Carlos Drummond de Andrade: veja fotos de sua casa da infância
O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade passou seus primeiros anos de vida em uma espaçosa casa em Itabira
A casa em que Carlos Drummond de Andrade passou seus primeiros anos de vida fica na Penha, em Itabira – cidade citada em tantas de suas obras. É um solar, construído no século XIX, em estilo colonial mineiro. Tem 32 cômodos e um jardim interno, com canteiros em forma de estrela e meia lua. Em 2004, o casarão foi restaurado. Carlos Drummond, uma dos mais reconhecidos poetas do Brasil, nasceu em 31 de outubro de 1902 e morreu aos 85 anos, em 1987.
Confira abaixo três poemas do poeta:
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
– Psiu… Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro… que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé
Alguma Poesia (1930)
LIQUIDAÇÃO
A casa foi vendida com todas as lembranças
todos os móveis todos os pesadelos
todos os pecados cometidos ou em via de cometer
a casa foi vendida com seu bater de portas
com seu vento encanado sua vista do mundo
seus imponderáveis
por vinte, vinte contos.
Em Boitempo (1968)
Casarão Morto
Café em grão enche a sala de visitas,
os quartos – que são casas – de dormir.
Esqueletos de cadeiras sem palhinha,
o espectro de jacarandá do marquesão
entre selas, silhães, de couro roto.
Cabrestos, loros, barbicachos
pendem de pregos, substituindo
retratos de óleo de feios latifundiários.
O casarão senhorial vira paiol
depósito de trastes aleijados
fim de romance, p. s.
de glória fazendeira.
Menino Antigo (Boitempo II) (1973)