Tatuapé: no coração da zona leste

Junto ao sucesso imobiliário do Jardim Anália Franco, cresceram os altos do Tatuapé

Por Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 dez 2016, 12h53 - Publicado em 15 nov 2006, 19h25

À direita da linha do trem, um pouco acima da Marginal Tietê, estão os altos do Tatuapé. Em poucos anos, o pedaço passou por uma explosão imobiliária e ganhou a fama de área nobre da zona leste. A proximidade do metrô e do Shopping Anália Franco, sem contar o perfil abastado dos moradores, 50% das classes A e B, explicam o rápido crescimento. Condomínios e serviços de alto padrão se espalham pelo bairro, principalmente nos arredores das ruas Apucarana, Itapura e Tuiuti. Os carros importados que circulam por essas vias traduzem riqueza, fruto do trabalho na indústria e no comércio. À esquerda da linha do trem, o baixo Tatuapé passa por processo semelhante. Apesar do perfil mais eclético de moradores, os espigões sobem com avidez. “Houve um grande adensamento dos altos do Tatuapé e agora a expansão chega à outra margem da ferrovia”, analisa Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp). A região tem como trunfo a vista para o verde do Parque do Piqueri. Pólo de diversão da zona leste, o Tatuapé exibe comércio rico. “Temos de tudo: colégios, supermercados, bares e restaurantes”, conta a moradora Regina Trombini de Oliveira. O desbravador português Braz Cubas instalou sua fazenda no encontro do Rio Grande (Tietê) com o Ribeirão Tatuapé, em meados do século 16. Mas a antiga sesmaria só foi registrada a pedido do rico proprietário Mateus Nunes, em 5 de setembro de 1668. Essa é considerada a data da fundação do Tatuapé, área rural até o século 20. “As chácaras dominavam os quarteirões. Comprávamos verduras dos vizinhos”, lembra Genaro Iervolino, de 78 anos. Imigrantes italianos, portugueses, espanhóis e sírios povoaram o bairro, separado em duas partes pela linha do trem. O contato era mantido graças a três porteiras e à paixão pelo futebol. “Nasci no Parque São Jorge e não perdia os jogos de domingo no Corinthians. Quando moço, jogava no Rio Verde, um dos muitos clubes da várzea”, conta Genaro. As tecelagens e fábricas mudaram a cara do Tatuapé dos anos 1930 aos 1960. Os sobradinhos são herança da fase operária. Os anos 1970 trouxeram a Souza Cruz para a marginal Tietê e as transportadoras e metalúrgicas para Guarulhos, Itaquera, São Miguel e Penha. A avenida Radial Leste tornou-se rota obrigatória. Sem opção de moradia, um grupo de empresários do Tatuapé alavancou a verticalização na década de 1980. O bairrismo ajudou: os moradores buscavam um padrão residencial melhor, mas não queriam deixar a zona leste.

 

Positivos

Comércio variado

Opções de diversão

 

Negativos

Trânsito nas vias de acesso

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Fraca arborização

 

Tradição de família

A família de Edson de Oliveira sempre morou na Penha e passou cinco anos nos Jardins enquanto o apartamento da rua Itapeti – comprado na planta – ficava pronto. “Tenho raízes na zona leste. Meu pai, Alfredo Trombini, era dono de uma loja de couros na rua Antônio de Barros”, lembra Regina. Os três filhos do casal freqüentaram escolas no Tatuapé. “Gosto desse clima de interior, ando na rua e encontro ex-colegas”, conta Fernanda. Só o trânsito motivaria uma mudança. “Levo em torno de duas horas para chegar na USP”, diz Edson, professor-doutor na área de finanças.

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Atrás das ofertas

O casal Marcelo Cabral e Sandra, antes moradores da vizinha Mooca, rendeu-se à oferta de imóveis e se mudou para as redondezas em 1997. Sem precisar ir longe para se divertir, o casal transferiu sua agência de design de Moema para a rua Cantagalo, coração de Tatuapé. Vantagens: o trabalho ficou a um pulo de casa e o aluguel da sala caiu pela metade. A agitaç��o comercial do bairro acontece ao redor da Praça Sílvio Romero e se espalha por ruas como a Itapura, repleta de restaurantes, bares e lojas.

A população da Zona Leste têm fama de bairrista. Com a saída das fábricas, que marcaram o perfil original de ocupação do Tatuapé, a região que ficou conhecida como Altos do Tatuapé tornou-se ideal para imóveis de padrão elevado. Os investidores buscavam atender à demanda de industriais, empresários e executivos por moradias de luxo numa área próxima ao centro e, ao mesmo tempo, da Marginal Tietê, do Aeroporto de Guarulhos e das rodovias Presidente Dutra e Ayrton Senna, que levam às novas zonas de crescimento industrial. A profusão de pet shops, academias e clínicas estéticas em meio ao cenário coalhado de prédios novos indicam a vertiginosa transformação do bairro. Mesmo assim, o lugar ainda conserva a simpatia do interior. Quem passa por suas ruas bem desenhadas, vê moradores se cumprimentando nas calçadas. No Baixo Tatuapé, os empreendimentos atendem a um público de médio e alto padrão, muitos de bairros vizinhos. Mais próximo à Marginal e ao estádio do Corínthias, o local ainda conta ainda com uma torcida apaixonada.

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