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Aprenda a praticar a técnica de meditação vipassana

Treino mental ligado ao budismo theravada clareia os estados internos e as circunstâncias exteriores, desfazendo as distorções maquinadas pela mente.

Por Texto Raphaela de Campos Mello | Design Jackeline Dinizo
Atualizado em 20 dez 2016, 15h56 - Publicado em 13 jun 2013, 20h48
A meditação acalma a mente_01

Quanto mais límpida é a mente, maior o entendimento das coisase, portanto, mais felizes nos tornamos. Buda não só postulou essa máxima como delineou o caminho para sua plena realização: ameditação vipassana – “vi” significa clareza, “passana”, ver. Emoutras palavras, é a habilidade de enxergar tudo como é, ou seja,impermanentes, quer habitem o mundo interior, quer o exterior.A prática vincula-se ao budismo theravada, a mais antiga das escolasbudistas, engajada há mais de 2 500 anos na preservação dos ensinamentos originais de Buda.

Atenção e concentração são os pilares do método. Para refinar essasqualidades, usa-se a respiração como âncora. É ela que ajudaa fortalecer o foco para, depois, o praticante ter condições de observar com acuidade os fenômenos transcorridos no corpo e namente, tais como dores nas costas e nas pernas, incômodos comosonolência, torpor, agitação mental e distração, além da vontadede abandonar a prática e partir para as tarefas cotidianas, segundoCassiano Quilici, vice-presidente e cofundador da Casa de Dharma, centro de meditação budista theravada, em São Paulo. Um dos grandes méritos desse treinamento mental é o fato de ajudar o praticante a deixar de reagir automaticamente às circunstâncias, grande fonte de sofrimento. O começo é desafiador, pois a mente não está acostumada a fixar a atenção num único ponto – no caso, a respiração, que deveser solta, fluida. Pensamentos intrusos e excessivos dificultam aimersão. É natural. “Quando isso acontecer, traga a mente de voltapara o foco na respiração de maneira gentil mas firme, sem esquecerque lidar com certo desconforto faz parte do exercício”, ensina Cassiano, que acrescenta: “A vipassana fornece instrumentos para ver a realidade de maneira mais profunda. Por meio dela, passamos a perceber e a discriminar o que acontece a cada momento, além de cultivar estados mentais mais saudáveis, livres, serenos, luminosos”.

Com o tempo, assegura ele, os adeptos aprendem a receber o que chega sem julgamento, seja pensamentos, sensações, seja ideias. Também passam a compreender a natureza de certas atitudes cotidianas. Por exemplo, a intensidade do apego direcionado a certos objetos e pessoas, da agressividade, da ansiedade, dos pensamentos repetitivos, dos hábitos e padrões de comportamento perpetuados, muitas vezes, inconscientemente. A cientista social Cristina Flória, atual presidente da Casa de Dharma, se beneficia da autopercepção aguçada por décadas de prática. “A meditação gera distanciamento. A gente aprende a observar nossa conduta cotidiana, nossas emoções e projeções mentais, não se identificando com a raiva ou com a ansiedade, por exemplo, e sim compreendendo que elas são apenas criações mentais”, fala. Entre tantas descobertas egressas dessa sondagem interior aliada a estudos regulares dos textos budistas, Rafael Ortiz, médico ortopedista do Hospital das Clínicas, em São Paulo, destaca a tessitura de uma relação mais gentil consigo mesmo e com os outros, além da aceitação do fato de que a vida e os seres estão sempre se modificando. “Isso faz com que encaremos com leveza nossa falta de controle”, diz. Como toda maturação, tal aprendizado pressupõe a travessia de um caminho longo e gradual, mas que, em seu curso, fomenta o desabrochar da sabedoria. “A habilidade de perceber o que está implicado nos próprios desejos e impulsos libera o ser humano do sofrimento, fruto da ignorância, que se manifesta pormeio de um jeito distorcido de perceber as coisas”, afirma Cassiano.

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Procedimentos básicos

• Sente-se com a coluna ereta e as pernas cruzadas na posição de lótus ou meia lótus. Os olhos devem permanecer fechados ou semicerrados, o queixo paralelo ao chão e os ombros relaxados. As mãos podem repousar sobre o colo ou sobre os joelhos. Isso pode ser feito em qualquer lugar. Não é necessário estar diante de um altar ou da imagem de Buda. Na vipassana, não há música de fundo ou oração inicial. Basta fechar os olhos e mxar a atenção na respiração. Simples assim.

• Observe o nuxo da respiração de maneira geral ou o seu renexo noabdômen ou na entrada das narinas. A ideia é permanecer quieto, notando o ar entrar e sair do corpo.

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• Para começar, reserve de 15 a 20 minutos diários ou realize sessões de um minuto a cada hora. Essa segunda opção permite que a pessoa parcele a prática em diferentes locais e momentos do dia – no decorrer do expediente, no carro, antes ou depois das refeições –, desde que possa fechar os olhos e se concentrar.

Para saber mais

Confira três obras-chave relacionadas ao budismo theravada, publicadas pela Casa de Dharma. Interessados devem solicitar exemplares pelo e-mail casadedharmaorg@gmail.com. Plena Atenção à Morte – A Sabedoria Budista do Viver e Morrer, de Bhante Henepola Gunaratana, R$ 35. Os Quatro Fundamentos da Plena Atenção – Maha-Satipatthana Sutta, de Bhante Henepola Gunaratana, R$ 35. Superando a IIusão do Eu: Um Guia de Meditação Vipassana, de Yogavacara Rahula Bhikkhu. Versão online gratuita, disponível para download no site https://www.casadedharma.org.br.

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