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O templo projetado por Ruy Ohtake será maior que o Santuário de Aparecida

Ruy Ohtake inova em projeto de igreja para o Padre Marcelo e revela uma tendência: é época de quebra de paradigmas no mundo das construções religiosas

Por Por Natália Garcia
Atualizado em 15 fev 2024, 10h50 - Publicado em 9 fev 2009, 15h21

O Padre Marcelo Rossi, um dos principais líderes da Renovação Carismática da Igreja Católica no Brasil, vai ganhar, até o fim do ano, um novo espaço para celebrar suas missas. O Templo Mãe de Deus, que já está em construção na avenida Interlagos, em São Paulo, foi projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake e terá capacidade para receber 100 mil fiéis, superando a basílica Nossa Senhora de Aparecida, no interior de São Paulo, que hoje é o maior templo da América Latina, com capacidade para até 45 mil fiéis.

A arquitetura do templo foge da estética tradicional das igrejas católicas, com colunas, vitrais e imagens – o que ele cria são espaços com curvas e muito concreto. No acabamento, placas metálicas ficarão visíveis na fachada, que terá cores vibrantes. O templo também vai dispor de um telão na área externa com bancos para acomodar os fiéis que não conseguirem chegar a tempo de assistir as missas na área interna. A única exigência do Padre Marcelo para o projeto foi uma cruz que ficasse visível a grandes distâncias. A solução do arquiteto Ruy Ohtake foi construir um poste que manterá a cruz suspensa a uma altura de 40 metros.

Arquitetura da Fé

 

Outros projetos de templos contemporâneos brasileiros também inovaram na arquitetura tradicional das igrejas. Um exemplo é a Capela da Fazenda Veneza, em Valinhos, no interior de São Paulo. Projetada pelo arquiteto Décio Tozzi, a capela foi o primeiro templo brasileiro a ganhar o Prêmio Internacional de Arte Sacra, organizado pela Fundação Frate Sole, e que acontece a cada quatro anos na Itália com patrocínio do Vaticano. Tozzi aplicou no projeto alguns preceitos do concílio do papa João XXIII, de 1962. “A principal idéia levantada por ele e que aplicamos no projeto foi criar um lugar onde o sacerdote estivesse mais próximo dos fiéis, não sobre um pedestal”, explica. Tozzi também quis ressaltar a relação de Deus com a natureza, daí um projeto que integre a capela com a paisagem verde ao redor. Eu quis desenhar o vazio”, teoriza.

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Outro projeto moderno que merece destaque é a Capela de Recife, projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha para ocupar um casarão do século XIX que pertencia ao ceramista Francisco Brennand. O profissional procurou preservar o aspecto envelhecido de ruínas do casarão e valorizar as marcas do tempo com um projeto de iluminação moderno, que valorizasse a arquitetura original do local.

Templos na Cidade

 

Para o arquiteto Affonso Risi, envolvido nas obras de revitalização do Mosteiro São Bento e autor do projeto da Capela São Miguel, no interior de São Paulo, a função dos templos religiosos no espaço urbano mudou nas últimas décadas. “As igrejas sempre se localizaram em pontos-marcos, para servir de referência para o coletivo”, explica. Hoje, segundo ele, nas grandes metrópoles fica difícil de existirem monumentos ou marcos que orientem a circulação dos cidadãos. “A função passou a ser de desligamento, um refúgio da cidade para meditação”, conta.

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É o caso do templo budista Zu Lai. Com projeto do arquiteto taiwanense Shieh Shueh Yau, ele fica em Cotia, no interior de São Paulo, e procura reproduzir, em escala reduzida, a experiência de uma peregrinação religiosa pela rampa e escadaria de entrada. “Eu quis que a experiência religiosa de chegada ao templo fosse a recompensa pelo esforço físico da entrada”, explica.

O coordenador das áreas de arquitetura, design e comunicação do senac, Alécio Rossi, também levanta a diferença de funcionalidade que os templos religiosos sofreram nos últimos anos. “Antigamente, tínhamos templos mais altos, que davam a sensação no fiel de como ele é pequeno diante da grandeza de Deus”, explica. “Hoje, a prioridade é receber o maior número de fiéis possível”, diz o arquiteto, se referindo a grandes templos como o da igreja Renascer, em São Paulo, cujo teto desabou no dia 18 de janeiro de 2009, e ao próprio projeto do arquiteto Ruy Ohtake.

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