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Dar risada faz bem ao corpo e à alma

Rir desperta os hormônios do prazer, fortalece o coração e as defesas do organismo, turbina a criatividade e ainda queima calorias

Por Raphaela de Campos Mello
Atualizado em 14 set 2018, 21h11 - Publicado em 30 Maio 2012, 14h04
risada

O riso é um “medicamento” 100% orgânico, gratuito e contagiante, idealizado pela fisiologia humana para ser consumido sem moderação. “Ele relaxa o corpo e a mente, fortalece as defesas do organismo, melhora a circulação e a pressão arterial e libera endorfina, hormônio que promove uma sensação de bem-estar geral”, afirma o médico e homeopata Eduardo Lambert, autor de A Terapia do Riso – A Cura pela Alegria (Pensamento). Quem ri pouco pode estar padecendo dos males provocados por uma doença chamada “déficit de alegria”.

Cardiologistas do Centro Médico de Maryland, Estados Unidos, comprovaram que a serotonina, neurotransmissor relacionado ao bem-estar, liberada pelo riso protege o coração contra infarto, trombose e acidente vascular. No Japão, cientistas ligados à Universidade de Tsukuba verificaram a queda da taxa de glicose em grupos de diabéticos convidados a assistirem apresentações teatrais cômicas. O ato de rir ainda se configura como a mais prazerosa das ginásticas. A cada 15 minutos de prática, queimamos 40 calorias, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Vanderbilt , nos Estados Unidos.

Para a química e cientista Conceição Trucom, autora de Mente e Cérebro Poderosos – Um Guia Prático para a sua Saúde Psíquica e Emocional (Cultrix), o ato de rir é um portal para o estado meditativo. “As pernas amolecem, o corpo balança e o pensamento para”, ela afirma. Melhor ainda se o impulso vier de dentro. “O chamado riso búdico começa na alma e depois se manifesta no corpo físico, sobretudo nos olhos, que passam a brilhar. É uma energia de elevada potência que nos acorda, nos torna presentes”, diz a autora.

E de fato, a imagem do Buda é a representação mais fiel do tal riso búdico. Só de olhar, ficamos mais leves. Mas se Buda foi um príncipe de porte físico notável, por que sua estátua ganhou uma pança? O motivo parece óbvio para o guru indiano Osho: “Como você pode dar uma gargalhada com uma barriga pequenininha? Tudo é reprimido na barriga. Assim, quando você ri de verdade, essa região do corpo vibra”, ele afirma no livro Vida, Amor e Riso (Gente).

Para os budistas, somente a quietude interior é capaz de desencadear o verdadeiro riso. “Quando o riso nasce do silêncio não é algo deste mundo; ele é divino”, diz o sábio indiano. Entre os mortais, o riso costuma ser reprimido, tanto pela vontade de agradar ao outro, como pela timidez e até normas de etiqueta. “Devemos partir para a reavaliação de nossos valores, visando ao descondicionamento de tantas mensagens hereditárias”, diz Eduardo Lambert.

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As mulheres são as grandes vítimas dessa repressão, revela a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2010, ela realizou a pesquisa intitulada A Cultura da Risada, com 125 homens e 125 mulheres. “A primeira pergunta da pesquisa foi: você ri muito ou pouco? Responderam ‘muito’ 84% dos homens, enquanto 68% das mulheres deram a mesma resposta. É uma diferença bastante significativa”, diz Mirian.

O estudo detectou que 60% das mulheres confessa que gostaria de rir mais. Mas o que nos impede de sorrir com mais frequência? “Os homens riem dos amigos e com os amigos, no trabalho, no bar, em situações diversas. Dizem que têm bom humor, que são bobos, descontraídos. As mulheres riem menos porque se preocupam com a autoimagem, com a postura profissional, com o que os outros vão achar e também por terem menos oportunidades para rir”, afirma a antropóloga.

Reaprendendo a sorrir

 

Homens e mulheres podem reaprender a rir com a ajuda de terapeutas especializados em risoterapia ou na terapia do riso. A indicação vale tanto para indivíduos contidos como para aqueles que estão atravessando uma fase difícil, incluindo quadros de depressão. Nesse caso, a terapia é complementar, ou seja, não exclui o tratamento convencional com psiquiatra.

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O riso proveniente do intelecto, como aquele disparado após ouvirmos uma piada, não é usado na terapia. O alvo é o aspecto lúdico da experiência. Num primeiro momento, a risada é induzida pelas terapeutas por meio de exercícios vocais, como a repetição do mantra “ho ho ho, ha ha ha”. “Esse som reflete-se no abdômen, ponto-chave da risada”, diz Ursula L. Kirchner , fundadora do Clube da Gargalhada, em Belo Horizonte. Nas sessões, individuais ou coletivas, também são sugeridas gargalhadas temáticas, como a do ônibus lotado, inspirada nessa situação cotidiana. “Seguramos na barra imaginária do veículo e trememos, balançamos o corpo de um lado para o outro. A graça aparece naturalmente e contagia o grupo”, afirma Mari Tereza Nascimento Vieira, outra fundadora do clube.

O corpo humano não sabe diferenciar o riso induzido do espontâneo. Portanto, vale a pena enganá-lo. “A reação neurofisiológica é similar, ou seja, o cérebro produz nos dois casos os chamados hormônios da alegria: endorfina, dopamina e serotonina”, diz Ursula. No entanto, dependendo do estado emocional do praticante, a gargalhada pode demorar a brotar.

A dupla, pioneira na América do Sul, manuseia uma arma bastante poderosa. Cada vez mais empregada não só em grupos terapêuticos como também em empresas mundo afora. “A terapia do riso melhora a autoestima e a autoconfiança, estimula a criatividade e a espontaneidade, rejuvenesce o espírito, relaxa o corpo e ainda nos ajuda a relativizar os problemas”, diz Mari.

 

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