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Gratidão, jujubas e pipocas: um jeito simples de resolver problemas

O ho'oponopono, processo de resolução de problemas criado no Havaí, tem ajudado milhões de pessoas ao redor do mundo a se libertar de dificuldades.

Por Texto Keila Bis | Direção de arte Camilla Frisoni Sola | Design Luciana Giammarino | Ilustração Graziella Mattar
Atualizado em 14 set 2018, 10h47 - Publicado em 2 ago 2012, 19h08
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Há cerca de sete anos, um e-mail contendo um artigo de autoria do escritor americano Joe Vitale circulou por diversos países e causou euforia em boa parte das pessoas que o leram. Ele narra a história de um psicólogo havaiano chamado dr. Ihaleakala Hew Len, que trabalhou, na década de 80, num hospital psiquiátrico do Havaí em uma ala dedicada a criminosos portadores de doenças mentais. O lugar era conhecido na região tanto pelos horrores praticados por aqueles que estavam presos – estupradores, psicopatas e assassinos – quanto por outros fatos estranhos. Dizia-se que o local era tão desolador e degradante, que nem mesmo as paredes aceitavam nova pintura. Problemas elétricos e hidráulicos aconteciam com uma frequência surpreendente, assim como a rotatividade dos funcionários. Praticamente todos os dias os presos se agrediam ou atacavam algum membro da equipe clínica, e por isso passaram a ser acorrentados pelos tornozelos e pelos pulsos e impedidos até mesmo de tomar banhos de sol.

Até que um dia, após a entrada do dr. Len, o cenário começou a mudar. As paredes foram pintadas e mantiveram as novas cores, os funcionários pararam de pedir demissão e folgas, as quadras de tênis foram reformadas e, por incrível que pareça, os detentos passaram a jogar tênis com os próprios funcionários. Muitos deles não necessitavam mais de drogas pesadas para se acalmar e outros não precisavam mais ser algemados. Com os detentos reabilitados, a ala acabou sendo fechada.

O que mais surpreende nessa história, que num primeiro momento parece ser fruto de uma mente cheia de imaginação, é o fato de o dr. Len ter trabalhado por quatro anos nesse hospital sem nunca ter tido contato direto com os detentos. Ele permanecia boa parte do tempo em sua sala, não praticava nenhum tipo de terapia e nunca atendeu nenhum dos prisioneiros em seu consultório. Como era possível, então, que aquele quadro lastimável tinha se tornado algo mais parecido com um final feliz de filme hollywoodiano? O psicólogo contou o segredo dizendo que enquanto permanecia em sua sala olhava a ficha de cada um dos presos e dizia o seguinte a elas: “Eu sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Eu sou grato”.

Como foi criado esse processo

 

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Essas quatro frases compõem uma das principais ferramentas de um processo de resolução de problemas chamado Ho’oponopono Identidade Própria. Essa palavra de origem havaiana – ho’o = causa, ponopono = perfeição – significa corrigir o que está errado, curar o que está doente ou ainda arrumar o que está desarrumado.

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O processo foi criado pelos xamãs havaianos, os kahunas (guardiões do segredo), e praticado somente por eles durante muito tempo. No entanto, na segunda metade do século passado, ele começou a ser divulgado na Europa, Ásia, Austrália, Américas e Oriente Médio por uma descendente dos kahunas, a lapa’au (sacerdotisa) Morrnah Nalamaku Simeona. “Morrnah adaptou o ho’oponopono tradicional para os dias de hoje. Se antes ele era conduzido por um facilitador, um dos xamãs, agora é um trabalho que se faz individualmente”, explica o engenheiro Paulo Namurra, o único representante brasileiro autorizado pela IZI (entidade criadora do ho’oponopono, com base nos Estados Unidos). Namurra é também o responsável por coordenar as inscrições e a administração dos cursos de ho’oponopono que serão ministrados este mês pela primeira vez no Brasil.

 

Morrnah faleceu em 1991, na Alemanha, aos 78 anos de idade, mas deixou um importante discípulo vivo: o dr. Len, aquele que transformou a realidade do hospital psiquiátrico no Havaí. Juntos, eles trabalharam com grupos da Organização das Nações Unidas (ONU), da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), da Conferência Internacional pela Paz Mundial, com os Curadores pela Paz na Europa e muitas outras entidades importantes na luta pela paz mundial. Ela foi considerada Tesouro Vivo do Havaí em 1983 e o ho’oponopono é até hoje ensinado nas escolas públicas desse estado americano.

 

Além dos cursos ministrados pelo IZI, existe pouca literatura séria e confiável sobre o tema e como praticá-lo. A mais importante é o artigo escrito pelo próprio dr. Len intitulado “Quem Está no Comando” (disponível para leitura aqui). Em 2009, foi lançado o livro Limite Zero – O Sistema Havaiano Secreto para Prosperidade, Saúde, Paz, e Mais Ainda (Rocco) – do jornalista Joe Vitale com coautoria do dr. Ihaleakala Hew Len –, que rapidamente se tornou um best-seller. Ele narra os ensinamentos que o autor aprendeu sobre o processo com o próprio dr. Len e com os cursos do IZI.

