Neste sítio, o bloco pintado com o azul típico do país latino e as janelas mouriscas dialogam como se falassem a mesma língua. À inesperada fluência desses estilos tão diversos se somam muitos outros, numa miscelânea que é a cara do dono
Por Texto Marianne Wenzel | Produção Mayra Navarro | Projeto René Fernandes
Atualizado em 9 set 2021, 14h06 - Publicado em 10 fev 2016, 18h44
Completa após vários anos em obras, a casa somou dois novos blocos, além da piscina, a uma antiga cocheira. Um deles possui telhado convencional – com madeiramento antigo (Gigli Madeiras) e telhas de barro –, o outro usa estrutura metálica (Iron Logic) e telhas termoacústicas.
(Foto: Cacá Bratke/)
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Pense num arquiteto que, durante 25 anos de carreira, juntou sistematicamente materiais de construção e de acabamento – não importava o estilo, desde que exalassem beleza. “Se um cliente estivesse precisando de dez janelas de demolição e só achássemos um lote de 12, eu me apoderava das duas extras”, exemplifica René Fernandes. Assíduo participante da mostra Casa Cor, ele também se esmerou em retirar e acondicionar em lugar seguro elementos empregados nos ambientes temporários, bem como amostras de fornecedores. Sabendo dessa veia acumuladora, muitos amigos também lhe destinavam móveis antigos e objetos vintage. Resultado: René possuía um impressionante e eclético acervo com tudo de que uma casa precisa, de portas a luminárias. E ia estocando os achados, perdidos e presentes no sítio de sua família, no interior de São Paulo. “Fiz isso durante tanto tempo pensando em construir, lógico”, diz o inveterado colecionador.
Embora a intenção estivesse clara, o método para finalmente colocar seus preciosos guardados em uso seguiu os caminhos nada lineares da intuição. “Fui erguendo esta propriedade aos poucos, sem projeto formal, contando apenas com a ajuda de um pedreiro. Eu era o mestre de obras”, fala. O ponto de partida foi uma antiga cocheira, desenhada por ele nos anos 80 e já transformada num miniloft. Ainda com algumas de suas feições originais, ela passou a abrigar a cozinha e a sala de jantar, enquanto surgia, perto dali, uma torre destinada aos quartos, na qual René encontrou sentido para três janelas marroquinas.
Com a missão de unir os dois pedaços, chegou por fim o living, onde o tom é mais contemporâneo graças à cobertura metálica e à escada de concreto. Mas será que é isso mesmo? Ao olhar para o chão, vemos o ultrarrural piso de tijolo, que torna difícil cravar o estilo do espaço. “Realmente, fiz um patchwork sem saber ao certo o que esperar. Às vezes, me dava medo de estar errando a mão”, admite ele, bem-humorado.
Tão importante quanto o reaproveitamento foi a economia nos materiais novos – daí o tal piso de tijolo e as esquadrias simples. Nada que desandasse a receita desse verdadeiro x-tudo. “Não dá para preparar uma comida gostosa com as sobras da geladeira? Foi exatamente isso que tentei aqui”, conta ele, hoje tranquilo com relação ao gostinho do mexido, um refúgio que se reconhece em termos tão distantes quanto mexicano, marroquino, country e colonial.
1/31 O azul colore a parede da sala por onde se dá a entrada. A janela de demolição evoca as construções rurais, bem como o piso de tijolo, escolha surpreendente para os ambientes internos do térreo. O toque contemporâneo vem da escada de concreto. (Foto: Cacá Bratke)
2/31 Completa após vários anos em obras, a casa somou dois novos blocos, além da piscina, a uma antiga cocheira. Um deles possui telhado convencional – com madeiramento antigo (Gigli Madeiras) e telhas de barro –, o outro usa estrutura metálica (Iron Logic) e telhas termoacústicas. (Foto: Cacá Bratke)
3/31 “Até pensei em fazer um laguinho, mas aproveitei a chance para projetar uma piscina de verdade” conta o arquiteto René Fernandes. A tumbérgia em crescimento deixa entrever a estrutura do tanque de concreto, acomodado no caimento do lote. O berço recuado em relação às bordas, que se projetam em forma de taça, garante a leveza do desenho. (Foto: Cacá Bratke)
4/31 Na face voltada para a piscina, a cobertura metálica configura a varanda, em cuja ponta há um pergolado. Nele, a congeia, trepadeira selecionada pela paisagista Laila Fernandes, vai se encarregar da sombra. (Foto: Cacá Bratke)
