Concreto branco e cobertura plana marcam esta casa no Chile
Curvas ascendentes: primeiro projeto do japonês Toyo Ito na América Latina, esta casa nos arredores de Santiago estende, como num abraço, suas longas rampas ao redor do pátio. E convida a um percurso em espiral sem fronteiras entre dentro e fora. Abaixo, confira as fotos da casa e depois saiba mais detalhes do projeto.
Em 10 de outubro de 2009, a pequena cidade de Marbella, no Chile, recebeu centenas de visitantes que não estavam exatamente interessados em jogar golfe, o maior atrativo do lugar. A ocasião que chamou tanta gente foi nada menos que a inauguração de uma casa, com direito a uma conferência aberta de seu autor, o japonês Toyo Ito, seguida de uma visita guiada. No dia anterior, ele havia recebido do Colégio de Arquitetos do Chile uma distinção por sua obra e trajetória. A explicação por trás de todo esse alarde vai além da fama de Ito, forte candidato a, no futuro próximo, receber o Pritzker (maior prêmio mundial de arquitetura). O arquiteto projetou a convite do empreendimento Ochoalcubo, que vem escalando renomados profissionais para conceber 64 casas de condomínio em oito etapas de oito unidades. A primeira fase, já concluída, envolveu apenas chilenos, como Mathias Klotz e Sebastián Irarrázaval. A segunda, da qual o desenho de Ito faz parte, está em andamento e inclui, por enquanto, mais duas construções – uma do americano Rick Joy e outra do franco-chileno Guillaume Jullian (1931-2008).
A oportunidade veio ao encontro de um desejo antigo de Ito, o de voltar a dedicar-se a moradias. Me divirto propondo soluções para um espaço confortável. Outro aspecto agradável dos projetos residenciais é o curto período de desenvolvimento e construção, afirma o arquiteto, que nos últimos anos debruçou-se sobre a escala urbana com estádios, teatros, mediatecas e hospitais.
A White O, como ficou conhecida esta casa, foi comprada quando já estava em construção. Isso quer dizer que, no começo, Ito projetou para um cliente imaginário. Foi um pouco estranho, mas pude me inspirar nas outras unidades do empreendimento, diz. Além disso, acredito que a arquitetura do século 21 deva ser mais flexível e desobrigada de funções. Este é um refúgio de fim de semana, por isso produzi ambientes soltos, diferentemente do que se vê nas típicas casas de cidade, afirma. O pátio, segundo ele, é uma consequência dessa intenção. Quis criar um espaço em espiral que sugerisse uma aproximação com o interior sem perder a conexão com o lado de fora, explica. A busca pela contemplação e pelo prazer teve na implantação um forte aliado. Os lotes são enfileirados e muito próximos. Consciente dessa situação, o arquiteto aproveitou o aclive para elevar sua casa em relação às outras, observa Dana Buntrock, professora do departamento de arquitetura da Universidade da Califórnia em Berkeley, Estados Unidos, e autora de um ensaio no livro Toyo Ito (Phaidon). Assim, a privacidade está garantida sem que isso signifique reclusão ou confinamento. E o pátio se torna o ponto focal, uma linguagem recorrente da arquitetura contemporânea japonesa, conclui Dana.