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Como é a nossa mente subconsciente, nossa mente consciente, mente supraconsciente e a nossa inteligência divina

 

 

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Segundo o ho’oponopono, todos nós somos formados por quatro elementos: a mente subconsciente, a mente consciente, a mente supraconsciente e a inteligência divina. Na realidade, esse último elemento, que assume diferentes nomes dentro de cada religião, como Deus, Buda, Maomé, é o criador de tudo, o ser supremo que rege o universo.

 

Ainda de acordo com o método, todas as experiências ao longo da história de vida de cada pessoa se transformam em pensamentos que ficam se repetindo no subconsciente. Para resolver o que se passa nesse setor, entra em cena a mente consciente, ou seja, o intelecto – responsável pela solução de problemas –, que nos diz quais escolhas e decisões tomar a respeito de tudo o que se passa na mente subconsciente. “No entanto, já ficou provado que o intelecto é capaz de decodificar somente de 15 a 20 bits de informação por segundo dos milhões que ocorrem abaixo de sua percepção”, explica o dr. Len. “Além disso, estudos e pesquisas do cientista Benjamin Libet, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, Estados Unidos, mostram não ser a consciência a responsável por tomar as decisões. Diferentemente do que se pensa, as decisões são tomadas antes que a consciência tenha conhecimento dos fatos”.

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E o que acontece então se a consciência não sabe como analisar corretamente os pensamentos? Ela tende a ficar repetindo infinitamente tudo o que se passa na mente subconsciente. Por esse motivo, um turbilhão de pensamentos invade a mente a todo instante, causando estresse, medo e ansiedade. E é exatamente aí, nesse turbilhão, que as frases do ho’oponopono (Eu sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Eu sou grato.) entram em ação. “Quando repetimos apenas uma delas ou todas juntas, estamos fazendo um pedido, que se origina na mente consciente, à inteligência divina para transmutar esses pensamentos situados no subconsciente”, explica o dr. Len. Entenda-se por transmutar resolvê-los, acalmá-los, curá-los, tirá-los do estado negativo e passá-los ao positivo. Trocando em miúdos: como a mente vive em constante turbilhão, acabamos não tendo clareza sobre o que realmente desejamos e nossos pedidos ficam perdidos nessa bagunça. A repetição das frases é capaz de colocar ordem nessa confusão mental e, dessa forma, os pedidos são capazes de chegar de forma correta à mente supraconsciente, que os envia à divindade. “Na maioria das vezes, quando rezamos e os nossos pedidos não são atendidos, tendemos a crer que Deus não ouviu nossas preces”, diz o engenheiro Paulo Namurra. “Mas na verdade nossos pensamentos são tantos e tão confusos, ambíguos e repletos de ansiedade que não chegam até a esfera divina. Ao repetirmos aquelas frases, jogamos luz sobre os pensamentos e Deus torna-se capaz de ouvir nossas preces.”

 

Se tudo isso está parecendo muito difícil para você e trazendo ainda mais confusão mental, não tem problema. Nesse caso, basta entender como o ho’oponopono funciona na prática: primeiro, identifica-se o problema mentalmente e, em seguida, repetem-se as frases quantas vezes quiser (e lembrar) ao longo do dia, até o momento em que os pensamentos negativos saiam de cena.

Jujubas, pipocas e garrafa azul

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Além da repetição das frases, o ho’oponopono conta com outras ferramentas de resolução dos problemas:

Jujubas: comê-las, manuseá-las ou tê-las por perto ajuda a estar no lugar e na hora certos, onde e quando somente coisas boas podem acontecer.

 

Onda ou havaí: ver ou imaginar a onda e dizer ou pensar na palavra havaí (ha = respiração, wa = água, i = divindade) ajuda a manter o coração aberto para receber as respostas de Deus.

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Garrafa azul: encher uma garrafa de vidro dessa tonalidade com água da torneira ou do filtro e colocá-la por uma hora à luz do Sol ou sob uma lâmpada incandescente acesa é ótimo para limpar e purificar. Pode-se beber, cozinhar, colocar no ferro de passar roupa, enxaguar-se após o banho. Só não pode ser fechada com tampa de metal.

 

Pipoca: funciona como um solvente da raiva que as mulheres eventualmente sentem pelos homens e da crença de que elas estão sempre erradas e eles certos. O estouro da pipoca ilumina e transforma o que é denso e pesado em algo leve e de boa qualidade. Serve de talismã e também pode ser comida.

Resultados práticos e depoimentos

 

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“Isso nada mais é do que uma faxina na nossa cabeça”, sintetiza o agente de viagens Murilo Paes, de 61 anos, que mora em Salvador. “Quando comecei a praticar o ho’oponopono, dizendo ‘te amo, sou grato’ aos problemas que surgiam, mesmo sem saber ao certo do que se tratava, eu acalmei a minha mente e coisas maravilhosas começaram a acontecer.” Ele conta que certa vez havia solicitado uma reserva em um hotel para uma cliente por quatro dias, mas por um erro no sistema ela foi feita somente para dois. Como o hotel estava lotado, a mulher teria de sair antes do tempo previsto. “Como eu não tinha o que fazer, comecei a praticar o ho’oponopono e fui me acalmando. Passado pouco tempo, o gerente do hotel me ligou e disse que tinha conseguido um quarto para minha cliente.” Coincidência? De maneira nenhuma, para quem pratica o processo.

