país, retorna ao Brasil e ela resolve reformar as duas casas de campo, uma para si mesma e a outra para ele.
Coube à arquiteta Guta Louro o projeto de reforma e decoração de ambas as casas, cada uma com cerca de 80 m² e inseridas em meio ao verde, em um terreno de 5.000m². A moradora buscava conforto, um lugar para descansar nos finais de semana e receber toda família quando viessem visitá-la.
“Ela queria que os pais ficassem alegres com a reforma das casas e que elas carregassem a memória dos momentos que viveram lá. Para isso, deveríamos manter a estrutura delas, deixando em boas condições, com cara de casa habitada e bem cuidada”, explica Guta, apontando que a “casa 01” seria usada por ela e a “casa 02” pelo filho.
“A moradora tem uma personalidade espirituosa, possui vários cachorros e ama ficar ao ar livre. Sua casa de campo deveria ser o lugar perfeito para andar descalça, relaxar e observar a natureza. Já a casa do filho deveria servir ao mesmo propósito, mas também ser um bom espaço para receber amigos”, complementa a arquiteta.
Foram feitas então grandes reformas em ambas as casas, da revisão do telhado e reforma de toda a rede elétrica até detalhamentos de armários e especificação de acessórios e acabamentos.
Uma delas tinha um estilo mais colonial (“casa 02”), enquanto a outra era uma mistura de estilos.
“Adequamos a fachada da primeira casa ao estilo colonial, sem alterar sua estrutura ou fundação. Trocamos todos os revestimentos e cores das duas construções e modernizamos os acessórios e layout para se adequarem às necessidades do cotidiano moderno, sem interferir no visual colonial: brincamos com ladrilho hidráulico, utilizamos madeira de demolição nos pisos e escolhemos cores alegres e relevantes ao período que pretendíamos preservar”, descreve a arquiteta.
Já a “casa 01” ganhou ainda novo layout, com alteração do acesso à sauna, conversão da área de descanso em um banheiro extra e criação da sala de TV. O banheiro da suíte máster, que antes era o único da casa, passou a ser conectado apenas à suíte. Também foi criada uma área de serviço e uma pequena varanda para a suíte máster. Todas as portas e janelas foram trocadas, assim como todos os revestimentos e acabamentos.
Já a “casa 02”, apesar de reformada, não teve nenhuma alteração significativa no seu layout original, ganhando apenas uma varanda em um dos dormitórios e uma churrasqueira no terraço. Todas as janelas foram mantidas e reformadas, mas as portas, revestimentos e acessórios foram trocados. O layout do banheiro também foi atualizado.
Do lado de fora, o revestimento de piso externo é novo em ambas as casas, assim como o da piscina. Já o novo projeto para o deck e a circulação da área externa foram feitos em parceria com a Landscape Jardins e a paisagista Maria Fernanda Marques.
“Encontramos alguns desafios ao longo da execução de obra, como em qualquer projeto de retrofit de imóveis antigos ou sem manutenção, mas nada fora do ordinário ou que requeresse mudanças no projeto original desenhado por mim”, afirma Guta.
Em paralelo ao andamento da obra, foi feito o projeto de design de interiores e decoração, finalizado a tempo para ela receber toda a família da Finlândia para as festas de final de ano. O ponto de partida para o design foi o estilo colonial da “casa 02”, adotado também para a outra casa, criando uma ligação entre elas.
Foram escolhidos materiais que se assemelhassem aos utilizados nas casas coloniais de Minas Gerais, como piso de madeira rústico, balaústres nas varandas, portas de madeira maciça, batentes largos, ladrilhos hidráulicos e janelas coloridas.
“Usamos ladrilhos com desenhos e cores customizadas, piso de madeira de demolição em peroba rosa, portas maciças e armários em cumaru. Na segunda casa, o revestimento do teto é feito em palha sintética, da Nani Chinelatto”, especifica a arquiteta.
No mobiliário, foram usadas diversas peças do design brasileiro contemporâneo, mas que mantêm um diálogo com o estilo das casas, trazendo elementos como a madeira, a palhinha e outras texturas naturais.
Segundo a arquiteta, todo o projeto foi, portanto, pautado pela memória afetiva da moradora.
“Partimos da conservação e cultivo da história. O carinho com o qual a moradora guarda as lembranças vividas nestas duas casas e o desejo dela de voltar a viver lindos momentos nelas é inspirador. O cuidado e importância que ela dá à natureza e à preservação de boas energias também me incentivou a certificar que estas duas casas teriam cores e detalhes alegres, que estimulassem esse estilo de vida”, conclui Guta.
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