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Esta casa tem alma de bambu

Nas fundações, o material substitui o ferro. Na estrutura do telhado, permite abrir mão da madeira.

Por Redação
Atualizado em 19 jan 2017, 15h29 - Publicado em 2 nov 2006, 18h38

Produtos alternativos e reciclados, empregados de um jeito original, renderam a Leiko Motomura o Prêmio Planeta Casa 2005, na categoria Projeto Arquitetônico, por esta obra em um condomínio de Botucatu, interior de São Paulo

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Arquiteta: Leiko Motomura

Área: 72 m2

Localização: Botucatu, SP

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Por que é ecológico: bambu substitui madeira e ferro, tijolos de solo-cimento, material reciclado e de demolição, fossa ecológica e captação de água de chuva.

Posição favorávelA implantação da casa no terreno privilegiou o melhor da natureza local. Para desfrutar da luz do Sol, as áreas sociais e os quartos voltam-se para o leste e o norte. O vento forte da região atinge suavizada a construção, após atravessar árvores e arbustos. Da entrada principal, é possível avistar o vale do rio.

Materiais de demoliçãoBoa parte dos materiais que compõem a casa foi adquirida em lojas de materiais de demolição. Essa procura virou a especialidade da arquiteta durante a obra. “Com paciência, é possível conseguir preciosidades”, diz Leiko Hama Motomura. Um exemplo são os blocos de piso cimentado, permeáveis, que circundam toda a casa.

Esquadrias recuperadasTambém reaproveitadas, as portas e janelas desenham uma espécie de mosaico na fachada, iluminando e arejando o interior da casa. Os vidros que fazem o fechamento são refugos comprados de fabricantes. Ao aproveitar o que iria para o lixo, a arquiteta reduziu o custo energético e ambiental da construção.

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Construção artesanalA terraplanagem forneceu material para os tijolos de solo-cimento, prensados no local. Simples, a técnica de misturar cimento à terra diminui resíduos e contou, neste caso, com um ingrediente especial: a mão-de-obra de jovens que participam de um programa de capacitação na construção civil.

Uso de itens descartadosGarrafas de vidro foram incrustradas em um nicho na parede. A invenção dá nova utilidade para peças descartadas e amplia a entrada de claridade na cozinha durante o dia. À noite, surgem pontos coloridos na fachada quando as luzes internas estão acesas.

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Jardim no telhadoPara manter a integração com o entorno, a arquiteta projetou um telhado vivo, que propicia ainda conforto térmico e isolamento acústico. A laje foi impermeabilizada com um polímero à base de mamona para, numa segunda fase do projeto, receber terra e se transformar em um jardim suspenso.

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Respeito à natureza desde o início do projeto Concebido por ONGs da região de Botucatu, SP, o Condomínio Tarumã foi criado com o objetivo de levantar fundos para reflorestar a mata às margens do rio Capivara. A fim de proteger a nascente, a administração do loteamento plantou 1,5 mil mudas de árvores nativas. “Decidi fazer um projeto coerente com a história do empreendimento”, conta a arquiteta Leiko Hama Motomura. No lugar de materiais industrializados, ela priorizou peças artesanais, como é o caso dos tijolos de solo-cimento e da estrutura de bambu. “Esse tipo de gramínea é uma alternativa à madeira, comparativamente mais sustentável porque tem crescimento rápido e manejo simples”, afirma. Durante a construção, o canteiro de obras funcionou como um laboratório, no qual Leiko experimentou receitas como a mistura de isopor descartado na argamassa. “Acredito que é preciso despertar toda a cadeia envolvida na produção dos materiais ecológicos. Com o tempo, teremos mais opções, mais qualidade e menor preço.”

Trama de bambuDestaque no projeto da arquiteta, o bambu foi empregado na fundação – em substituição ao ferro – e na estrutura das abóbadas como fôrma. A trama, além de servir de forro, conferiu beleza à cobertura. Abundante no Brasil, a gramínea funciona como uma alternativa à madeira.

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Tratamento antifungosDa espécie moso, o bambu chegou à obra cortado e foi defumado durante sete dias para evitar umidade, mofo e rachaduras. Para a queima, utilizou-se pó de serra de marcenarias da região. A fumaça produzida durante o processo foi condensada, e o líquido resultante, armazenado. “Ele pode ser usado como inseticida”, explica.

Idéias de reciclagemPedaços de isopor que demorariam quase uma década para se decompor na natureza foram acrescentados à argamassa que compõe as abóbadas. Latinhas de alumínio descartadas ficam à mostra na fachada sob a trama de bambu. No assentamento, empregou-se a mesma mistura.

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Fossa ecológicaO esgoto da casa é tratado em duas fases, com fossa séptica e filtro sedimentar. Ao final, o líquido é distribuído por canais e vai irrigar o pomar. Nenhum dejeto é lançado para fora do lote. Numa construção sustentável, a regra é resolver os problemas ambientais no próprio local.

Atenção com a águaNão depender de apenas uma fonte de abastecimento é outro princípio da sustentabilidade. Por isso, o projeto capta água em dois pontos. Coletada na cobertura, a chuva vai para a bacia sanitária e as torneiras do jardim. Já o poço artesiano do condomínio garante a água potável para os demais usos.

Apenas o essencialSem espaços ociosos, a casa exibe uma planta austera, com dormitório, sala de estar, cozinha, banheiro, lavanderia e garagem. O projeto foi concebido para evoluir conforme as necessidades dos moradores e uma futura ampliação não está descartada.

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