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Crowdfunding: conheça iniciativas que utilizam esse financiamento

Tem gente usando a internet para arrecadar dinheiro e transformar em realidade boas ideias que estavam no papel. São os adeptos do crowdfunding. 

Por Texto: Marcel Verrumo
Atualizado em 14 dez 2016, 11h48 - Publicado em 18 out 2013, 17h36

O que vem à sua mente quando você pensa em ensino? Na minha – e certamente na de centenas de leitores –, aparece uma sala de aula onde um professor fala a dezenas de alunos. Essa cena me ocorre porque fui educado nesse sistema. Mas, para além dos muros das escolas, existem muitas outras formas de se transmitir o conhecimento: há instituições onde quem estuda é também o responsável pela manutenção do prédio, onde educadores e educandos moram na mesma casa e ainda uma em que os alunos gerem uma empresa enquanto se graduam.

Para mostrar esses diferentes modelos a mais gente, o educador Eduardo Shinahara, de São Paulo, convidou alguns amigos para viajar ao redor do mundo, conhecer 12 escolas não convencionais e transformar a experiência em livro. No grupo estavam o jornalista André Gravatá, a psicóloga Camila Piza e Carla Mayumi, sócia da empresa Box 1824. Com a ajuda de um doador anônimo e de uma empresa, o grupo reuniu o dinheiro de que precisava para ir até as primeiras escolas. Entre elas, a brasileira Politeia Escola Democrática, em São Paulo, famosa por dar aos alunos a possibilidade de decidirem o que irão estudar; o Schumacher College, na Inglaterra, onde comunidade e sustentabilidade são conceitos norteadores, daí os alunos serem os responsáveis pela limpeza e culinária da escola; e a Team Academy, no País Basco, onde os estudantes de administração abrem uma empresa na primeira semana de aula e cuidam dela nos quatro anos seguintes.

Feitas as viagens iniciais, veio o grande desafio: arrecadar a verba necessária para finalizar o projeto, o que incluía mais viagens, impressão de livros e uma campanha de divulgação da obra. “A gente também queria disponibilizar o livro gratuitamente. Se seguíssemos o caminho tradicional e publicássemos por uma editora, precisaríamos vender o livro”, conta Carla Mayumi. Surgiu, então, a ideia de reunir a grana usando um sistema pouco convencional: o crowdfunding (financiamento por uma multidão, em tradução livre). O conceito nasceu em 2010 nos Estados Unidos, quando ganhou a rede mundial de computadores. Mas antes de chegar à internet com o nome de crowdfunding, o financiamento coletivo já era prática comum usada pela filantropia e por artistas que queriam viabilizar um trabalho. O Programa Criança Esperança e o Teleton, por exemplo, arrecadam verbas por meio de pequenas doações feitas por muitas pessoas. Com a internet, o potencial apenas foi ampliado e transbordou por diferentes áreas. Só para ter uma ideia, o Catarse, maior site brasileiro de crowdfunding, viabilizou, nos dois primeiros anos de funcionamento, 419 projetos, angariando 4.809.042 reais. Funciona assim: qualquer pessoa que tenha um desejo – seja lançar um livro, um documentário, fazer uma viagem ou até abrir uma empresa – pode cadastrar o projeto num site de crowdfunding, estipular uma quantia de dinheiro necessária para viabilizá-lo e um prazo para essa verba ser arrecadada.

Eduardo Shinahara e seus amigos gravaram um vídeo no qual apresentam a ideia do livro Volta ao Mundo em 12 Escolas, cadastraram-no no Catarse e estabeleceram a marca de 48 mil reais em 40 dias. O internauta que assistisse ao vídeo e tivesse interesse em colaborar poderia doar de 10 a 10 mil reais. De acordo com o valor doado, ganharia uma recompensa, que iria de um adesivo à participação da pesquisa em uma das escolas. Um detalhe importante nos crowdfundings é que o usuário só tem o dinheiro debitado da sua conta (de fato) se o valor estipulado pelo projeto como um todo for alcançado, ou seja, se a meta não for atingida no prazo previsto, ninguém desembolsa grana alguma e o projeto não sai do papel. Geralmente, na página do projeto, os internautas podem acompanhar quanto falta para o projeto atingir o valor estipulado e conferir se o depósito foi liberado ou não. No caso do projeto das escolas ao redor do mundo, 566 apoiadores doaram mais de 56 mil reais (o mais comum é que a lista de doações fique aberta – sem o nome dos doadores – para que todo mundo possa checar quando se está arrecadando). Em contrapartida, a plataforma onde o projeto foi cadastrado, no caso o Catarse, fica com uma porcentagem do valor, cerca de 5%.

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Carla Mayumi conta que o grupo já gastou quase todo o dinheiro arrecadado, sobretudo com viagens, e agora está produzindo as recompensas aos apoiadores, palestrando para divulgar a experiência e preparando-se para o lançamento da obra, previsto para outubro. “Nosso sonho é levar esse conteúdo para professores e alunos de pedagogia. A primeira parte do projeto encerra quando lançarmos o livro. Mas pensamos em dar continuidade ao trabalho. Por exemplo, alguns livros impressos que serão vendidos terão o dinheiro revertido para um próximo passo, talvez até um próximo livro com mais escolas”, revela ela.

Parada de livro

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As universitárias Helena Aranha e Helena Nabuco também tinham uma ideia, mas – como é bem comum entre estudantes – não tinham grana. As duas lançaram o Parada do Livro, projeto com o qual reuniram por crowdfunding os 5.600 reais de que precisavam e, agora, o projeto já está ganhando as ruas. O que as estudantes queriam encantou 81 apoiadores e assim puderam disponibilizar nos pontos de ônibus de São Paulo estruturas para os usuários depositarem livros. A ideia é que as pessoas deixem volumes usados para outras lerem. “Não há nenhuma forma de segurança ou registro de quem retirou ou doou o livro: vamos oferecer a estrutura e incentivar que as pessoas simplesmente façam circular o conhecimento”, conta Helena Aranha. As dez estruturas orçadas começaram a ser montadas em pontos do bairro paulistano da Vila Mariana, em julho, em conjunto com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), onde elas estudam.

A hora do turismo sustentável

A plataforma do financiamento coletivo não alavanca apenas projetos da área de educação. No Catarse, há 30 categorias, que vão de arquitetura a web, passando por esporte, gastronomia e quadrinhos.

Em setembro, foi inaugurado no país um site voltado a uma nova área, a de turismo sustentável. O Garupa, como foi batizado, nasceu com a bandeira de ser uma organização sem fins lucrativos destinada a distribuir renda e preservar riquezas naturais e culturais do Brasil. “Buscamos associações e empreendedores queacreditam que o turismo pode melhorar a vida das pessoas daquele destino”, conta Demain Takahashi, diretor executivo da organização. Seu funcionamento é semelhante ao do Catarse: quem se identifica com a causa pode fazer uma doação e, se o valor estipulado é atingido, o projeto é financiado. Para este ano, a plataforma trabalha com dez projetos, dos quais três já estão no ar: um para melhorar o centro de visitantes da Associação Mico-Leão-Dourado (RJ), um voltado à compra de bicicletas para otimizar o turismo na Estação Gabiraba (PA) e, por fim, um para remodelar um roteiro turístico do Vale do Jequitinhonha (MG) e investir na arte cerâmica da região. No ar, os projetos correm contra o tempo para angariar apoiadores e, de grão em grão, saírem da web e virarem realidade.

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