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Como comprar madeira legal para construir sua casa

Manejo das espécies nativas, investimento nas reflorestadas e pesquisa sobre tecnologias inovadoras propiciam o uso inteligente desse material, indispensável à construção

Por Reportagem Lara Muniz | Design Júlia Blumenschein | Fotos Eduardo Pozella
11 out 2012, 19h19
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Vem de longa data a relação confituosa do brasileiro com a madeira. Da febre do descobrimento que quase deu fm ao pau-brasil até hoje, cinco séculos se passaram e ainda não alcançamos a maturidade para lidar com esse precioso recurso natural. “Mesmo com uma população menor que a do estado de São Paulo, o Chile tem um mercado madeireiro dez vezes mais desenvolvido que o nosso”, compara o arquiteto Marcelo Afalo, de São Paulo, defensor do uso sustentável do material. De dez anos para cá, esse cenário vem se transformando: multiplicaram-se pelo país iniciativas que apostam em formas racionais de dispor desse insumo.

Fique de olho na origem

 

Quem compra madeira nativa precisa exigir o documento de origem florestal (DOF), atestado criado pelo ibama que permite rastrear a fonte do material. Só assim se tem a segurança de que a árvore foi cortada em reserva legalizada, com controle sobre cada unidade e o volume total tombado. “Suspeite de produtores que tratam o do DOF como certifcação. Ele é o mínimo exigido por lei”, orienta Cristiano do Valle. Para não correr o risco de contribuir com o processo ilícito de “esquentar a madeira fria”, peça o detalhamento da compra na nota fscal, com nome da espécie, dimensões e volume adquirido. E recuse a oferta de madeira mista, que facilita a descaracterização do produto.

Como colaborar com a mudança

 

Essa mudança de postura, no entanto, exige esforço coletivo. E os primeiros passos ainda são um tanto cambaleantes. “Na Amazônia, já vi madeiras nobres serem reduzidas a carvão só porque suas toras fugiam em valores mínimos do que se considerava o padrão ideal. É possível viabilizar uma forma de extração mais correta que essa”, afrma Enzo. “Na parte de produção, até o jeito de cortar precisa ser revisto. Na de consumo, falta desenvolver a cadeia – desde o profssional que projeta, constrói e monta até ao que vai executar a manutenção”, diz Marcelo Afalo. A experiência do agrônomo e empresário Cristiano do Valle, dono da empresa de móveis de madeira Tora Brasil, serve de exemplo. Durante os quatro anos em que morou no norte do Pará, ele conviveu de perto com a realidade local. “As pessoas se assustam com a derrubada de árvores, mas isso não é necessariamente ruim. Se a extração sempre vai existir, ela deve acontecer da melhor forma possível”, ensina. Em busca dessa fórmula, Cristiano descobriu a certifcação pelo Forest Stewardship Council (FSC). “A entidade audita toda a cadeia de produção. Além de ecológicos, os benefícios também são sociais. Sem dúvida, a certifcação é um grande diferencial para as empresas”, avalia. As duas madeiras de reforestamento mais abundantes no país, eucalipto e pínus, também ganharam há pouco seu próprio o selo verde: o Qualitrat

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Como é o tratamento certificado

 

Foram mais de dez anos de discussão até que o Qualitrat chegasse à forma fnal. Desenvolvida pela Associação Brasileira dos Preservadores de Madeira (ABPM) e auditada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), essa certifcação protege quem consome madeira de reforestamento tratada. Os requisitos para a conquista do selo envolvem desde a regularidade trabalhista até a gestão ambiental e a garantia de qualidade do produto, entre outros. “O retorno não virá da noite para o dia, mas, para colher, é preciso plantar. Em três anos, o mercado deve perceber os benefícios do documento”, pontua Flávio Geraldo, da ABPM.

Onde comprar madeira legal para estrutura, telhados, pisos e paredes

 

Madeira nativa

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• BrasPine

tel. (51) 3346-3166,

Porto Alegre;

www.braspine.com.br.

• CDM Madeiras

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tel. (11) 4612-2632, Cotia, SP;

www.madeiras-cdm.com.br.

• Tégula

tel. (11) 4414-1000, Atibaia, SP;

www.tegula.com.br.

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Madeira de reforestamento tratada

• CBI Madeiras

tel. (16) 3724-2526, Franca, SP;

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www.cbimadeiras.com.br.

• Lyptus

tel. 0800-2848974;

www.lyptus.com.br.

• Santa Clara Madeiras

tel. (31) 3394-6655, Contagem, MG;

www.santaclaramadeiras.com.br.

 

 

Madeira laminada colada

• Art Pine

tel. (16) 3306-7209, São Carlos, SP;

www.artpine.com.br.

• Ita Construtora

tel. (11) 4195-1365, Vargem Grande Paulista, SP

www.itaconstrutora.com.br.

• Rewoods.com.br

tel. (11) 4787-3366, Taboão da Serra, SP;

www.brarewoods.com.br.

