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Metamodernismo: moradias mais fluidas são a tendência

Pesquisa revela que brasileiros buscam lares que capazes de abrigar várias idades e tipos de família, e que sejam confortáveis porém práticos.

Por Ana Harada
3 ago 2024, 19h00
Sala de estar com plantas, piano e itens de design
Projeto de Ricardo Abreu. (Renato Navarro/Casa.com.br)
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A realidade metamoderna oscila entre a esperança de tempos melhores e uma preocupação constante com as crises e as contradições que vivemos nos dias atuais. Nela, ter uma casa que agregue todas as necessidades e desejos dos moradores não é tarefa fácil, justamente porque hoje não somos mais seres de um único viés.

Ao mesmo tempo em que querem ter relaxamento em momentos de privacidade em seus lares, para desfrutar de um descanso e silêncio necessários, os brasileiros também buscam uma moradia que ofereça bem-estar e alegria nos momentos de interação e convivência com outras pessoas. Há ainda, uma busca pela praticidade de lares moduláveis, direcionamento que é uma das bifurcações comportamentais do trabalho híbrido.

Pavilhão Deca - ambiente de João Panaggio para a CASACOR Rio 2023. Na foto, quarto com vista para jardim, cama e poltrona.
Pavilhão Deca – ambiente de João Panaggio para a CASACOR Rio 2023. (Fotos: Denilson Machado, MCA Estúdio/Produção visual: Aldi Flosi/CASACOR)

É o que mostra o estudo “Arquitetura da Experiência”, realizado pela consultoria de tendências Spark:off, a pedido da Dexco, maior casa de marcas para construção, reforma e decoração do país, e oferecido pelas marcas Deca, Portinari e Duratex. O estudo foi conduzido entre fevereiro e maio de 2024 e a pesquisa contou com 1.045 participantes em todo o território nacional, sendo uma continuidade do estudo feito em 2023 sobre o Futuro do Morar.

O estudo aponta que os anseios das pessoas e a realidade a nossa frente são complexas e guiadas pelo conceito do metamodernismo, pilar central do trabalho. Tudo acontece ao mesmo tempo e os desafios das últimas décadas – pessoais e globais – fazem com que as pessoas repensem seus comportamentos, abandonando a ideia de opostos ou binários para começar a incorporar nossas contradições como pessoas, comunidades, instituições e negócios, buscando soluções reais para os desafios que vivemos todos os dias.

SPA Naz Deca - ambiente de Traama Arquitetura para a CASACOR Brasília 2023. Duchas com barras de apoio e banheira solta.
SPA Naz Deca – ambiente de Traama Arquitetura para a CASACOR Brasília 2023. (Edgard Cesar/CASACOR)

E em resposta à esta realidade Metamoderna existe um movimento de fluidez em nossas vidas, que tem impulsionado a nossa forma de morar, trabalhar, nosso lazer, como a gente se relaciona e como compreende as nossas próprias identidades. O estudo chama de poetização do cotidiano a busca por soluções que atendam a necessidades práticas e sensoriais ao mesmo tempo. Segundo Tatiana Fukamati, especialista ouvida no estudo, “A gente é basicamente sensação e emoção. Primeiro eu ‘sinto’ o espaço”. Ou seja, o Metamodernismo busca a vida fluida e se ancora na neuroarquitetura para trazer melhores soluções, que proporcionem estímulos positivos ao cérebro.

É por todo este cenário que a Arquitetura da Experiência apresenta três pilares: a experiência do indivíduo, da comunidade e do planeta, e quatro macro tendências: Fluid Lives (novo conceito do sucesso), Life Centric (casas do amanhã já existem hoje), a Revolução da comunidade (cidades inclusivas) e o Beyond Human (IA é o sétimo sentido).

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A dualidade e aceitação dos opostos pode ser vista no estudo:

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Revestimento Castelatto – Linha Matéria na cor Terracota. Projeto de Bohrer Arquitetos. (Favaro Jr/Divulgação)

Segundo a pesquisa, 57% dos brasileiros consideram como a casa ideal, um ambiente flexível que tenha tanto espaços de convivência, quanto espaços de privacidade e introspecção. O conforto do lar é um atributo que deve estar presente nos dois tipos de ambientes, desde os objetos de decoração até as cores e texturas dos revestimentos. Para 41% é importante ter conforto nos ambientes privativos e para 36% nos ambientes de convivência.

