“Quando decidi deixar a cidade grande e me mudar para uma ecovila [pequena comunidade focada na preocupação com o meio ambiente e em uma convivência social harmoniosa] no interior de São Paulo, me perguntei: que tipo de lar pode refletir os meus ideais de uma vida em sintonia com o planeta? Em vez de priorizar linhas arquitetônicas, optei pelo prazer de fazer a minha própria morada, tal como um joão-de-barro. O conceito do projeto, de 150 m², nasceu com a ajuda da arquiteta Lara Freitas, que orientou a montagem da estrutura de eucalipto de reflorestamento, além da construção da fundação e da cobertura. Com esse esqueleto em pé, abracei o desafio de levantar as paredes de vedação aos poucos, em mutirões com amigos e vizinhos. Usamos diversos materiais e técnicas de bioconstrução: toquinho, adobe, tijolo ecológico, pedra e outros. Também implementei sistemas de captação e tratamento de água, telhado verde… E lá se foram cinco anos de obra! Tempo demais? Penso que mais importante do que ver a casa pronta foi participar desse processo.” Giuliana Capello, jornalista
Saiba mais: vídeo mostra o processo para construir uma parede de pau a pique
-
1.
zoom_out_map
1/14
Com esta técnica de construção de paredes, chamada cordwood, foi possível aproveitar sobras da madeira usada na estrutura, evitando a geração de entulho. As toras foram serradas com 25 cm de comprimento, o que determinou a espessura da divisória. Os diâmetros diferentes garantiram um visual bem orgânico.
-
2.
zoom_out_map
2/14
A massa leva três partes de terra argilosa, uma de areia, uma de cal, uma de serragem, fermentada em água por sete dias, e uma terça parte de cimento. Para a finalização, adiciona-se água até chegar à consistência de argila de modelar. O assentamento pede paciência: a cada 70 cm, é preciso esperar a secagem total da massa.
-
3.
zoom_out_map
3/14
Materiais de demolição estão por todos os lados: é o caso do piso de peroba do quarto, que ganhei de um amigo, bem como de portas, janelas e absolutamente todos os vidros – as aberturas das paredes foram determinadas pelo formato das placas que consegui garimpar em depósitos.
-
4.
zoom_out_map
4/14
Como os tons terrosos formam a base da ambientação, pude brincar com cores alegres nos acessórios, a exemplo da colcha (Mandala, Etna, R$ 169,90) e do panô indiano – presente da minha irmã –, que enfeita a entrada do dormitório.
-
5.
zoom_out_map
5/14
Na cozinha, uma ideia de reaproveitamento conta um pouco da história da construção da casa: os módulos de madeira que apoiam os porta-temperos são, na verdade, as fôrmas usadas na confecção dos tijolos de adobe. E não pense que elas foram aposentadas de vez: basta alguém precisar de um empréstimo para a duplinha voltar à ativa!
-
6.
zoom_out_map
6/14
A mesa de refeições (1,80 x 1 x 0,80 m*) e os banquinhos (31 x 33 x 45 cm) foram comprados prontos, mas são de peroba-rosa de demolição. Da Vilarte, custaram, respectivamente, R$ 1190 e R$ 190 cada. Argamassa e reboco também foram feitos à base de terra crua – outra possibilidade seria dispensar o segundo, deixando os tijolos à vista.
-
7.
zoom_out_map
7/14
O friozinho típico da região ditou decisões importantes como o posicionamento do quarto na face norte, que recebe maior incidência solar. Como acabamento,a parede ganhou duas demãos de cal para pintura, em uma mistura que ainda leva água e cola branca. E, somente do lado externo, recebeu a cobertura de um hidrorrepelente para proteger da umidade.
-
8.
zoom_out_map
8/14 (Reprodução/Casa.com.br)
No banheiro, cacos de cerâmica, recolhidos de construções vizinhas, viraram matéria-prima para o mosaico que decora a bancada, feita de restos de madeira. No lugar de uma cuba tradicional, instalei um tacho de fritar pastel, adaptado com um furo no centro – e não é que deu certo?
-
9.
zoom_out_map
9/14
A convenção da nossa ecovila exige que cada morador tenha seu próprio sistema ecológico de tratamento de esgoto. Para as chamadas águas negras (de bacias sanitárias), construí uma estação mais complexa. Para as águas cinzas (de chuveiros e pias), no entanto, bastou uma estação de tratamento tão pequena como surpreendente: um tanque com plantas. Instalado no jardim, ele foi impermeabilizado e preenchido com pedras, areia, terra fértil e pés de taioba – a espécie de folhas largas consome a água suja, filtra as impurezas e devolve o líquido limpo ao meio ambiente por meio de um processo semelhante à nossa transpiração, sem risco de contaminação do solo ou da nascente próxima ao meu terreno.
-
10.
zoom_out_map
10/14
Chamada tijolo de solo-cimento ou ecológico, esta versão é mais sustentável do que a convencional. O motivo principal: apesar de também ser industrializada, ela não passa pela famigerada etapa da queima em fornos. Para o assentamento, usa-se quase nada de argamassa. O design do produto possibilita o encaixe entre as peças – se lembrou do Lego? É parecido! –, o que torna a obra extremamente limpa, rápida e econômica.
