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Cultivo de afeto: falar com as plantas é uma boa maneira de cuidar delas?

Não há provas científicas, mas quem coloca a mão na massa afirma que o afeto faz efeito sim

Por Vanessa D'Amaro
Atualizado em 17 fev 2020, 16h00 - Publicado em 16 jul 2019, 16h22
(Divulgação/Casa.com.br)

A primeira matéria sobre jardinagem que escrevi foi no ano de 2010 para a revista MINHA CASA. Na época, recebi a missão de entrevistar uma jornalista apaixonada por plantas, que cultivava uma jabuticabeira na sacada do apartamento e, de quebra, recebia a visita de passarinhos, como a cambacica. Foi assim que eu conheci a Carol Costa, que anos mais tarde seria dona do canal Minhas Plantas no Youtube e apresentadora do programa A louca das Plantas no canal GNT. 

A Jabuticabeira Mimosa, na varanda de Carol Costa (Luis Gomes/Minha Casa)

A jabuticabeira Mimosa – sim, ela tinha nome – atingia 3 metros de altura e acabou subindo pelas paredes do prédio (anos mais tarde, a Carol me contou que teve que plantar a Mimosa em um jardim porque a varanda tinha ficado pequena para ela). O fato é que Carol tratava a espécie com tanto carinho – conversando, cuidando – e mostrou que era possível sim ter uma árvore frutífera exuberante na varanda de um apartamento. 

Não é de hoje que se questiona o conversar com plantas e seus efeitos no crescimento delas. Você deve lembrar de um vídeo famoso na internet, iniciativa da marca sueca de móveis Ikea, em que duas plantas são colocadas sob condições idênticas em uma escola primária, com a diferença que uma só ouve elogios o dia todo e a outra xingamentos e críticas. O resultado é que a que foi tratada com elogios cresceu e ficou exuberante, enquanto a outra secou. A ideia da marca era fazer um alerta sobre o bullying, porém o vídeo deu muito o que falar – justamente no aspecto botânico da “coisa”. Muita gente questionou se o experimento fazia sentido ou se tinha algum respaldo científico. 

A repercussão foi longa e surgiram hipóteses por todos os lados. Há quem afirme que ao falar perto das plantas liberamos gás carbônico, o que ajudaria no processo de fotossíntese. Portanto, não faria diferença o conteúdo das palavras em si, apenas o ato de conversar perto delas já teria alguma consequência. 

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Os amantes da natureza discordam. “Enquanto um apaixonado por plantas, eu percebo que elas dão sim um feedback do nosso carinho e dos nossos cuidados. Elas reagem à forma como a gente cuida delas”, diz Rod Ras, que abandonou o jornalismo, chegou a se matricular em um curso de graduação de Biologia em Viçosa e hoje é dono do ateliê botânico Ninfeia, em São João Del Rei, Minas Gerais. Para Rod, a paixão por botânica mudou no seu  jeito de viver já que hoje ele se dedica a plantar mudas – que confessa ser uma das suas atividades prediletas – e criar kokedamas de várias espécies em seu ateliê. 

Rod Ras, do Ninfeia Ateliê em São João del Rei (Ninfeia Ateliê/Casa.com.br)

Para a paisagista Luciana Pitombo, o afeto jamais deve ser descartado quando se trata de seres vivos. “Quanto mais carinho e atenção colocamos, melhor é o desenvolvimento das plantas e a natureza sempre retribui com novas folhagens e flores, atraindo borboletas e passarinhos”, opina a paisagista Luciana Pitombo, do escritório Plantar Ideias

Quem também sente isso no dia a dia é a analista financeira Eloisa Nery, estudante de jardinagem e dona de várias plantinhas em casa. “Acho que já nasci apaixonada por plantas, elas são a minha vida! Eu costumo dar bom dia, boa noite e perguntar se elas estão bem sim”, relata. Para Eloisa, conversar é uma das maneiras de demonstrar o afeto às espécies que dão vida e alegria para a sua casa. 

Saber escolher o canto certo da casa é também uma das principais formas de tratá-las bem. “Cada espécie demanda uma quantidade de luz e de água, o que precisa ser levado muito a sério para garantir um desenvolvimento saudável da planta e que ela esteja sempre bonita”, explica a paisagista Luciana Pitombo. 

Até o home office pode receber plantas. Projeto: Plantar Ideias (Divulgação/Casa.com.br)

Um dos cuidados adotados por Eloisa foi escolher um espaço que pudesse abrigar todas as espécies que possui em casa. Foi o mesmo que fez a jornalista (e colaboradora do casa.com.br) Luciana Andrade, também apaixonada por plantas e adepta da onda Urban Jungle, que propõe trazer o verde para dentro de casa. “Eu percebi com o tempo que juntas as minhas plantas parecem mais felizes”, conta Luciana. 

Cantinho com plantas do apê da jornalista Luciana Andrade. (Divulgação/Casa.com.br)

Por coincidência do destino (esta foi uma fala espontânea de todos os entrevistados), Rod disse a mesmíssima coisa. “Quando mudei de Viçosa para São João del Rei, trouxe meus 60 vasos comigo. Aqui, coloquei as plantas perto de árvores grandes e elas ficaram maravilhosas”, concorda. “O bem estar que eu sinto por viver rodeado por plantas é ainda maior do que o amor que eu dedico a elas”, completa e conclui Rod. 

Verdade seja dita: fica difícil de afirmar se declamar palavras positivas tem um efeito direto no desenvolvimento das espécies. De qualquer maneira, em tempos de interações humanas intermediadas por telas, conversar com plantas não parece mais algo de maluco, mas sim um cultivo de afeto. E talvez essa seja uma das atitudes mais sãs das quais os seres humanos ainda são capazes.

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