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Como a iluminação pode ajudar no desfrute do espaço urbano?

Experiências no campo da iluminação organizam e sinalizam as metrópoles sem excessos, num convite ao pleno uso dos espaços coletivos

Por Por Joana L. Baracuhy
Atualizado em 20 dez 2016, 18h25 - Publicado em 17 jul 2013, 20h29
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Experiências no campo da iluminação organizam e sinalizam as metrópoles sem excessos, num convite ao pleno uso dos espaços coletivos. De olho no futuro, há ainda outras que se valem da tecnologia de ponta e propõem uma interação efetiva da luz com os cidadãos

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Quando a noite cai, 550 pessoas em 45 grandes cidades do mundo saem para caminhar nas ruas e avenidas, registrando o que de melhor e de pior encontram em matéria de iluminação. Reunidas pela iniciativa do lighting designer japonês Kaoru Mende, receberam oportunamente o nome de Lighting Detectives (“ detetives da luz”). O resultado dos passeios, posteriormente compilado e compartilhado no blog do grupo, costuma apontar excessos: displays que confundem a vista, postes ofuscando monumentos importantes… Mas por que alguém se interessaria em registrar as atrocidades cometidas com algo impalpável como a luz artificial? “Corremos o risco de atingir níveis tão elevados de poluição luminosa em locais de uso coletivo que as pessoas passarão a evitá-los”, sentencia Kaoru.

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Até hoje, o princípio que norteava a iluminação de praças, parques, calçadões e outros pontos que servem democraticamente a todos se restringia ao básico: prover visibilidade e segurança, facilitar a manutenção dos equipamentos e minimizar o consumo de energia. Não havia terreno para muito mais. “A grande preocupação no Brasil era manter a luz acesa”, resume Ivan Luiz Alves Martins, engenheiro elétrico e coordenador do plano diretor de iluminação de Curitiba, pioneiro no país, concluído há quatro anos. Segundo ele, clarear os municípios era tarefa das concessionárias de energia elétrica até o advento do Estatuto da Cidade, quando se falou pela primeira vez em iluminação urbana – e não pública –, numa grande mudança de foco. “Nesse momento, passamos a mirar os indivíduos, deixando de lado a preocupação com a rua”, conta.

O processo, inspirado no que ocorria há décadas em cidades como Lyon, Viena e Barcelona, trouxe novidades importantes. Com metas para os 30 anos subsequentes, o plano curitibano se valeu basicamente da temperatura de cor (a tonalidade da luz) e estabeleceu uma hierarquia entre os lugares e as vias para reorganizar as luzes da cidade. As amareladas lâmpadas de vapor de sódio deram lugar às de vapor metálico (brancas), que permitem enxergar o rosto das pessoas a 30 m de distância, promovendo uma sensação de segurança maior para os pedestres. Edifícios públicos, teatros e monumentos ganharam realce cênico, tornando-se marcos que ainda ajudam na localização. Algo semelhante ocorreu com as ruas ao redor do centro histórico, que passaram a ser dotadas de luminárias em altura apropriada à escala humana, num convite à ocupação das calçadas. “Agregamos informação. Agora, é possível saber pela luz se estamos numa avenida marginal, se ali passa ônibus… Dá para ‘ler’ a cidade mesmo de noite”, resume Ivan. Com grande repercussão, a iniciativa paranaense foi seguida por outros municípios brasileiros, mas, para alguns especialistas na área, é possível ir além.

 

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“Atualmente, o lightdesign está cheio de fórmulas genéricas, como a arquitetura internacional, que se repete pelo globo”, avalia o finlandês Tapio Rosenius, líder do coletivo Lighting Design Collective (LDC). “Isso acontece por causa dos aspectos técnicos e utilitários intrínsecos a essa especialidade. Porém, quando nos aproximamos dela como uma forma de arte ou como uma ferramenta comunicativa, alargam-se as possibilidades”, diz ele.

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Aqui mesmo há quem ecoe essa percepção. O arquiteto paulista Guto Requena costuma repetir que, com sensores, automação e boas ideias, a luz pode estabelecer uma interação direta entre a urbe e os cidadãos. De sua cartola saem soluções que captam os humores da vida urbana (trânsito, barulho, poluição), os analisam e os devolvem para os usuários na forma de padrões luminosos dispostos em instalações, monumentos e edifícios, por exemplo. Criam-se, assim, pontos de referência que colaboram para que as pessoas se identifiquem e se apropriem dos lugares. E não precisa ser tudo 100% novo. Experiente, a lighting designer italiana Cinzia Ferrara vaticina o poder da iluminação para alterar a percepção do espaço. “Ela pode mudar a atmosfera de locais de aspecto surrado durante o dia, ajudando a reunir gente”, afirma. Em metrópoles fartamente construídas, como São Paulo, a luz definitivamente ajuda a transformar o que já existe. “Brinco que isso é a arquitetura hackeada”, diz Guto, citando um fato que em breve passará por uma recuperação e ganhará uma fachada interativa, repleta de leds. “As possibilidades são infinitas. E, melhor de tudo, a luz é um dos elementos mais baratos da arquitetura.”

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