Memorial em Recife homenageia Luiz Gonzaga e causa polêmica

Cobogós, marquise de concreto aparente e um vão livre de 56 m são elementos brasileiros presentes no polêmico Cais do Sertão. Primeira parte inaugura 13 de dezembro

Por Por Nilbberth Silva
Atualizado em 19 jan 2017, 15h52 - Publicado em 6 nov 2013, 14h55
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Luiz Gonzaga ganhará uma homenagem em Recife. O Cais do Sertão vai expor roupas, instrumentos e discos do sanfoneiro mais famoso do nordeste. O primeiro pavilhão será inaugurado dia 13 de dezembro, quando o rei do baião completaria 101 anos. O pavilhão terá espaços de exposições. Na entrada, uma marquise de concreto aparente recebe os visitantes à sombra de um juazeiro. A árvore da caatinga dá nome a uma música de Gonzaga: Juazeiro, não te alembra/ Quando o nosso amor nasceu/ Toda tarde à tua sombra/ Conversava ela e eu.

O segundo pavilhão ostenta 2.198 m² de cobogós nas fachadas. O desenho das peças, inspirado na renda e nos galhos espinhosos da caatinga, homenageia o sertão. E, é bom lembrar, o tijolo vazado foi criado em Recife no início do século XX. O prédio tem um vão livre de 56 x 20 m. O governo espera entregar a obra no final do segundo semestre de 2014, segundo o cronograma de obras. Assinam o projeto os arquitetos Francisco Fannuci e Marcelo Ferraz, do escritório Brasil Arquitetura, junto com os co-autores Pedro Del Guerra e Gabriel Mendonça.

A homenagem a Gonzaga custou R$ 91 milhões, verba vinda do Ministério de Cultura e Governo do Estado. O prédio faz parte da Operação Urbana Porto, uma estratégia para valorizar a região portuária. Os armazéns vizinhos serão reformados para abrigar um terminal marítimo, centro de convenções, escritórios, restaurantes e lojas.

Polêmica

Para construir o Cais do Sertão, o governo demoliu o armazém 10 do porto e o substituiu por um prédio com volumetria semelhante. A destruição levantou críticas de urbanistas, já que o porto está ao redor do bairro do Recife, uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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“O cais do Sertão Luiz Gonzaga é uma ação destrutiva demagogicamente camuflada em ação cultural”, diz a arquiteta Betânia Brendle, especialista em preservação do patrimônio da Universidade Federal de Sergipe. “A cópia [do armazém] é uma expressão medíocre, pálida e inexpressiva da obra original”.

Na entrevista por email, Betânio classificou o prédio de “pastiche constrangedor que ofende a dignidade urbana do portal marítimo da cidade do Recife”. Segundo ela: “a postura do Governo de Pernambuco configura-se como um ato de vandalismo oficial e barbárie, um crime contra a cultura brasileira e pernambucana”.

 “O governo promoveu a demolição de um edifício autêntico, integrante de um conjunto tombado, para construção de um edifício novo que nenhuma relação tem com o lugar (mesmo que de relativa qualidade projetual). Também promoveu a inserção de uma réplica bizarra arremedando o original”, afirma a arquiteta.

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Segundo o superintendente do Iphan em Pernambuco, Frederico Almeida, o órgão não tem competência para proibir ou autorizar construções o entorno de áreas tombadas. Nessas áreas, o instituto só poderia estabelecer as alturas máximas das construções e suas taxas de ocupação.

“Nas denominadas “áreas de entorno”, o IPHAN detém a competência prevista pelo artigo 18 do Decreto-Lei nº 25/37, que se refere à análise de “construções que impeçam ou reduzam a visibilidade” de bens tombados e à fiscalização quanto à colocação de anúncios”, escreveu Frederico.

E você, o que acha da construção do prédio? Destruir o armazém 10 foi uma boa ideia ou um atentado ao patrimônio? Comente!

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