Intervenção provoca reflexão sobre os frequentes alagamentos em SP
O artista plástico Eduardo Srur incentiva o debate sobre as forças da natureza e a responsabilidade coletiva que envolve esses eventos
Assim que os primeiros pingos d’água caem do céu, o paulistano já se prepara para mais uma maratona: faróis quebrados, metrô com velocidade reduzida, trânsito infernal e as famosas enchentes. Os alagamentos são comuns na cidade e pioram no início e no final do ano, quando o verão ataca com força total e os dias sempre têm finais chuvosos.
Este caótico fenômeno urbano é tema da nova obra pública criada pelo artista plástico Eduardo Srur em parceria com o street artist Marcelo Ruggi Tché, o Tché Ruggi. Ocupando uma das vias mais importantes de São Paulo, a Avenida Engenheiro Oscar Americano, Enchente levanta a discussão sobre as inundações que atingem a cidade chuva após chuva.
Não é de hoje que as intervenções urbanas de Srur chamam atenção do paulistano. No longínquo 2006, por exemplo, a obra Caiaques ganhou os olhares dos motoristas que passavam pela turbulenta Marginal Pinheiros – dezenas de caiaques coloridos e tripulados por manequins flutuavam nas águas (super) poluídas do rio.
Já em 2014, o mesmo endereço foi palco da polêmica Trampolim, na qual personagens realistas ficavam posicionados na ponta de pranchas azuis, prontos para mergulhar nas águas contaminadas. A obra gerou mais de 300 ocorrências no Corpo de Bombeiros e inúmeras selfies e posts nas redes sociais.
As criações do artista funcionam como manifestos críticos munidos por certa dose de audácia e irreverência. A defesa da vida e do planeta são motes de seus trabalhos, que têm como objetivo a reflexão sobre nosso estilo de vida e sua falta de harmonia com o ambiente ao redor.
Enchente, inaugurada no último 1º de maio, provoca o espectador e alimenta o debate sobre as recentes tragédias envolvendo o acúmulo de água nas vias. Seu propósito é incentivar a reflexão sobre as forças da natureza e a responsabilidade coletiva que envolve esses incidentes.
A intervenção é composta por milhares de carrinhos coloridos aglomerados e sobrepostos de forma caótica. Um grande bloco de concreto com desenhos minimalistas em tons de azul, feitos por Tché Ruggi, emoldura a representação e completa a obra.
Bancado pelo próprio artista, o trabalho foi construído sobre o Túnel Presidente Jânio Quadros, no canteiro central da avenida – um dos principais acessos ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, e a região do Morumbi. A criação faz parte de um projeto maior que começou no ano passado, em parceria com a Prefeitura Regional do Butantã, e ficará em caráter permanente no local.