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“Museu da Merda”, na Itália, usa excrementos como foco artístico

Instalada na província de Piancenza, a ideia inusitada usa centenas de toneladas de fezes de vacas para gerar energia e criar peças de arte contemporânea

Por Jennifer Detlinger
Atualizado em 17 jul 2017, 15h10 - Publicado em 16 jul 2017, 18h00

Imagine um museu dedicado aos valores artístico e ecológico do cocô. Pois a ideia no mínimo inusitada existe na província de Piancenza, no norte da Itália. Trata-se do Museo della Merda, instalado desde 2015 nas dependências de um antigo castelo de uma fazenda em Castelbosco. O espaço aproveita os excrementos de animais para gerar energia e os usa como foco artístico.

(Museo Della Merda/Reprodução)

Giantonino Lucatelli, empreendedor e proprietário do museu, quis dar uso às 150 toneladas de esterco geradas em sua fazenda pelas 3500 vacas produtoras de leite para o queijo grana padano. Sob sua gestão, a imensa quantidade de excrementos foi transformada em um projeto tecnológico, ecológico e cultural, que tem como objetivo também quebrar os preconceitos ao falar sobre o tema. Projetado pelo arquiteto Luca Cipelletti, o museu reflete a personalidade de Locatelli, que estudou agronomia no Canadá, conheceu Andy Warhol em Nova York e é um colecionador de arte conceitual.

(Museo della Merda/Reprodução)

As fezes são coletadas e introduzidas em biodigestores, tanques onde as bactérias transformam tudo que é orgânico em gás metano, usado para alimentar motores e gerar eletricidade. Atualmente, a fazenda produz o equivalente ao consumido por um povoado de entre 3000 e 4000 habitantes. O sistema de calefação também funciona a partir do esterco: uma das etapas da produção de biogás com a matéria orgânica libera calor, facilitando assim a sua utilização.

(Museo Della Merda/Reprodução)

Uma parte do estrume é comercializada como fertilizante nos supermercados e o restante é utilizado como matéria-prima para louças e demais peças de uso cotidiano. O Merdacotta é uma mistura de esterco com argila da Toscana, que se transforma em telhas, vasos, pratos, canecas e jarras. A coleção foi premiada em 2014 pelo Salão do Design de Milão, por sua ideia inusitada de “transformar o cocô em algo divertido”.

(Museo Della Merda/Reprodução)
(Museo Della Merda/Reprodução)

Além do lado sustentável, o Museo della Merda abriga mostras de arte contemporânea com  fotografias, pinturas e ilustrações que refletem sobre a natureza e antropologia. Muitas das obras também têm os excrementos como principal elemento, como as do italiano Roberto Coda Zabetta, que usa uma mistura de esterco, pigmentos e resina para pintar seus quadros.

(Museo Della Merda/Reprodução)

A instalação agrária e cultural também faz um percurso histórico pelo uso medicinal dos excrementos ao exibir diferentes combinações de estrume e plantas usadas para curar doenças e ensina como é possível criar tijolos de grande capacidade isolante a partir dos excrementos das vacas, juntando assim recursos naturais, tecnologia e inovação ecológica.

(Museo della Merda/Reprodução)
(Museo Della Merda/Reprodução)
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