 

“Eu sofria de uma dor terrível no joelho, como se agulhas o espetassem. Fui a vários médicos e fiz diversos tratamentos, mas nada adiantou. Quando descobri o ho’oponopono, comecei a dizer ao meu joelho ‘eu te amo’ repetidas vezes todos os dias. A dor desapareceu há mais de três anos”, conta a professora aposentada Mara Udler, de São Paulo.

 

Para a psicóloga Márcia Nelia Garcia, de Brasília, o ho’oponopono a tirou de uma profunda depressão. “Eu desejava morrer, a doença desencadeou crises de anorexia e síndrome do pânico e eu não conseguia dormir nem mesmo com o auxílio de remédios fortes. Minha terapeuta me levou à praia e juntas fizemos o ho’oponopono durante vários dias. Eu não só me curei da depressão como consegui emagrecer 34 kg em cinco meses, algo que vinha tentando por mais de 20 anos.” Difícil entender? “Ninguém nunca vai compreender o processo por meio do intelecto, do mental. O importante é começar a praticar”, avisa Mara. Ao que Murilo Paes completa: “O ho’oponopono é muito fácil de fazer e muito difícil de explicar”.

Como é nossa responsabilidade no mundo

 

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Nesse sentido, não ter expectativas ou tentar controlar o que vai acontecer é um dos princípios do ho’oponopono. “Se a resposta vem da divindade, é ela quem sabe o que é melhor para nós”, avalia a terapeuta paulistana Magali Silvestre, adepta do sistema há sete anos. “Cabe a nós somente identificar o problema que nos aflige e repetir inúmeras vezes ‘sinto muito, me perdoa, te amo, sou grata’ ou qualquer uma dessas frases”, afirma Mara. Para os praticantes do ho’oponopono, o fato de não tentar controlar ou descobrir a solução do problema funciona como um calmante, um bálsamo para a mente. “É uma entrega, você começa a dizer aquelas palavras e a conversação mental para e a respostas começam a vir de forma surpreendente e inesperada”, conta o terapeuta Joubert Fernandes, de São Paulo, praticante do sistema há três anos.

 

A simplicidade e a facilidade de aplicação do ho’oponopono são fatores que causam estranhamento naqueles que conhecem o processo pela primeira vez. O dr. Len fala: “Just do it”, ou seja, somente repita as frases e aguarde pelo resultado. Um dos princípios básicos que rege esse processo diz também que todos nós somos 100% responsáveis pelo que acontece conosco e com os outros. Isso implica dizer que qualquer acontecimento, como ouvir no noticiário sobre um ataque terrorista no Oriente Médio, passa a fazer parte da responsabilidade da pessoa que viu, ouviu, provou, tocou, presenciou, enfim, que tenha experimentado o acontecimento de alguma forma. “Esse foi o grande obstáculo que encontrei ao estudar e praticar o ho’oponopono. Como eu poderia me responsabilizar por fatos que estavam acontecendo do outro lado do mundo somente porque eu os havia visto pela televisão?”, questiona o advogado Fernando Azevedo. “Com o tempo, eu percebi que isso é verdade, nós todos estamos interligados em uma grande teia, não há como fugir disso.”

 

Ainda de acordo com o ho’oponopono, a explicação para essa tese se deve ao fato de que todos os problemas, as experiências, as pessoas que surgem na vida de cada um são programas, pensamentos advindos do passado que atingem a todos. São, enfim, memórias registradas na mente subconsciente de experiências remotas. “E essas memórias são compartilhadas com todas as outras pessoas. Por isso, quando se detecta algo de ruim em alguém, é porque isso está em você”, explica o dr. Len. O processo deve ser, portanto, também praticado para purificar a mente das outras pessoas dizendo eu sinto muito, me perdoe, eu te amo, eu sou grato. “Quando se faz isso, o outro é purificado e os problemas o abandonam também.” Para o engenheiro Paulo Namurra, o ho’oponopono pode-se resumir da seguinte forma: “Ter amor e gratidão a tudo”. Agora, é só começar a praticar.

Faça um curso de ho’oponopono

 

São Paulo

Sábado, 18 de agosto, das 9 às 17 h.

Domingo, 19 de agosto, das 10 às 17 h.

Local: Hotel Golden Tulip Paulista Plaza (alameda Santos, 85).

 

Fortaleza

Sábado, 25 de agosto, das 9 às 17 h.

Domingo, 26 de agosto, das 10 às 17 h.

Local: Hotel Gran Marquise (avenida Beira-Mar, 3980).

 

Inscrições: www.hooponoponobrasil.com.br

Investimento: de R$ 310 a R$ 1 225 (depende da idade e se o inscrito já participou do curso).

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