Refúgio no Rio: uma casa colonial no Jardim Botânico
Uma casa em estilo colonial no Jardim Botânico, um cachorrinho fofo, uma filha falante e charmosa. Diretora criativa da Farm, Kátia Barros vive cercada de inspirações que explicam o sucesso da mais carioca das grifes.

Não é por acaso que a fotografia em preto e branco de Tom Jobim está na parede da sala de estar. Clicada por Otto Stupakoff na década de 1960, na praia de Ipanema, a imagem mostra o cantor e compositor com um olhar charmoso e maroto. Bem no astral bossa nova que tanto combina com a dona da casa. Quando estava procurando um lar para chamar de seu, a empresária Kátia Barros tinha apenas duas exigências: que o imóvel ficasse no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e tivesse uma aura jobiniana. “Queria que as pessoas entrassem aqui e se sentissem como em uma música de Tom Jobim”, afirma a criadora da Farm, a mais carioca das grifes. Ela conseguiu. Encrustada no alto de um morro, a propriedade tem área verde, luz natural e clima descontraído, capazes de acalentar o mais frio dos corações. Só a fachada pintada de azul e branco, que lembra uma sede de fazenda, já desperta um sorriso discreto. As boas energias só aumentam quando o buldogue francês Nunes surge todo serelepe à porta.
“Minha casa é um pouco como a Farm. Tem um clima de férias, de fim de semana. Não é sisuda nem séria demais”, diz Kátia. Ela criou a marca, símbolo do lifestyle alegre e despojado do Rio, há 17 anos. Trabalhava na área de ciências contábeis e, assim, meio sem pretensão, começou a vender algumas roupas ao lado do amigo Marcello Bastos na Babilônia Feira Hype. Hoje, os dois sócios comandam um império de 900 funcionários e 53 lojas e veem a grife ganhar reconhecimento internacional – os produtos lançados este ano em parceria com a Adidas fizeram sucesso em diversos países. Nada disso parece afetar o jeito zen da estilista, que prefere relaxar no quintal e inventar brincadeiras para as amigas da filha, a falante Manuela, 9 anos, a se entregar ao stress do mundo dos negócios.
Prova disso? Quando recebeu a equipe da ESTILO para o ensaio que ilustra esta reportagem, toda a turma da moda carioca andava em polvorosa às voltas com o Fashion Rio, que rolava naquele exato momento. Kátia, por sua vez, seguia sua rotina doméstica e profissional alheia ao tititi da Marina da Glória. Por opção dela, a Farm não apresenta coleções em semanas de moda. “Minha passarela é a rua”, afirma, enquanto é maquiada no minisspa que mantém em casa. Três anos atrás, no tempo em que morava com a filha em um apartamento com vista para a lagoa Rodrigo de Freitas, jamais imaginou que teria tamanho luxo à disposição. Mas no casarão colonial, de 600 m², há espaço de sobra para seus caprichos. Até demais. “Quando me mudei para cá, me senti no filme Querida, Encolhi as Crianças”, conta. “Trouxe os móveis do apartamento e ficou tudo pequenininho.” Para acertar as proporções do mobiliário no novo imóvel, contou com a ajuda de duas profissionais, a arquiteta Camila Urbanetto, uma ex-vendedora da Farm, que virou sua amiga, e a designer de interiores portuguesa Mônica Penaguião, dona da loja de decoração Poeira, com unidades em Lisboa, Rio de Janeiro e São Paulo. “Kátia tem personalidade forte e é simples e discreta”, diz Mônica. “A casa dela vive em transformação, como se fosse um laboratório de experiências.”
É verdade. A piscina, por exemplo, foi feita duas vezes, pois o ladrilho escuro escolhido primeiramente pela moradora não se mostrou funcional no dia a dia. O mesmo ocorreu com a mesa de jantar de quase 2 m feita sob medida pelo designer holandês Piet Hein Eek. “Era enorme, alta, com 20 cadeiras”, lembra Kátia. “Funcionaria superbem em um ambiente da Casa Cor, mas simplesmente não tinha a minha cara.” Decidiu, então, cortar os pés da mesa, apoiá-la em caixotes de feira e espalhar um monte de almofadas ao redor. Mais a cara dela, só os lambe-lambes colados nas paredes da garagem, no subsolo. Lá, Kátia e a família costumam receber uma turma animada de amigos para festinhas regadas a chope, samba e chorinho. Ah, sim, na sala de estar, ao lado do retrato de Tom Jobim, há uma fotografia de Pixinguinha, sentado em sua cadeira de balanço, clicada por Walter Firmo em 1968. Também não é por acaso que está ali.