5/31 Um canto de trabalho com vista para a piscina ocupa este lado do mezanino. Aqui, como no restante do andar, o piso mudou para madeira de demolição. Este ângulo também evidencia a face interna das telhas termoacústicas (Ananda Metais). (Foto: Cacá Bratke)
6/31 Antes de chegar à configuração atual, a construção funcionou como um miniloft, com quarto e cozinha. “Foi como tudo começou”, comenta René Fernandes. (Foto: Cacá Bratke)
7/31 Este trecho, projetado pelo arquiteto nos anos 80, era uma cocheira com duas baias. Hoje, uma delas abriga a sala de jantar e a outra, a cozinha. (Foto: Cacá Bratke)
8/31 Original da baia, a porta reconta a história desta casinha. Seus dois ambientes são os que mais assumem o jeitão de fazenda, até mesmo com troféus de caça, que o arquiteto guarda por terem pertencido a seu pai. (Foto: Cacá Bratke)
9/31 Na sala de banho, toda revestida de pastilhas de vidro (Vidro Real, ref. 120), o estilo volta a ser contemporâneo. Banheira da Vallvé e metais da Deca. (Foto: Cacá Bratke)
10/31 No quarto, nota-se o madeiramento antigo do telhado. Um certo clima de mil e uma noites está no ar, com a janela mourisca e o dossel. (Foto: Cacá Bratke)
11/31 Na entrada, as linhas retas e o azul intenso (Suvinil, ref. lápis-lazúli, E079) remetem à obra do mexicano Luis Barragán (1902-1988). (Foto: Cacá Bratke)
12/31 Janelas marroquinas (O Velhão) conferem romantismo ao bloco dos quartos. (Foto: Cacá Bratke)
13/31 Piso superior: 78 m²; Área total: 321 m²; Colaboradora do projeto: Adriana Rossi; Cálculo estrutural: Jairo Correa; Apoio técnico e mão de obra: Marcondes Ferraz Engenharia e SGTM Prime Construções; Paisagismo: Laila Fernandes (Foto: Cacá Bratke)
14/31 Ao contrário da casa, nascida de um projeto intuitivo, a piscina foi detalhada com rigor pelo arquiteto com sua sócia, Adriana Rossi. Trata-se de um tanque elevado de concreto. (Foto: Cacá Bratke)
15/31 Rica em confortáveis espaços de estar, esta porção do térreo se localiza sob o mezanino metálico. Ao fundo, vê-se a antiga cocheira. Tijolos forram todo o piso. (Foto: Cacá Bratke)
16/31 Xodó do arquiteto nos projetos que assina, a escada de concreto dá o tom contemporâneo do living. (Foto: Cacá Bratke)
17/31 Marca registrada dos ambientes internos da construção, o piso de tijolo não poderia faltar na varanda. (Foto: Cacá Bratke)
18/31 Revestida de pastilha de vidro reciclado da Vidro Real (verde floresta, ref. N22), a piscina reforça a ligação visual com o jardim. (Foto: Cacá Bratke)
19/31 Um caminho de tijolos interliga a varanda ao deck de cumaru junto à piscina. (Foto: Cacá Bratke)
20/31 Exclusivo para o site (Foto: Cacá Bratke)
21/31 Esta vista para o jardim, uma das preferidas do arquiteto, mostra a relação da piscina com o jardim: ambos ficam no mesmo nível, embora o tanque esteja num declive. (Foto: Cacá Bratke)
22/31 Nesta ponta do estar, também sob o mezanino metálico, o cinza domina nas paredes. Dois grandes nichos da alvenaria fazem as vezes de estante. (Foto: Cacá Bratke)
23/31 O azul da fachada invade a sala, colorindo a lateral com pé-direito duplo. Nela, encontra-se a passagem para a antiga cocheira. (Foto: Cacá Bratke)
24/31 O lado da sala voltado para a piscina possui grandes aberturas tanto no térreo quanto no mezanino. (Foto: Cacá Bratke)
25/31 Os degraus ganharam pisadas de granito cinza andorinha, material de bom custo-benefício. (Foto: Cacá Bratke)
26/31 O corredor que leva à sala de jantar e à cozinha, na antiga cocheira, tem pisos de placa cimentícia (Solarium). (Foto: Cacá Bratke)
27/31 Nesta fachada da antiga cocheira, vemos as duas baias originais da construção. Hoje, elas dão acesso à cozinha e à sala de jantar pelo jardim. (Foto: Cacá Bratke)
28/31 Antes desta reforma, a cozinha ocupava o espaço da atual sala de jantar. Daí o fogão a lenha remanescente, atualmente usado como réchaud. (Foto: Cacá Bratke)
29/31 Ao dar a volta, percebe-se o primeiro elemento curioso: a janela mourisca do quarto, no andar superior. (Foto: Cacá Bratke)
30/31 Na fachada frontal, o mix de estilos ainda não se faz tão presente. (Foto: Cacá Bratke)
31/31 Atrás do pergolado, situa-se uma das varandas da antiga cocheira. (Foto: Cacá Bratke)