Um ponto particular da propriedade de sua família em Constantia, região produtora de vinho na Cidade do Cabo, fascinava o morador Graham Paarman: uma clareira com vista para outras construções, quatro lagos quadrados e jardins extensos. O cenário foi trabalhado pelos arquitetos Pieter Malan, Jan-Heyn Vorster e Peter Urry, do escritório Malan Vorster Architecture Interior Design, em parceria com a paisagista Mary Maurel.
Portas de vidro deslizantes abrem a frente da construção para o exterior, revelando o pé-direito duplo do interior: quarto em cima e sala embaixo. Apoiado em pilares, o volume todo parece flutuar na clareira escolhida para a implantação. (Foto: Greg Cox/ bureaux.co.za)
A luz refletida pelos espelhos-d’água conferia um ar mágico àquele trecho específico, onde Graham imaginava uma espécie de casa na árvore. “Eu não queria algo simétrico imposto à paisagem, e sim uma morada imersa no entorno – e pequena”, conta ele.
Para o projeto, serviram de inspiração as obras dos arquitetos Louis Kahn (1901-1974), americano, e Carlo Scarpa (1906-1978), italiano. “Nos baseamos em algumas de suas criações geométricas, investigando estruturas que também trouxessem a sensação de liberdade, mistura entre linhas fluidas e retas”, revela Pieter.
Entra-se na morada por esta rampa suspensa de aço corten, material eleito pelo tom avermelhado e pelo aspecto rústico adquirido com o tempo. (Foto: Greg Cox/ bureaux.co.za)
Assim nasceu a residência, baseada no esboço de um quadrado. Em cada ponta dele, pilares de aço são responsáveis pela sustentação, tal qual troncos envoltos por anéis de madeira. Os ambientes são distribuídos conforme o pavimento: área social no primeiro nível, o quarto no próximo e, por último, o deck descoberto.
Ao mesmo tempo, um espaço com pé-direito duplo faz a conexão entre os pisos e alguns dos anéis de madeira avançam para fora, criando pequenas varandas arredondadas. Todo esse esqueleto é envidraçado e coberto por um véu de ripas de cedro.
No primeiro pavimento, à frente do estar, a varanda curva segue a proposta orgânica do desenho. Dali, se avistam os lagos, cuja posição também orientou a edificação. (Foto: Greg Cox/ bureaux.co.za)
“Essa trama oferece privacidade em alguns pontos e articula a construção em outros. As faixas ecoam a verticalidade da floresta em volta, a não ser pelo volume maciço da escada”, detalha Pieter.
A cozinha se resume a este corredor dentro do estar. Se ela não parece tão pequena, é mérito dos fechamentos de vidro, que ajudam a confundir dentro e fora. (Foto: Greg Cox/ bureaux.co.za)
Em função da constante conexão com o exterior, a casa de 64 m² parece maior do que de fato é. “Você se sente mergulhado no horizonte e, ao mesmo tempo, protegido num casulo”, define o proprietário.
A simbiose se confirma na escolha dos acabamentos, da madeira ao aço corten, assumidos em sua versão natural e autorizados a envelhecer, fazendo a cabana parecer quase mais uma entre as árvores.