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Melhore a relação com o dinheiro e economize

Especialistas explicam por que as mulheres têm dificuldade para economizar, investir e planejar o futuro

Por Melissa Diniz
Atualizado em 20 dez 2016, 21h48 - Publicado em 24 Maio 2012, 17h54
dinheiro

Nós, mulheres, adoramos gastar dinheiro, mas dificilmente conseguimos planejar nossa aposentadoria ou fazer uma aplicação rentável sem depender dos outros. E isso é um fato comprovado. Uma pesquisa realizada por uma seguradora norte-americana, em 2006, demonstrou que 90% das mulheres do país se sentiam inseguras sobre os próprios rendimentos e temiam perder tudo o que tinham conquistado.

Segundo escritora e apresentadora de TV norte-americana Suze Orman, autora de seis best-sellers sobre finanças, o principal motivo para isso é, de fato, uma questão de gênero: nossa natureza é dócil, frágil e maternal. Já o mercado financeiro é um terreno arenoso, onde é preciso certa dose de agressividade, característica essencialmente masculina.

Nada mais natural, então, do que deixarmos as contas e planejamentos futuros para eles. Para o psicoterapeuta junguiano Waldemar Magaldi, autor do livro Dinheiro, Saúde e Sagrado (ed. Eleva Cultural), faz parte da essência feminina dar mais importância aos relacionamentos interpessoais do que a questões da vida prática. “Por produzir o hormônio oxitocina em abundância, responsável pelos vínculos afetivos e amorosos, a mulher, instintivamente, é orientada a encontrar um provedor e está muito mais voltada para cuidar do matrimônio que do patrimônio”, afirma.

Essa substância também pode alterar nossa capacidade de tomar decisões financeiras. “A grande maioria das mulheres põe a família em primeiro lugar. Não é raro ver que, em uma lista de prioridades que inclua filhos, marido e irmãos, elas se coloquem por último”, afirma a psicóloga Eliana Bussinger, autora dos livros As Leis do Dinheiro para Mulheres e A Dieta do Bolso (ambos da ed. Elsevier/Campus).

“As mulheres cuidam até que muito bem do que costumo chamar de pocket money, dinheiro relativo às despesas diárias, semanais ou mensais da casa. O problema maior está associado à administração financeira de prazo mais longo, função que, historicamente, ficava a cargo dos homens”, afirma Eliana.

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É bem verdade que esse cenário se modificou rapidamente nas últimas décadas. Desde 1970, período do milagre econômico no Brasil, muitas mulheres vêm se tornando chefe de família, mas tal alteração ainda é recente para nós.

Essa é a opinião da psicanalista Márcia Tolotti, especialista em psicologia organizacional e do trabalho e autora do livro As Armadilhas do Consumo (ed. Elsevier/Campus). Para ela, a entrada tardia das mulheres no mercado de trabalho criou um consenso difícil de ser mudado. “Quando a cultura reforça uma situação, estabelece-se uma espécie de verdade. As mulheres foram tachadas de desconhecedoras das finanças e esse aspecto reverberou por décadas, tornando-se uma espécie de mantra”, diz.

Cabe a nós a ingrata tarefa de romper com esse paradigma ainda vigente e jogar por terra a carapuça de más investidoras.

Em suas pesquisas, Suze Orman constatou que as crenças pessoais e a religião podem também, em alguns casos, dificultar bastante o sucesso financeiro feminino. Muitas mulheres temem ser consideradas materialistas e egoístas quando enriquecem. Isso porque, diante de dilemas como aquele de comprar ou não o presente, elas optam por fazer uma reserva e investir no futuro. Mas, paradoxalmente, com a prosperidade vem a culpa.

A psicoterapeuta Lana Harari lembra que a influência cristã muitas vezes nos faz associar dinheiro a pecado, opondo a riqueza material à espiritual em ensinamentos como “é mais fácil um camelo atravessar o buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”.

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Assim como a religião nos influencia, a relação de nossa família com o dinheiro acaba se tornando uma espécie de padrão. Ou seja: todas nós herdamos um modelo financeiro de nossos pais e podemos decidir repeti-lo ou não.

Em alguns casos, o histórico familiar pode se tornar uma espécie de sina. Algumas pessoas se espelham na vida dos pais, o que as impede de conquistar sua realização existencial. Isso sem contar os modelos sociais femininos com os quais nos identificamos. A neurociência já comprovou que somos influenciadas por nossa mãe, avós e pela sociedade feminina em geral e acabamos nos comportando de modo semelhante.

Talvez por isso a relação feminina com o dinheiro tenha se tornado um fenômeno de massa: a maioria compra em demasia, não se prepara para a velhice, gasta mais do que pode com a casa e com os filhos e não acredita em sua própria capacidade de enriquecimento.

No que se refere ao consumismo, mais uma questão importante aparece: a pressão atual da moda e da beleza. “Infelizmente, muitas mulheres acabam cedendo a esse apelo mercadológico e consomem objetos para continuarem sendo objetos”, afirma o psicoterapeuta junguiano Waldemar Magaldi.

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