“A casa elástica é esse lugar que se movimenta, que expande e contrai, que precisa se adaptar a experiências do morar mais fluido, e se adequar às múltiplas atividades do dia-a-dia, o que representa um desafio e uma grande oportunidade para as empresas do setor de construção, reforma e decoração”, explica Marcele Brunel, head do Design Office da Dexco, criado em 2022 para ampliar o estudo de tendências e ajudar a companhia a trazer inovação pertinente para o mercado brasileiro.

Segundo ela, é necessário pensar em soluções que sejam resistentes, mobiliários e divisórias que sejam à prova de derramamentos, desmontes, opções sanfonadas, modulares, térmicas, à prova de queda, de risco e de produto corrosivo. “Produtos e divisórias que criam zonas de isolamento entre ambientes irão facilitar a casa elástica”, diz. O estudo, inclusive, convida o setor de construção e reforma a questionar se paredes físicas ainda fazem sentido.

Expo Revestir 2024: os principais lançamentos em porcelanatos e cerâmicos
(Ceusa/Casa.com.br)

Nesse cenário, a cozinha se torna um dos centros das experiências em casa, ela não é mais apenas um local funcional para preparar alimentos, mas também um espaço onde as pessoas se reúnem, socializam e desfrutam de momentos agradáveis. “Hoje nós estamos vendo um movimento em que mesmo em apartamentos de 30m² ter uma boa cozinha para receber as pessoas é importante”, analisa Rosa Moraes, especialista no universo gastronômico, ouvida no estudo.

Os quartos também ganham destaque, uma vez que 59% das pessoas dizem que dormir bem é sinônimo de qualidade de vida e bem-estar. Proporcionar novas experiências com ambientes acústicos e climatizados que auxiliam no descanso e revestimentos que proporcionam uma melhor qualidade do ar, podem ser bons investimentos para as marcas do setor.

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“Desenvolvemos produtos da marca Portinari com selo Indoor Air Quality que não emite carbonos voláteis, e ainda, contribui para a refletância solar, amenizando a temperatura interna dos ambientes. As tonalidades, relevos e demais características de nossos revestimentos contribuem para a troca térmica nos ambientes, demandando menor consumo de energia para ar condicionado e contribuindo para a conservação de recursos naturais”, conta Fernanda Moceri, gerente de Design Estratégico da Dexco.

Também fazem parte do futuro do morar, formatos familiares e o conceito de família cada vez mais amplos. Ter um companheiro(a) para dividir os momentos bons e ruins (80%), amigos próximos (61%), e rede de apoio (59%), definem uma família estendida para os brasileiros. Na sequência, também são considerados “família”, os animais de estimação (55%), os parentes com laços de sangue (55%), ter ou adotar filhos (53%) e fazer parte de uma comunidade com ideias e princípios parecidos (32%).

Metamodernismo: moradias mais fluidas são a tendência. Na foto, banheiro acessível.
(Deca/Divulgação)

Além disso, estamos vivendo em um mundo mais intergeracional, com a população idosa sendo maior do que o total de crianças, e com os marcos tradicionais de idade para casamento, casa própria, filhos e netos fazendo cada vez menos sentido ao passo que avançamos para as próximas décadas. Com o aumento da expectativa de vida, muitos familiares se encontram na posição de cuidar dos idosos da família ao mesmo tempo em que cuidam de seus próprios filhos. Tanto que 52% dos entrevistados afirmam estar dispostos a fazer qualquer adaptação necessária para acolher os idosos em seus lares. E 38% concordam que o ponto forte de uma moradia preparada para o bem envelhecer é a capacidade dela se adaptar. Pisos antiderrapantes, as barras de segurança, assento sanitário, segurança nas escadarias, são protagonistas nas respostas dos consumidores.

“A sociedade como um todo tem que se preparar para a longevidade e nós já estamos desenvolvendo produtos para casas multigeracionais. Criamos a linha de produtos acessíveis – Deca Care – que alia estética e funcionalidade, com peças que atendem à Norma Brasileira de Acessibilidade.” diz Fernanda Moceri. Desenvolvido pelas arquitetas Mariana Quinelato e Flavia Ranieri, especialistas em arquitetura inclusiva, os produtos incluem barras de apoio com design versátil que permite que as peças, ao mesmo tempo em que oferecem maior segurança, contam com uma estética funcional e que harmoniza o ambiente.

