A arquitetura que marcou São Paulo
Um passeio pela cidade revela uma arquitetura eclética e multifacetada.

Há pouco mais de um sécula a capital paulista era povoada de casas e ruas de barro que serviam de pouso aos tropeiros. Em pouco tempo, as feições da cidade foram ganhando requintes, ora para se equiparar ao Velho Continente, ora para buscar a própria identidade.
A vila de barro
Por 300 anos, São Paulo de Piratininga foi uma cidade pobre e aquém dos estilismos dominantes da época, prevalecendo a arquitetura colonial. O primeiro arquiteto paulista foi o padre Afonso Brás, que, em meados do século 16, ampliou o Colégio Jesuíta e ergueu habitações na vila, lembra o arquiteto Benedito Lima de Toledo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
A cidade pré-fabricada
No século 18, São Paulo é elevada à categoria de cidade, e as casas ganham outro andar e balcões. O geometrismo costumeiro do movimento neoclassico aparece em São Paulo no fi m desse século em obras públicas, projetadas pelo engenheiro militar português João da Costa Ferreira, disseminando a arquitetura simétrica e tripartite. Em 1886, a convite do Barão de Parnaíba, o engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo transfere-se de Campinas para a capital para planejar os edifícios das Secretarias do Estado, marcando assim a história da cidade com a introdução do ecletismo. Formado na Bélgica, Ramos rompeu com o barroco, propondo novos estilos, condicionados ao modo de viver à francesa, a materiais importados e a uma nova mão-de-obra, ressalta o arquiteto Carlos Lemos, professor da FAU-USP.
O retorno às origens no neocolonial
O mesmo escritório que disseminou o internacional ecletismo historicista, o F. P. Ramos de Azevedo, também popularizou o estilo nacionalista neocolonial no início do século 20. Em 1914, durante conferência na Sociedade Cultura Artística, o engenheiro português Ricardo Severo, cunhado e sócio de Ramos, inaugura o novo movimento, em reação ao estilo praticado pelos imigrantes italianos e pelo sócio, e ao uso de materiais importados, que, com a Primeira Guerra, estavam rareando. Segundo Carlos Lemos, o engenheiro buscava uma identidade nacional nas tradições lusas, ignorando que a matriz portuguesa havia se diluído a elementos indígenas e africanos.
A era moderna
No início do século 20, a beleza está nos detalhes, em oposição à monumentalidade da obra, valorizada pelo historicismo acadêmico. Surge o art nouveau, corrente de origem francesa e precursora do modernismo. A arte nova recorre ao ferro, vidro, tijolo e cimento, prega a assimetria e explora os ornamentos, as curvas e as formas orgânicas. É a busca pela liberdade estética, diz Jorge Rubies. A Vila Penteado (1902) e a Escola de Comércio Álvares Penteado (1905), do sueco Carlos Ekman, são algumas das obras que resistiram ao tempo. O art deco, um estilo de transição com matriz clássica também proveniente da França, atinge a capital. A estrutura já é de concreto armado, permitindo grandes vãos, e os revestimentos de materiais nobres.
Modo de vida contemporâneo
A década de 20 constituiu-se de anos indefi nidos. Com a industrialização, a casa virou a máquina de morar. Foi um momento de refl exão sobre como deveria ser o habitar contemporâneo, afi rma Ruth Verde Zein. Enquanto o neocolonial tornava-se o estilo do povo, o ecletismo renovava-se eliminando o ranço historicista e se adequando ao concreto armado, e as casas de estilo
normando, de alvenaria de tijolo e telhadinho, começavam a salpicar o Jardim América, o déco de inspiração cubista anunciava os novos tempos. Infl uenciados pelas idéias da escola alemã Bauhaus e do arquiteto francosuíço Le Corbusier, que propugnavam uma arquitetura funcional e despojada, alguns profi ssionais ensaiam em suas pranchetas os primeiros traços em linhas puras.