Coleção de design documenta 50 anos da vida e do ativismo LGBT+
Com registros que datam de 1969, o livro de Andrew Campbell busca contemplar uma compreender mais profundamente a comunidade queer e suas experiências
Por Yara Guerra
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Atualizado em 17 fev 2020, 15h45 - Publicado em 31 out 2019, 17h11
O icônico design de bandeira arco-íris, por Gilbert Baker. (Divulgação/Casa.com.br)
Manter um registro do design LGBT+ torna cada vez mais possível a mudança política. É nisso que acredita o historiador de arte Andrew Campbell, responsável pela criação do Queer x Design – uma coleção de design gráfico, que documenta os últimos 50 anos de vida e ativismo LGBT+, desde o nascimento do movimento de libertação dos direitos dos gays, em 1969.
“Design queer é simplesmente qualquer coisa criada e projetada por pessoas LGBTQ+, que lida com a vida LGBT+”, diz Campbell. “Pode parecer uma definição óbvia, mas acho que permite a abertura em torno de um dos precedentes comuns às comunidades LGBTQ +, que é inclusivo e heterogêneo“.
–(Divulgação/Casa.com.br)
O livro foca nos sinais, símbolos, faixas, pôsteres e logotipos usados pelos grupos ativistas LGBT+ nos EUA após o nascimento do movimento de libertação dos direitos dos gays.
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“As pessoas queer e que sofrem preconceito racial lutam há décadas contra o policiamento excessivo de suas comunidades, tornando seu apelo visível na arena do design e da arte gráfica”, afirma Campbell.
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“O design LGBTQ inicial revela uma consciência da autoridade jurídica. Compreender isso torna a mudança política cada vez mais possível no presente, se tivermos em mente que estamos construindo poder político juntos há décadas”.
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Campbell escreveu o livro depois de descobrir que não havia literatura específica sobre o design dos movimentos LGBT+ nos EUA. “Claro, existem muitos livros que reproduzem fotografias e objetos efêmeros encontrados em arquivos, mas nada que considerou essas coisas efêmeras como design”, explicou.
–(Divulgação/Casa.com.br)
Ele argumenta que olhar para o design através de uma lente queer permite uma compreensão mais profunda da comunidade e de suas experiências vividas.
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O livro apresenta uma infinidade de trabalhos, como a bandeira do arco-íris de Gilbert Baker e sua atualização contemporânea de Daniel Quasar; os pôsteres do grupo político ACT UP e o coletivo de artistas Gran Fury criado no auge da crise da AIDS; o design original da camiseta da o grupo ativista lésbico radical Lavender Menace; o primeiro videogame do mundo criado por CM Ralph, entre outros.
Confira na galeria abaixo 5 exemplos de peças de design da história ativista queer, selecionadas e comentadas por Campbell:
1/5 Poster "AIDS is not a game", de Robert Birch – Eu escolhi selecionar este do gênero de de design de educação sobre AIDS. O pôster de Robert Birch é um jogo de tabuleiro em que a seroconversão é uma possibilidade a todo momento.Birch criou o cartaz como parte de uma campanha de conscientização sobre o HIV e a AIDS para o Pierce College; e, portanto, representa um tipo de design divertido e localizado, que permanece pouco explorado em nossa história (ainda muito superficial) do design LGBTQ. (Divulgação/Casa.com.br)
2/5 Biangles, por Liz Nania – As biangles foram desenhadas por Liz Nania quando ela organizava o primeiro contingente bissexual nacional para o março de 1987 em Washington. Para mim, eles são uma expressão poderosa da inteligência do design LGBTQ. O design toma o triângulo como ponto de partida. O triângulo rosa foi usado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial para marcar os homossexuais masculinos. As lésbicas foram categorizadas com um triângulo preto com outros "asociais", como profissionais do sexo e "não-conformistas". Nania sobrepôs triângulos rosa e azuis, cada um representativo de um polo do binário normativo de gênero. O espaço da sobreposição é de um roxo profundo, feito da combinação de rosa e azul. Essa sobreposição comunica uma inclusão em termos do potencialmente adorado – tocando com a poderosa simbologia LGBTQ. Mais tarde, tornou-se a base de uma bandeira listrada, usando as mesmas cores, criada por Michael Page. (Divulgação/Casa.com.br)
3/5 Revista BLK, por Alan Bell – A revista BLK foi publicada entre 1988-1994 e foi um bastião dos escritos sobre comunidades LGBTQ negras. Fundada pelo designer gráfico Alan Bell, começou a circular entre os membros de uma festa de sexo seguro all-black conhecida como Black Jacks. A mídia nacional LGBTQ na época representava amplamente as preocupações das pessoas brancas LGBTQ, e Bell identificou a necessidade de falar com e entre as comunidades das quais ele fazia parte. Adoro isso porque fala ao mundo envidando esforços de muitos designers LGBTQ, que identificam algum tipo de necessidade em suas comunidades e respondem. (Divulgação/Casa.com.br)
4/5 Poster da Come!Unity Press – A "comunidade urbana intencional" da Come!Unity Press é uma das grandes histórias não contadas da história gráfica de esquerda dos EUA. Além de republicar folhetos políticos e filosóficos, os membros da Come! Unity Press apoiaram uma variedade de causas esquerdistas – da libertação gay a movimentos de protesto contra a guerra. Esses dois pôsteres (um em inglês e outro em espanhol, mostrando a dedicação do coletivo a tornar suas mensagens acessíveis na poliglota de Nova York) foram criados depois que o primeiro supervisor da cidade abertamente gay de São Francisco, Harvey Milk, foi baleado a sangue frio junto com o prefeito George Moscone. O assassino acabou sendo absolvido e os gays se revoltaram em resposta. As obras mostram solidariedade com os irmãos em luta na costa oeste da Come! Unity Press e usam o machadoe o punho fechado como significantes visuais de sua ferocidade. (Divulgação/Casa.com.br)
5/5 PrideTrain – Em junho de 2017, os avisos de serviço do MTA começaram a aparecer nos metrôs de Nova York. Geralmente indicando rotas alteradas e outras dores de cabeça para os passageiros, os pôsteres não foram feitos pela autoridade de trânsito, mas por um grupo de ativistas e designers. Embora não seja mais um termo usado muito, essa estética de "obstrução da cultura" é uma maneira de envolver o público com o político e reivindicar a existência e o valor das pessoas LGBTQ. Usando o arco-íris icônico, os pôsteres originais falaram com uma atrevida consciência cultural. Agora em seu terceiro ano de existência, a equipe do PrideTrain expandiu sua missão e é mais abertamente orientada para a justiça social em suas mensagens, destacando figuras e eventos históricos, mantendo espaço e celebrando todos os setores das comunidades LGBTQ. (Divulgação/Casa.com.br)