“Porque isso também é inclusão. As barras de acessibilidade se destinam a pessoas com qualquer tipo de limitação, que precisam da função e querem também ter esses produtos com estilo, com a cor que gostam. Estamos falando que independentemente da idade, do corpo, a Dexco quer ajudar a construir ambientes nos quais as pessoas se encontrem e se sintam bem”, ressalta.

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Estúdio de 88 m² traz recursos de acessibilidade de forma elegante e estética. Projeto de ADVP para a CASACOR São Paulo 2024. Na foto, cozinha, cadeira de rodas.
Projeto de ADVP para a CASACOR São Paulo 2024. (Amanda Bibiano/Divulgação)

Enxergando a arquitetura como uma resposta à necessidade contínua de reinvenção de um lar, a Dexco foi atrás de entender como os brasileiros estão vendo as mudanças em torno das moradias em uma escala que apresenta desde situações que já são reais àquelas que estão bem longe de acontecer.

A situação que mais apareceu como uma realidade entre os brasileiros foi a busca por “ter casas cada vez menores e práticas” para 42% dos entrevistados, seguida pela busca por “moradias em locais como condomínios que ofereçam serviços de lavanderia, mercadinho, comércio, entre outros” para 40% das pessoas. Morar longe de grandes centros, priorizando o trabalho remoto, foi citado por 29% dos respondentes como algo que já está acontecendo. No outro extremo, ter moradia flexível (eu aluguel) para se sentir livre para mudanças e viagens de longo prazo foi citado por 16% das pessoas como algo que está bem longe de acontecer.

Mini apê japandi de 24 m² tem sofá-cama, lavanderia e formas arredondadas. Projeto de MBV Arquitetura. Na foto, sala de estar, cortina xadrez, sofá com manta.
Projeto de 24 m² de MBV Arquitetura. (Fotos: Lilia Mendel/Produção visual: @puadigiorgio/Divulgação)

A pesquisa também aponta que os consumidores têm consciência que a nova realidade da ebulição global terá um impacto profundo na vida cotidiana, e querem enfrentar as mudanças climáticas. Contudo, o caminho para um comportamento mais sustentável tem suas imperfeições. No mundo, segundo a Unwell Network, as pessoas ainda priorizam sua felicidade, ou seja, viver de forma sustentável não deve significar sacrificar o prazer pessoal e procuram marcas que apoiem as suas visões positivas para o planeta.

No Brasil, para 42% dos entrevistados, a principal adaptação da arquitetura às mudanças climáticas será nos equipamentos dentro da casa, através da criação de soluções que, por exemplo, controlam a temperatura interna do ambiente. Para 30%, a principal adaptação será nos materiais utilizados na construção. Já 21% acreditam que a principal mudança será na forma de construir e 5% acreditam que será nos acabamentos.

Tiny house sustentável de madeira fica pronta em 1 mês. Na foto, fachada de madeira da casa no meio do jardim.
(Favaro Jr/Casa.com.br)

“A mudança precisa vir da base. A casa sustentável tem de começar desde a base da construção, usando materiais biodiversos que formarão as paredes, utilização de recursos de economia de água, o controle da temperatura interna, deve-se olhar para tudo. Isso é uma casa sustentável de verdade”, diz o arquiteto Guto Requena, também ouvido no estudo. Por exemplo, uma significativa economia de água pode ser obtida com torneiras e misturadores, como as da linha Deca Comfort, que proporcionam economia de até 60% de água.

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O boom da bioeconomia e da bioconstrução está só começando. No mundo, a hashtag #bioarchitecture possui 4.7 milhões de views no Tiktok, #bioarctetura possui 4.3 milhões de views e #bioconstruçao 2.2 milhões de views. Outro ponto é a arquitetura de reuso, que está impulsionando novas estéticas ligadas ao reaproveitamento de materiais. “Nesse sentido, acabamos de lançar um revestimento inédito com base em bioeconomia ou reuso. Aproveitamos os resíduos da produção de louças cerâmicas da Deca, que até então eram descartados, e transformamos em matéria-prima para um brick da marca Castelatto, especializada em revestimentos de concreto arquitetônico”, explica Brunel.

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