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O novo em debate

O arquiteto Daniel Libeskind não gosta de ser chamado de desconstrutivista, mas reforçou esse rótulo ao reformular a fachada do Museu Royal Ontario, em Toronto. O projeto mexeu com o jeito discreto da cidade canadense e provocou polêmica.

Por Juliana Tourrucôo
Atualizado em 20 dez 2016, 22h38 - Publicado em 21 jul 2008, 18h46
Royal Ontario Museum

Ao desembarcar no aeroporto internacional Toronto Lester B. Pearson na manhã de 2 de junho deste ano, procurei o quiosque de informações para perguntar o valor de uma corrida de táxi até o centro. Com a resposta, ganhei uma dica da funcionária: “Vamos reinaugurar hoje este museu”, disse ela, ao me entregar um guia de atrações locais com a imagem de uma interessante estrutura metálica impressa na capa. Bendito acaso! Saber da estréia de um projeto arquitetônico na cidade onde passaria os próximos 15 dias foi emocionante. Segui para o hotel e, depois de visitar pontos turísticos como a CN Tower – a torre mais alta do mundo -, constato: o clima é de festa por causa do museu. Uma festa discreta e um tanto polêmica (como descobri mais tarde). Resolvi ir até lá e conferir. Tomei o metrô, desci na estação Yonge Bloor, dobrei à direita e lá estavam eles, os impactantes cubos prateados desenhados por Daniel Libeskind. Como em toda inauguração, nesta havia muitos convidados, discursos, luzes e aplausos. E, com a entrada grátis, o Royal Ontario Museum, ou apenas ROM, estava lotado. Por isso, me limitei somente à fachada naquela noite, e deixei para conhecê-lo melhor nas duas visitas que fiz nas semanas seguintes.

Foi em meados de 2000 que as propostas de uma nova fachada para o ROM começaram. Com o museu prestes a completar 90 anos, um concurso de projetos anunciava como vencedor o arquiteto polonês, nacionalizado americano, Daniel Libeskind. De traço contemporâneo, o profissional já mostrou seu estilo marcante em três museus: o Judaico, em Berlim, o Felix, em Nussbaum (ambos na Alemanha), e o Imperial War, em Manchester, na Inglaterra. E os planos para o ROM, com total respaldo da direção da instituição, não eram diferentes. Dos primeiros esboços rabiscados em guardanapos de papel – “tive um daqueles momentos inspiradores em um restaurante”, disse -, ele partiu para a tecnologia. Utilizou programas digitais que permitem cálculos estruturais complexos, moldou um esqueleto de aço corten e o cobriu com chapas de alumínio e vidro temperado. Para isso, colocou abaixo a fachada retilínea de concreto existente desde 1984, desenhada pelo arquiteto Gene Kinoshita. E daí surgiu a polêmica: alguns locais viram na atitude o desprezo do museu pela própria história e pelo projeto anterior.

“Essa é a cultura do hipercapitalismo, muito drama, muita energia (…), sendo ao mesmo tempo opressiva e claustrofóbica. Fisicamente, está tudo errado”, declarou o crítico Richard Rhodes. Editor da Canadian Art, uma das revistas mais conceituadas da área, ele se disse atônito numa entrevista a outra publicação local, a Azure. Para William Thorsell, diretor do ROM, o projeto é ultra-ousado e vai firmar o nome do museu no turismo arquitetônico. “Agora também temos espaços mais dinâmicos para a exposição das peças”, justificou, referindo-se às novas 12 alas criadas por Libeskind, que abrigarão um acervo variado, que vai de arte a história natural. Certa ou não, a polêmica das fachadas esculturais promete gerar mais discussão. Em 2008, é a vez da Galeria de Arte de Ontario, também em reforma, reabrir com uma nova entrada (a antiga promete ser mantida) e novos anexos. Tudo conduzido pelo arquiteto conterrâneo Frank O. Gehry. De tão entrosado com a idéia, Gehry criou um movimento: Transformation Ago – New Art, New Building, New Ideas, New Future. Parece que os próximos tempos prometem mudanças.

 

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