Reforma preserva traço modernista da casa

Finalista do prêmio O Melhor da Arquitetura 2015 na categoria Reforma de Casa, este projeto dos anos 50 em São Paulo conquistou luz e uma organização mais franca e integrada sem perder seus preciosos traços modernistas

Por Por Deborah Apsan (visual) e Silvia Gomez (texto) | Projeto Nitsche Arquitetos
Atualizado em 9 set 2021, 14h08 - Publicado em 8 jan 2016, 09h00
Memória em dia
Elementos característicos do trabalho de Franz Heep (1902- 1978) autor do projeto original, os janelões tiveram os brises de alumínio trocados por telas microaeradas de poliéster de alta tenacidade (tecido Soltis, comprado na Dinaflex). O fechamento do tipo camarão permaneceu. Embaixo, destaque para o volume branco do lavabo, também conservado.  (Foto: Victor Affaro/)
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Desenhada em 1954 pelo arquiteto alemão Franz Heep, a casa viu a atual moradora crescer, casar, mudar. Nunca se conformou. Quando os pais dela (e então donos) decidiram construir outra residência após mais de três décadas ali, uma ideia ganhou força. Por que não chamar de volta a garota, agora adulta e com sua própria família? O plano deu certo, mas envolveu uma reforma de quase dois anos. “Vivi aqui desde os 3 anos de idade. Nunca fizemos uma revisão profunda e o tempo cobrou isso, principalmente em relação às redes elétrica e hidráulica”, conta a atual proprietária. 

Os arquitetos Lua e Pedro Nitsche, autores do projeto – coordenado por André Scarpa e Rosário Borges de Pinho (todos do escritório paulistano Nitsche Arquitetos) – se mostraram desde o início criteriosos na reformulação desse exemplar do modernismo paulistano. “Basicamente, reorganizamos a planta e simplificamos a volumetria”, resume Lua. Na prática, os dois pavimentos, antes bastante compartimentados, se livraram de algumas paredes, adquirindo fluidez. Em cima, um quarto cedeu sua área a um ambiente comum, de TV, e um dos três banheiros amontoados e sem janelas saiu de cena. “Essa configuração mais arejada foi possível porque os clientes não faziam questão de tantos cômodos, já que as duas filhas dormem juntas”, conta André. 

Lá embaixo, tudo foi integrado e o jardim, ampliado. “A lavanderia ocupava metade da área externa e entre ela e o corpo da moradia restava um pátio subutilizado”, descreve Lua. Posto abaixo, esse trecho de serviço migrou para o interior, perto da nova cozinha, levantada com esqueleto metálico e laje de concreto. Esse acréscimo terminou por criar um terraço para a suíte do casal, acima.

Como conservar o que é bom é uma virtude, o trabalho deixou intocados muitos dos elementos da época, entre eles o hall, a parede diagonal de alvenaria estrutural da sala e detalhes como a lareira, o domo para luz zenital num dos banheiros e a maior parte dos caixilhos. Estrelas da fachada principal, os desgastados brises de ferro dos janelões não perderam o visual típico com as telas de poliéster substitutas. Pastilhas de porcelana, acabamento também caro ao período, cobriram o exterior. Restou ainda intacta a escada de mármore rosa, uma das principais memórias da reincidente moradora. “Ao voltar, logo na primeira semana depois da mudança, me dei conta de que eu podia descer os degraus de olhos fechados. Era uma velha conhecida”, comenta. Reparou ainda, surpresa, que a filha mais velha só se deslocava usando o lado do corrimão. “Não contei isso a ela, mas é exatamente como eu fazia.” Talvez a própria casa tenha ensinado a pequena, feliz e zelosa em ver crescer uma nova geração.

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