Apartamento de 80 m² personalizado com móveis reaproveitados e cor
A morador se inspirou em Frida Kahlo para pintar as paredes do apê e dar novos usos aos móveis velhos.
Por Texto Simone Serpa (BA) | Fotos Xico Diniz (BA)
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20 Dec 2016, 15h48 - Publicado em 20 Jul 2012, 19h48
Quando fala em decoração, esta designer de interiores parte de três premissas: sustentabilidade, identidade e cor. E o endereço que divide com Catarina, sua filha de 25 anos, traduz cada um desses valores. Para adaptar a seu gosto o apartamento antigo comprado há pouco mais de um ano, Valentina abriu a saleta de jantar para a sala e caprichou na pintura das paredes. No mais, usou a criatividade para compor os espaços. Quase tudo foi garimpado em brechós, trocado com clientes ou encontrado na rua. O talento para a reciclagem ajudou a dar acabamentos novos e usos inusitados a móveis velhos. Sua inspiração? A artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954). “Admiro as combinações ousadas dela, às vezes exageradas. Eu não conseguiria viver em ambientes sem cor, sem vida”, diz.
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Mesmo sendo fã do colorido, Valentina alerta: cores em excesso cansam, por isso a necessidade de dosá-las. Na sala, o primeiro tom eleito foi o cinza, presente em paredes que formam um L. “Ele dá uma sofisticação que o branco não daria.” A mesinha azul é outro item personalizado. Sobressai ao lado do sofá usado, coberto por uma capa branca, exceto pelo encosto, de chenile bege. “Mesclando os acabamentos, dá mais peso e chama a atenção para as almofadas”, opina a moradora.
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À frente da parede cinza – e contrastando com ela – comparece o rack amarelo adaptado de um bufê chippendale, estilo de mobiliário nascido na Inglaterra do século 18. Cortado, restaurado e laqueado, o móvel ainda recebeu espelhos em portas e gavetas (uma peça semelhante vale R$ 1200 no Atelier Valentina Rocha). Obras de arte se somam à ambientação, como os colares decorativos de João Climaco e a tela de Menelaw Sette (foto acima). Tinta acrílica cinza Caviar, ref. R398, da Suvinil. Rio Vermelho Tintas, R$ 81,45 o galão
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Parte de uma extensa divisória foi ao chão, tornando visível a saleta de jantar e a cozinha. Já o trecho que restou, com 2,30 m de largura, teve sobrevalorização: tornou-se um painel decorativo, coberto de bolas vermelhas, de 50 cm de diâmetro. “Fiz um molde de papelão, desenhei as circunferências na superfície e as preenchi”, explica a moradora, que lançou mão de trincha para realizar o serviço. O medo de misturar estilos não tem vez neste apartamento, como denunciam as peças encostadas na parede estampada. As cadeiras com assento de couro pirografado trazem as características do chippendale (mesmo estilo do rack amarelo), enquanto o móvel com função de cristaleira tem toda a ornamentação do manuelino português do século 19. Em geral, exemplares manuelinos são escuros, mas não aqui. “Optei por clareá-lo com a técnica do estonado, que contrasta com a laca certinha dos outros itens”, conta Valentina, que ensina a reproduzir o acabamento. “O segredo é usar cera ou parafina nas partes em que se quer ter um efeito desgastado”, afirma. “O processo é o seguinte: lixe, passe cera nos pontos que desejar, pinte com acrílico fosco e, por fim, lixe novamente para que a tinta se solte dos locais encerados.” Os castiçais de família, feitos de ferro e bronze, passaram por outro tratamento: foram envelhecidos com um tipo de cera pigmentada (Pasta Metálica Ouro, da Mural Color) e pintados com spray na cor ouro (Colorgin Metallik Interior). Tinta acrílica vermelha Cereja, ref. R242, da Suvinil. Rio Vermelho Tintas, R$ 98 o galão
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A saleta de jantar (2,10 x 2,10 m), antes imprensada pela cozinha e pela sala, adquiriu importância ao integrar-se à área social. Para evitar mais despesas, a designer acabou mantendo o piso cerâmico e destacou-o com uma passadeira pequena, que não atrapalha a movimentação das cadeiras. Adornos de madeira, tonalizados com a delicada técnica de pátina provençal, incrementam este canto. Um deles é o bandô entalhado que forma um arco no caminho para a cozinha. Outro é o espelho junto à mesa: a moldura era uma cabeceira de cama de solteiro, à qual Valentina emprestou nova função.
