Casa no sul da Bahia emprega parede de pau a pique
Detalhes rústicos dão um caráter único a esta morada: cubas talhadas em pedra e madeira propositalmente desgatadas, e o ponto alto da obra, paredes de pau a pique
Por Reportagem Deborah Apsan (visual) e Raphaela de Campos Mello (texto) | Design Júlia Blumenschein | Fotos Evelyn Müller | Ilustrações Fabio Flaks
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19 Jan 2017, 13h59 - Publicado em 12 Mar 2013, 20h44
Paredes de pau a pique, madeira envelhecida ou proveniente de demolição, cimento queimado, caiação… Impossível não se encantar com o jeito simples e original de construir típico do sul da Bahia. Tal fascínio inebriou o casal francês que comprou esta casa próxima ao Quadrado, charmoso reduto histórico onde se concentram as edifcações mais antigas do vilarejo. Antes uma cabana de pescador, a construção de duas décadas havia passado recentemente por uma reforma a fim de se transformar numa pequena pousada com quatro suítes – movimento que aconteceu com outras propriedades vizinhas e que, se feito sem cuidado, periga descaracterizar as antigas moradias originais de Trancoso. Nas mãos dos franceses, apaixonados pelo design da terra, a casinha teve a sorte de retomar sua vocação e converter-se em moradia outra vez, depois de uma reforma de quatro meses. “Basicamente, o desenho se manteve. Alteramos a disposição dos cômodos e inserimos novos materiais, tomando o cuidado de reaproveitar boa parte do que já existia”, diz a arquiteta Daniela Oliveira. Sócia do escritório Vida de Vila, estabelecido na cidade, ela tem experiência em gerenciar projetos calcados em técnicas e matérias-primas tradicionais, sem desperdício. “Algumas portas, janelas e vigas permaneceram nos devidos lugares; as madeiras em pior estado, como a do piso, deram origem a móveis”, conta a arquiteta, também instruída pelos clientes a evitar químicas. Daí a escolha pela pintura com cal nas paredes externas e pela tinta à base de água no interior.
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A mesma trama de eucalipto que sustenta o barro nas parede de pau a pique internas repete-se no guarda-corpo da varanda. Na fachada, a pintura mistura de cal e pigmentos nas cores marrom e preto. Projeto da arquiteta Daniela Oliveira.
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O balanço de madeira de demolição (Vida de Vila) ocupa o hall de acesso à escada de paraju. Erguida na área social para fechar um vão que expunha demais a casa, esta parede emprega pau a pique. “Trata-se de uma das primeiras técnicas construtivas implantadas no Brasil”, lembra a arquiteta Daniela Oliveira.
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O caminho que conduz à entrada: a pedido da dona, amante de fores e pássaros, o paisagismo feito pelo escritório Flora Nativa exala aromas diversos. “Ela solicitou um jardim denso, com aspecto selvagem, que se revelasse conforme se percorre a trilha de seixos brancos”, conta a arquiteta Daniela Oliveira.
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Atualmente, é feito com varas finas de eucalipto tratado fixadas com pregos galvanizados (antes, as varas de biriba, espécie nativa da mata Atlântica cuja extração foi proibida, eram apenas amarradas), formando um painel preenchido com argila. “À medida que a mistura seca, ganha o belo aspecto craquelado”, aponta Daniela Oliveira.
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Perto da piscina, construída durante esta obra, a área social inclui sala de TV, cozinha colada à churrasqueira – similar aos exemplares argentinos, que levam chapas de ferro de forno siderúrgico – e sala de jantar. O tanque foi revestido de placas de ônix da palimanan. “Assim, atendemos à preferência da dona por tons terrosos”, justifca a arquiteta Daniela Oliveira. O deck e a borda da piscina são de cumaru.
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As madeiras foram propositalmente desgastadas e, complementando a fachada, a trama de eucalipto serve de guarda-corpo na varanda. Projeto da arquiteta Daniela Oliveira.
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Detalhes rústicos como cubas talhadas em pedra e madeira e ferragens envelhecidas dão um caráter único a esta morada que respeita o jeito simples e original de construir do sul da Bahia. Projeto da arquiteta Daniela Oliveira.
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Ao resgatar técnicas construtivas que remontam ao período colonial, esta reforma enaltece as matérias-primas típicas do sul da Bahia e a riqueza da arquitetura local, como a parede de pau a pique (ao fundo). Projeto da arquiteta Daniela Oliveira.
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A mesma trama de eucalipto que sustenta o barro repete-se no guarda-corpo da varanda. Projeto da arquiteta Daniela Oliveira.
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A antiga pousada contava com uma suíte no piso superior e mais três no térreo. Hoje, há três em cima (duas delas com varanda) e outras duas embaixo. Além de rever a distribuição dos quartos, a reforma setorizou a planta, dedicando a parte de trás aos ambientes de serviço (lavanderia, depósito, rouparia e cozinha funcional). Projeto da arquiteta Daniela Oliveira.
Aprenda a fazer uma parede de pau a pique neste passo a passo.