Veja (ou melhor, escute) o pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza!

Pavilhão do Brasil traduz expressões idiomáticas em instalações lúdicas

Por Daniel Miyazato
8 Maio 2022, 19h00
Porta do pavilhão emoldurada por escultura de orelha gigante.
(Ding Musa/Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)

Jonathas de Andrade transformou o Pavilhão do Brasil na Bienal de Arte de Veneza 2022 em uma instalação divertida e imaginativa composta por partes maiores do corpo humano gigantes. Intitulada “Com o coração saindo pela boca”, a exposição se inspira em expressões populares brasileiras que se referem metaforicamente a partes do corpo humano como “nó na garganta”, “entrar num ouvido e sair pelo outro”, “olho da tempestade” entre outros.

Considerado um dos artistas brasileiros mais representativos de sua geração, Jonathas de Andrade idealizou o projeto a convite de Jacopo Crivelli Visconti, indicado pela Fundação Bienal como curador da representação do país na 59ª Mostra Internacional de Arte – La Biennale di Venezia.

Fotografia grande de uma onça-pintada de boca aberta no meio do pavilhão. Em frente a ela, jaz no chão a escultura de uma bunda.
(Ding Musa/Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)

“Esta comissão de Jonathas de Andrade olha para fora das peculiaridades da língua brasileira para abordar questões universais, criando imagens com as quais muitos visitantes internacionais da Bienal vão se identificar”, explica José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.

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“Com esta exposição, a Fundação Bienal reforça nossa missão de fomentar a arte brasileira e levar o que há de mais vibrante na produção artística do nosso país para os cantos mais distantes do globo.”

“Com o coração saindo pela boca” é composto por impressões fotográficas, esculturas, algumas interativas, e um vídeo. Uma das principais referências visuais de Jonathas de Andrade para a exposição vem de feiras de ciências que ele frequentava quando criança. Em especial, o artista relembra sua experiência de visitar Eva, uma gigantesca instalação de 45 metros de uma mulher reclinada construída em fibra de vidro e espuma que percorreu o Brasil na década de 1980, na qual os visitantes podiam entrar para conhecer o funcionamento do corpo humano.

O corpo humano como instrumento de representação do subjetivo

Recorte de um coração realista e dois braços negros. Como se estes segurassem o órgão, mesmo ele sendo desproporcionalmente grande.
(Ding Musa/Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)
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Os visitantes entram no Pavilhão do Brasil por uma orelha gigante e saem pela outra. No meio, eles encontram representações escultóricas de um olho no chão, uma língua mordida e decepada, mãos no fogo e costas quentes, entre outras partes do corpo humano. Todos eles traduzem expressões populares relacionadas a partes do corpo que descrevem sentimentos e situações.

“Existem centenas de expressões populares relacionadas a partes do corpo que descrevem sentimentos e situações”, observa Andrade. “Eles englobam o literal e o absurdo para dar conta da subjetividade, o que para este momento no Brasil é altamente revelador.

Usar essas expressões para falar da perplexidade do corpo brasileiro em relação ao presente em tantas instâncias – politicamente, socialmente, ecologicamente – me parece extremamente potente. As expressões desta coleção fornecem uma visão geral do panorama emocional nacional, por exemplo, ‘entrar por um ouvido e sair pelo outro’ e ‘partir o coração’.”

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Jonathas de Andrade dentro do Pavilhão do Brasil na Bienal de Arte de Veneza 2022.
(Ding Musa/Fundação Bienal de São Paulo/Divulgação)

“Hoje o caminho para ‘representar’ o Brasil, ou talvez apenas aludir a ele, passa inevitavelmente pelos corpos de quem vive, de carne e osso, nas agruras cotidianas, pelas violências e injustiças que se repetem ano após ano, década após década, século após século”, diz o curador Jacopo Crivelli Visconti.

“Um corpo literal e repetidamente fragmentado, silenciado, ignorado, despedaçado. Mas essas partes isoladas e objetivadas também transcendem o corpo, quando entra em jogo outro elemento estrutural desta exposição: a linguagem.”

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*Via Designboom

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