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Exposição em Amsterdã reúne 62 banquinhos de todo o Brasil

Droog Galeria expõe assentos indígenas, artesanais ou feitos por famosos designers brasileiros. Navegue pelas fotos e leia entrevista com a curadora Adélia Borges

Por Por Nilbberth Silva
Atualizado em 20 dez 2016, 20h03 - Publicado em 28 set 2012, 19h15
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Desde a década de 90, a jornalista e curadora especializada em design Adélia Borges viaja o Brasil com os olhos voltados ao design e artesanato. Suas pesquisas do Amapá ao Rio Grande do Sul renderam centenas de matérias, artigos acadêmicos, dez livros e uma coleção de 40 banquinhos que não cabe em sua casa. Há bancos criados por índios do Alto Xingu, peças montadas por artesãos de Minas Gerais e até um tamborete multicolorido encontrado num lixão do bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Agora, a galeria holandesa Droog Lab expõe os banco de Adélia em Amsterdã. Eles estão misturados sem hierarquia a 22 outras peças, projetadas por designers de todo o Brasil – alguns famosos, como o carioca Sergio Rodrigues, outros em ascensão como Sérgio J. Mattos, radicado na Paraíba. Lado a lado, as peças mostram como artistas de culturas e locais diversos respondem a uma mesma necessidade – sentar – com soluções completamente diferentes. Não à toa, a exposição se chama Em louvor da diversidade: bancos do Brasil.

Abaixo, leia uma entrevista com Adélia e veja uma galeria com fotos da exposição. 

Entrevista com Adélia Borges

 

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Adélia Borges foi diretora do Museu da Casa Brasileira de 2003 a 2007 e hoje é professora de História do Design na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na Escola São Paulo.

De onde vêm tantos bancos?

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Os bancos indígenas e populares fazem parte de minha coleção pessoal, com uns 40 bancos, que fui comprando ao longo do tempo. Viajo bastante pra fazer meus livros e pesquisas. Comprei uma coisa aqui, outra ali, e aos poucos a coleção foi tomando corpo. Guardo no depósito de uma amiga – minha casa é muito pequena. O interesse veio por ser apenas um produto: todos servem para sentar, mas cada um é diferente. Isso que me encantou.

Você tem um banco favorito?

Não. É igual perguntar para uma mãe: de qual filho a senhora gosta mais?

Como seus bancos foram parar em Amsterdã?

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Em 2011, eu participei de uma conferência bem bacana em Amsterdã, a What Design Can Do. Terminei minha palestra mostrando uma imagem que tinha vários desses banquinhos. A ideia era mostrar que não há uma cultura superior a outra, que a gente tem que se abrir para essa diversidade de culturas. A dona da loja de design Droog estava lá e disse que queria trazer uma exposição de banquinhos para Amsterdã. Eles são super-vanguardistas e achei bacana o interesse nesses bancos artesanais. A exposição inaugura o espaço expositivo da loja.

E como a senhora escolheu quais bancos deveriam ir para a exposição?

O que determinou a escolha foi expressar a diversidade cultural brasileira. A distribuição geográfica também me interessa muito. Se eu fico só no Sul, tenho uma visão; no Nordeste, outra. Por isso, coloquei na exposição bancos significativos de ações espalhadas pelo país todo. É muito interessante ver como alguns designers bebem muito diretamente na tradição cultural do seu local de origem. Por exemplo, Sergio J. Mattos faz seu design baseado na atividade artesanal Campina Grande (PB). E Tina e Lui Lo Pumo tiram muita inspiração do artesanato gaúcho, com lã, mais quente.

Vem crescendo no exterior o interesse pelo design brasileiro ?

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Sim. O design brasileiro está entre os protagonistas da cena internacional hoje. À medida que a presença econômica do país cresce no mundo, também cresce a presença política e cultural.  Já havia um interesse pela música e cinema… Mas em relação ao design, o Brasil agora é o foco de interesse pelas pessoas.

E no Brasil, também aumentou o interesse pelo design brasileiro?

Eu acho que há um interesse sim, pelo design brasileiro. No governo Collor, os símbolos de distinção eram todos estrangeiros: uísque estrangeiro, gravata Hermès…  Até uma determinada época, ser importado era entendido como uma qualidade de um produto. Uma distorção de povo colonizado. Acho que hoje isso não existe mais. A gente está mais orgulhoso de quem é. Com a democracia e o aumento do poder econômico do povo, a auto-estima nacional aumentou.

E entre os brasileiros, há maior interesse no nacional, no feito à mão?

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Quando as indústrias surgiram, achava-se que elas substituiriam tudo que é feito à mão.  Acho que a produção artesanal hoje convive com a industrial. E está aumentando o interesse na produção artesanal.  Os produtos industriais são muito uniformes. E a evolução tecnológica levou muita gente ao virtual, à ausência de toque. Produtos feitos à mão, ou regionais, trazem um contraponto a isso. Daí há uma procura nos países desenvolvidos pelo que é genuíno, feito à mão – principalmente no segmento de luxo.

Como achar esse design genuíno, que vai contra a uniformidade?

Tem muitas lojas e sites. Sempre que possível, é bom procurar saber de associações e cooperativas de artesãos. Além disso, é muito importante indagar de onde vem o produto que você tem em casa. Será que ele foi feito com mão de obra escrava? Será que gastou energia demais no transporte? Será que você que, mesmo, ficar perto desse objeto?

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