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Tira-dúvidas da obra: como corrigir e prevenir as fissuras?

Especialistas explicam as principais causas deste problema e dão dicas para solucioná-lo

Por Texto: Raphaela de Campos Mello
Atualizado em 9 set 2021, 13h14 - Publicado em 20 mar 2017, 15h51
Tira-dúvidas da obra: como corrigir e prevenir as fissuras?
Tira-dúvidas da obra: como corrigir e prevenir as fissuras?  (Foto: Evelyn Müller/)
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Trinca e rachadura são os nomes mais populares. Mas os engenheiros insistem que o correto é chamar de fissura aquela “cicatriz” que eventualmente brota em nossas casas. “Ela denota o alívio da tensão existente entre duas partes da construção, o que gera uma movimentação”, explica Ubiraci Espinelli, professor de engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Quando deparar com uma, saiba que você está diante de um sinal de alerta. “Assim como a febre é um sintoma de infecção, a fissura indica que alguma coisa está errada na edificação”, diz o engenheiro e perito paulista Roberto Massaru Watanabe. A marca pode ser superficial e, portanto, inofensiva – quando atinge a massa corrida ou a pintura. Ou então perigosa, chegando a comprometer a estabilidade da construção – quando afeta a alvenaria e, sobretudo, elementos estruturais: pilar, viga ou laje. Por isso, nem pense em fazer um diagnóstico. Somente um perito é capaz de determinar as causas e apontar as soluções. A vistoria deve ser minuciosa, já que uma série de motivos pode originar o problema (para evitá-los, o engenheiro deve dedicar atenção redobrada às fases de projeto e de execução). Confira a seguir os mais comuns.

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Mudança brusca de temperatura: os materiais aumentam e diminuem de tamanho em função da variação da temperatura. Logo, superfícies expostas tornam-se mais suscetíveis. As lajes de cobertura sem proteção térmica são as principais vítimas. “Ao dilatar, a laje empurra as paredes onde está apoiada. Esse movimento gera fissuras entre a parede e o teto”, afirma Ubiraci Espinelli. O isolamento térmico pode ser obtido com a instalação de uma manta, com a aplicação de argila expandida ou com a construção de um telhado com “colchão de ar” – canal de ar circulante – entre as telhas e o forro.

Variação hidroscópica: superfícies expostas a períodos secos e úmidos também são alvo, já que estão em constante retração e dilatação. O parapeito da janela conhece bem esse mal. “A água da chuva escorre para o lado e molha a região. Passado um tempo, ela seca. E isso se repete”, diz Ubiraci. Segundo ele, um parapeito mais comprido ou uma moldura ao redor da janela resolvem a questão.

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Proximidade entre dois materiais distintos: por apresentarem coeficientes de dilatação diferentes, dois materiais podem se separar quando ligados. Um bom exemplo é a parede de alvenaria encostada numa de concreto. Conforme varia a temperatura, cada uma reage à sua maneira, gerando fissuras que poderiam ser evitadas se existisse uma junta de dilatação.

Execução malfeita de reboco: se o pedreiro usa menos material do que deveria, atenção. “Ele está propiciando o aparecimento de fissuras”, avisa o engenheiro paulista Newton Montini Jr. Já a desempenadeira só deve entrar em ação quando a massa atingir o “ponto em aberto” – quando ainda está úmida, mas não encharcada. Tanto o reconhecimento desse momento quanto o correto preparo da massa (cuja receita varia conforme a localização da superfície e as condições climáticas) dependem da habilidade da mão-de-obra.

Sobrecarga: quando o peso da construção é superior à resistência de suas bases, os componentes estruturais dão sinal de alerta. Os pontos onde a madeira do telhado se apoia na alvenaria denunciam o excesso de peso e costumam acumular fissuras, segundo Ubiraci. Para evitar isso, contrate um bom engenheiro calculista.

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Recalque na fundação: “Se a base da construção for mal dimensionada, pode afundar na terra”, afirma Newton. A sondagem do solo, aliada à atuação de um engenheiro especializado em fundações, é fundamental para fugir desse tipo de erro.

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Atenção aos erros de projeto

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A trepidação da rua provocada pela passagem de veículos, uma reforma no vizinho, uma nova construção surgindo nas imediações, um prédio que começa a ser habitado e recebe o peso dos moradores e de sua mobília. Nenhuma dessas situações representa uma justificativa legítima para o surgimento de fissuras. “Uma casa executada de acordo com a boa técnica não deve apresentar esse tipo de problema”, afirma o arquiteto paulista Marcio Moraes. Segundo ele, quando um engenheiro projeta uma edificação, estuda o solo, a vizinhança, leva em conta a possibilidade de haver obras nas proximidades, respeita o intervalo de tempo (um mês) entre a confecção da estrutura e a feitura das paredes, enfim, cerca o projeto de cuidados preventivos. Portanto, fique atento se você recebeu um imóvel novo que começa a trincar. Para saber se a construtora tem responsabilidade – e, se for o caso, acioná-la na Justiça –, recorra à avaliação de um perito.

A dica é observar

Uma vez detectadas, as fissuras demandam observação. “Registrar o histórico do caso é fundamental para que o proprietário possa fornecer ao engenheiro, perito no assunto, as informações que o ajudarão a compor o diagnóstico”, ensina Ubiraci Espinelli. Qualquer semelhança com os procedimentos da medicina não é mera coincidência. Antes de fazer testes no local, o especialista precisa ser abastecido com o maior número de detalhes, a chamada anamnese. Portanto, esteja preparado para responder às seguintes perguntas: quando a fissura surgiu? Na época, algo aconteceu na residência ou na vizinhança? Qual é o tamanho? Ela está aumentando ou está estabilizada? Abre e fecha periodicamente? Para checar o comportamento do “machucado”, você pode cobrir o trecho com uma fita adesiva. Se ela descolar, é porque a fissura aumentou. Ou então pode medi-la de tempos em tempos com régua. A próxima providência é contratar uma vistoria, que pode demorar horas ou semanas. O custo vai depender da complexidade do problema. Descoberta a causa, o profissional prescreverá o tratamento. Mas a residência só receberá “alta” após um período de acompanhamento.

 

Mapeamento da casa

 

A posição da fissura e o lugar onde ela parece ajudam a indicar as causas e a gravidade do problema

 

Na estrutura: Chame um especialista. Se as trincas atingem elementos estruturais, consulte um perito o mais rápido possível. “Cada situação exige uma solução diferente. Em casos extremos, é preciso reforçar a estrutura”, afirma Newton Montini Jr. Na foto ao lado, a fissura tornou-se tão profunda que é possível ver o interior da viga.

Na alvenaria: Procure orientação técnica. Quando a trinca afeta a alvenaria, o reparo deve ser feito por um profissional. Ele irá preencher os vãos com massa corrida ou selatrinca – espécie de goma – e cobri-los com materiais flexíveis, a exemplo de fitas adesivas e de telas de náilon e poliéster. O fechamento leva argamassa, massa corrida e pintura.

Na pintura: Você mesmo pode arrumar. As fissuras superficiais deterioram apenas a massa corrida e a tinta. O proprietário pode fazer o conserto raspando a superfície, corrigindo-a com massa corrida e refazendo a pintura. “O importante é ter certeza de que a origem do problema desapareceu. Por exemplo, um vazamento que foi sanado”, alerta Ubiraci.

 

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