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Na parede da sala de jantar, fica a querida coleção de receitas culinárias de amigos e parentes. “Escolhi as minhas preferidas para expor”, afirma a moradora, que aproveitou molduras de todos os tipos para enquadrá-las. Há peças lisas, trabalhadas e coloridas, que fazem parceria com bandejas!
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Quase nada foi modificado na área de 80 m² Apenas uma parede separa as entradas social e de serviço, dispostas lado a lado no hall do andar do edifício (1): bem típico de apartamento antigo! Valentina fez uma única alteração na planta: demoliu a parte central (2) do paredão que isolava os dois banheiros (nas extremidades) e a saleta de jantar. Com isso, integrou visualmente as alas íntima e de trabalho. Um dos trechos restantes dessa divisória é o que recebeu a pintura de bolas vermelhas (3).
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Já que a área de preparo de refeições é vista até do estar, nada melhor que coordenar os ambientes. Assim, um vermelho muito próximo ao do painel de bolas foi destinado à parede principal da cozinha, revestida de azulejos brancos, agora cobertos por tinta epóxi à base de água (Novacor Epóxi, da Sherwin-Williams). O tom quente fez boa parceria com a madeira dos armários existentes e com o inox da geladeira. Próximo ao fogão, a moradora guarda livros de receitas e exibe seu galo de louça, uma pista de que a culinária portuguesa está entre as prediletas.
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Jarras e açucareiros velhinhos conquistaram visual pop na cozinha após um banho de cor. Como são metálicos, foi preciso aplicar fundo preparador para metal (oferecido por várias marcas) antes de passar tinta automotiva amarela, vermelha e azul.
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A cama de estilo chippendale de Catarina estava abandonada na rua quando sua mãe reparou na relíquia e resgatou-a. Ficou um charme depois de receber pátina provençal e, somente na moldura da cabeceira e dos pés, o spray amarelo Colorgin Uso Geral Premium, que ressaltou o entalhe na madeira. A pintura completa em um móvel parecido custa R$ 300 no Atelier Valentina Rocha. A mesa de cabeceira e o espelho reviveram com a aplicação de retalhos, formando um belo patchwork. “O trabalho de colagem é único. É impossível montar duas composições iguais”, explica a decoradora.
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Nada de marcenaria planejada: o mobiliário que, em outras casas, ninguém espera encontrar no banheiro, aqui é natural. É o caso do criado-mudo de feitio manuelino, que fazia dupla com a cristaleira da sala e, agora, apoia vidros de perfumes e a frasqueira com itens de higiene. Remédios e outros produtos de uso pessoal ficam guardados no curioso gabinete art nouveau, laqueado de vermelho para se destacar no espaço neutro. Os espelhos de madeira, acima da pia, sobraram de uma velha penteadeira reformada para uma cliente. Como a única janela do banheiro volta-se para o interior do prédio, Valentina priorizou sua privacidade e cobriu o vidro de tecido. Escolheu uma estampa zebrada, “para brincar um pouco com o visual dos móveis e dar uma cara diferente ao cômodo”, conta. As plaquinhas de madeira com imagens de mulheres nuas são da década de 20 e foram garimpadas em uma das andanças em busca de matéria-prima para reciclar. Têm a mesma origem as pequenas molduras de bronze, que foram pintadas de branco e ganharam espelhos.