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Jaime Lerner propõe soluções sustentáveis para a cidade

O arquiteto falou durante Fórum Urbanístico Internacional promovido pelo Secovi, em São Paulo.

Por Por Cristiane Komesu
Atualizado em 20 dez 2016, 21h12 - Publicado em 22 set 2010, 18h18

Um título para uma foto sem titulo Mobilidade, sustentabilidade e sociodiversidade são os três pontos fundamentais de uma cidade, de acordo com Jaime Lerner. O arquiteto e urbanista, três vezes prefeito de Curitiba e duas vezes governador do Paraná, foi recentemente eleito pela revista Times como o único brasileiro entre os 25 pensadores mais influentes do mundo. Ele compartilhou algumas de suas soluções urbanas com os participantes do Fórum Urbanístico Internacional, promovido pelo Secovi-SP (Sindicado da Habitação de São Paulo), nesta terça-feira, 21 de setembro.

“Há muito tempo que gostaria de ter uma chance de falar numa oportunidade como essa, com a presença do poder público e da iniciativa privada”, afirmou. Para Lerner, esse é o momento de começar a mudar os paradigmas da cidade. “As cidades precisam saber aonde vão. Quando a cidade não sabe o quer, o empreendedor vira especulador, insiste em construir sempre no mesmo lugar”. Definir um desenho da cidade, a partir da estrutura de vida e trabalho das pessoas, é o primeiro passo para um bom planejamento. O casco da tartaruga, de acordo com ele, tem o desenho perfeito de uma tecitura urbana. Além disso, o animal é o melhor exemplo de sustentabilidade: “tem vida, trabalho e moradia em um lugar só”.

Automóvel

Um título para uma foto sem titulo “O automóvel é como aquele convidado que veio para uma festa e não quer mais sair. Ele bebe muito, é egoísta e muito exigente, pois quer sempre mais obras, viadutos, freeways”, brinca o profissional. Um dia antes da comemoração do Dia Mundial Sem Carro (22 de setembro), ele defendeu a prioridade máxima do sistema público de transporte. “Não é para extinguir o carro, mas a rotina das pessoas tem que ser feita com transporte público”.

Ele apresentou o projeto do Dock Dock – um carro elétrico com um sexto do tamanho de um automóvel convencional – que funcionaria como um complemento ao transporte coletivo, por meio de um sistema de pagamento por uso: o usuário poderia pegar e devolver o Dock Dock em pontos espalhados pela cidade, a exemplo do que acontece com as bicicletas em cidades como Paris.

Copa

Um título para uma foto sem titulo “Não aguento mais ouvir falar de Copa e Olimpíadas”, desabafa. Para o arquiteto, preparar o país para os eventos internacionais vai além da construção de conjuntos esportivos. “Se tem uma coisa que o Brasil tem de sobra é estádio de futebol. O problema não é fazer estádios, é resolver a estrutura aeroportuária e o transporte urbano.” De acordo com ele, resolver o problema do deslocamento durante um grande evento é fácil, basta direcionar o tráfego. O que considera mais importante é garantir que a cidade seja boa para os seus moradores, pois só assim será boa também para os visitantes.

São Paulo sem periferia

A alternativa proposta por Lerner para a região metropolitana de São Paulo é um planejamento urbano traçado a partir a linha ferroviária. Os pólos indutores da cidade seriam desenvolvidos às margens do transporte público e uma grande “promenade”, ou parque linear, seguiria ao longo da rede, conectando e integrando serviços, moradia e trabalho, numa cidade sem periferia.

“Um condomínio só com gente rica não é sustentável. Quanto mais alto for o muro, mais gente vai estar esperando na saída”, diz Lerner. Para ele, há menos violência quando há convivência entre os diferentes agentes que compõem a cidade. “Está na hora de colocar todo mundo para trabalhar e melhorar essa ideia. O importante é começar. Precisamos começar e dar espaço para que a população nos corrija”, convoca.

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