-
11.
zoom_out_map
11/14
Após irrigar o telhado, a água da chuva é captada por tubulação e armazenada em um dos conjuntos de cisternas, que ficam na parte mais alta do terreno – é com esse recurso que rego todo o jardim. O outro trecho do telhado, com telhas cerâmicas, dispõe de calhas para receber a água da chuva e encaminhá-la até o segundo conjunto de cisternas, que abastece toda a casa: chuveiros, bacia sanitária e pias de banheiro e lavanderia. Somente a torneira da cozinha recebe a água cristalina da nascente local, reservada para
beber e cozinhar.
-
12.
zoom_out_map
12/14
Para compensar parte da área do terreno que foi impermeabilizada com a obra, metade do telhado foi preparada para abrigar uma cobertura verde. O sistema tem fácil execução e custo viável: sobre a base de madeira, instalei primeiro uma manta asfáltica, que impermeabilizou a superfície; em seguida, vieram lona plástica, cerca de 10 cm de terra fértil e grama. Como resultado, a construção ainda ganhou eficiência térmica, ficando fresca no verão e agradável nos dias frios. Além disso, o teto vivo é um atrativo e tanto para a fauna, favorecendo a integração da casa à paisagem.
-
13.
zoom_out_map
13/14
No alto, o encontro das duas águas do telhado tem aberturas (de 1 m de altura) para privilegiar a entrada de luz natural, dispensando o uso de lâmpadas durante o dia em todos os ambientes da casa. Garrafões de vinho, adquiridos de um catador de materiais recicláveis da cidade, foram assentados inteiros com argamassa de cimento e o fundo virado para o interior da construção. Dessa forma, quando o sol bate nas garrafas, o que se vê é um colorido e divertido vitral.
-
14.
zoom_out_map
14/14
Além das cachorras Naná (foto) e Sofia, a jornalista Giuliana Capello costuma receber outros convidados ilustres em sua varanda. Um dia, um tico-tico fez ninho entre as flores; em outro, uma andorinha machucada resolveu aparecer – e acabou adotada pelo outro passarinho! ”Essas experiências de natureza pulsante são comuns por aqui“, resume Giu.
Cordwood: toquinhos dão ar da graça
– Com esta técnica de construção de paredes, chamada cordwood, foi possível aproveitar sobras da madeira usada na estrutura, evitando a geração de entulho.
– As toras foram serradas com 25 cm de comprimento, o que determinou a espessura da divisória. Os diâmetros diferentes garantiram um visual bem orgânico.
– A massa leva três partes de terra argilosa, uma de areia, uma de cal, uma de serragem, fermentada em água por sete dias, e uma terça parte de cimento. Para a finalização, adiciona-se água até chegar à consistência de argila de modelar.
– O assentamento pede paciência: a cada 70 cm, é preciso esperar a secagem total da massa.
Adobe: memória de outros tempos
– Aproveitar o solo do próprio terreno para fazer tijolos artesanais era comum no período colonial. Hoje, é uma bela maneira de tornar a construção sustentável, pois elimina o impacto ambiental gerado pelo transporte do material da fábrica à obra.
– A receita do adobe consiste em juntar terra e palha em proporções semelhantes, acrescentando água e amassando a mistura até que ela se torne moldável – essa tarefa é, tradicionalmente, realizada com os pés.
– Depois de pronta, a massa é colocada em moldes, onde adquire o desenho dos blocos. Desenformadas, as peças são postas à sombra para secar naturalmente, sem a necessidade da queima em fornos, que prejudica o meio ambiente.
– Argamassa e reboco também foram feitos à base de terra crua – outra possibilidade seria dispensar o segundo, deixando os tijolos à vista.
– Como acabamento, a parede ganhou duas demãos de cal para pintura, em uma mistura que ainda leva água e cola branca. E, somente do lado externo, recebeu a cobertura de um hidrorrepelente para proteger da umidade.
Tijolinho também pode ser verde
– Chamada tijolo de solo-cimento ou ecológico, esta versão é mais sustentável do que a convencional. O motivo principal: apesar de também ser industrializada, ela não passa pela famigerada etapa da queima em fornos.
– Para o assentamento, usa-se quase nada de argamassa. O design do produto possibilita o encaixe entre as peças – se lembrou do Lego? É parecido! –, o que torna a obra extremamente limpa, rápida e econômica.
– Cada tijolo conta com dois furos, através dos quais é possível embutir a fiação elétrica e as tubulações hidráulicas, reduzindo a geração de entulho com a quebra de partes das paredes prontas. Além disso, os furos permitem a construção de colunas estruturais: basta preenchê-los com vergalhões de ferro e concreto.
– Para o acabamento, pode-se escolher entre usar reboco ou manter os tijolinhos à vista, como na superfície ao lado. Eis a receita da tinta artesanal: cal de pintura, água, cola branca e pó xadrez nas cores azul e preto. Para conquistar o efeito jeans, foi só aplicar a mistura com pinceladas irregulares.
Largura x profundidade x altura.
Preços pesquisados em 15 de maio de 2014, sujeitos a alteração.