Saiba mais sobre as normas

 

A nova certifcação estimula o tratamento adequado da madeira de reforestamento, o que deve abrir o mercado para ela na construção civil, que a emprega ainda muito timidamente. Outra boa notícia: a liberação, em breve, da NBR 7 190, norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre as categorias de uso da madeira. Em fase de consulta pública, ela vai determinar a espécie mais adequada a cada necessidade da construção – e promete dissolver dúvidas e preconceitos contra as de reforestamento. Com isso, mais arquitetos as enxergarão com outros olhos e se sentirão seguros para especifcá-las. “Em breve, argumentar a favor desse estilo construtivo será mais fácil”, pondera Enzo Grinover. E ele tem estofo para fazer essa previsão. Desde o ano 2000, Enzo estuda o setor com afnco, experiência que culminou com o desenvolvimento de um sistema construtivo. Um de seus companheiros no pioneirismo da valorização da madeira como estrutura é o engenheiro paulista Hélio Olga, da Ita Construtora. Ao perceber que o custo do transporte e a falta de fornecedores de confança para atender à sua demanda inviabilizavam o uso da madeira nativa, ele pôs de pé uma indústria inteira de madeira laminada colada. “Precisamos reaprender a trabalhar com um material antigo de um jeito novo”, defende.

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Defensor do selo verde

Mesmo tendo nascido em São Paulo, o empresário e designer Cristiano do Valle acostumou-se a viver próximo da natureza. “Um dos meus passeios preferidos era sair com minha avó, que me levava para ver árvores no Parque Ibirapuera”, recorda. O menino cresceu, formou-se em agronomia e repensou a administração da fazenda da família no norte do Pará. “Hoje, nenhuma árvore de lá cai em vão”, diz com orgulho. O manejo forestal que adotou é tão rígido que cada pedaço de terra explorado (apenas cinco árvores por hectare) só voltará a ser tocado novamente em 30 anos. As espécies colhidas dão origem a móveis exclusivos e revestimentos e cedem espaço para que outras ocupem seu lugar. “A luz do Sol que entra pela fresta aberta desenvolve as árvores menores”, ensina. Defensor da certifcação, ele acredita que esse é o caminho para diferenciar as empresas.

Apenas 67% da produção madeireira amazônica é legal.*

 

 

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Reflorestar é preciso

Expandir o mercado consumidor de madeira de reforestamento tratada é um dos ideais do biólogo Flávio Carlos Geraldo, presidente da Associação Brasileira dos Preservadores de Madeira (ABPM) e um dos idealizadores do Qualitrat (veja abaixo). “Erroneamente, o brasileiro considera o eucalipto e o pínus pouco resistentes”, afrma. Os números comprovam a afrmação de Flávio. Nos Estados Unidos, dos 17 milhões de m³ de madeira reforestada e tratada negociados anualmente, 75% destinam-se à construção civil. Por aqui, do 1,5 milhão de m³ produzido, estima-se que apenas entre 5 e 10% vão para a construção. Por ora, são os produtores rurais que mais se valem da madeira verdinha (ela adquire essa tonalidade depois do tratamento): mais de 60% da produção transforma-se em mourões de cerca.

68,2% da área total de plantio de reforestamento destina-se ao eucalipto.*

 

 

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Repensar a construção

Numa viagem a Paris, o arquiteto e designer paulista Enzo Grinover abriu os olhos para um jeito mais brasileiro de construir. Impressionado com a imponente estrutura de madeira do Aeroporto Charles de Gaulle, ele voltou sua atenção para o material e seu potencial construtivo. “Quando saí da faculdade, meu conhecimento sobre isso era romântico. Com o tempo, percebi que o segredo está em lidar da melhor forma com o local da construção”, avalia. A madeira é protagonista em suas construções: além de usá-la na estrutura e no fechamento, ele a protege ao elevar a casa do solo, isolando o material do contato direto com a umidade, e cria sistemas  de controle da ventilação cruzada. “Cobogós e beirais são bons exemplos da arquitetura pensada de forma adequada ao nosso clima”, justihca.

O Brasil possui 6,68 milhões de hectares certifcados na modalidade de manejo forestal entre áreas de forestas nativas e plantadas.*

 

 

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Como fazer dar certo

Vencer vãos de 15 m utilizando madeira já não é mais desafo para o engenheiro Hélio Olga. Depois de passar por um processo de benefciamento, o eucalipto de reforestamento transforma-se na madeira laminada colada (MLC), que oferece medidas generosas e resistência extra para aguentar as exigências da construção civil. “Poupamos árvores nativas, economizamos com transporte, temos à mão um material mais confável e em quantidade sufciente para atender à nossa própria demanda como construtores”, resume Hélio. Versátil, a MLC é vista em estruturas e revestimentos, desde que devidamente protegida. Para viabilizar isso, no entanto, o trabalho é grande. Inclui treinamento de mão de obra, pesquisa de matérias-primas adequadas e vai até a necessidade de divulgação do sistema (patenteado na Europa no início do século passado). A batalha está só começando.

Atualmente, o país ocupa o sexto lugar no ranking total do sistema FSC**

 

*Fonte: Imazon, Ministério Público do Pará e Polícia Federal.

**Fonte: Forest Stewardship Council, FSC.

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