Escada é a protagonista deste dúplex
A série de degraus foi o ponto de partida do projeto de reforma do apartamento de 73 m². Seu desenho complexo não só organiza como aproveita o espaço
O projeto do arquiteto Rodrigo Ohtake para este dúplex buscou questionar o que parece óbvio, a começar por ela – a escada. “Adoro desenhar escada. É um item meio poético, te leva de um nível a outro. Aqui, o trabalho se deu a partir de sua definição: onde ficaria e como seria, já que não havia a obrigação de um lugar específico na estrutura do imóvel”, diz Rodrigo. Com traçado linear, ela acompanha a parede lateral mais livre da planta, originalmente recortada. “Em apartamentos pequenos, a multifuncionalidade é um recurso para otimizar a área. Por isso, os degraus se desdobram, virando estante e também bancada de escritório, ao final.”
A reforma quebrou parte da laje para conquistar um trecho com pé-direito duplo (4,97 m de altura) na sala, solução que trouxe uma sensação mais arejada ao apartamento. Feita de concreto, a escada tem degraus engastados na parede, ajudados por pilaretes de reforço, camuflados por objetos e livros. (Foto: Fran Parente)
O único quarto fica no andar de cima, resguardado pelo painel de vidro com cortina. Piso do tipo tecnocimento. (Foto: Fran Parente)
À mesma lógica multiúso atende outra solução sob medida, o móvel principal do estar, um sofá-mesa. “Imaginei um volume preto monolítico definindo sala e cozinha ao mesmo tempo. A ideia era conseguir resolver o espaço compacto com poucos elementos.” Repare como a peça foi arranjada diagonalmente, seguindo a orientação angulosa das janelas do imóvel.
A cozinha, totalmente aberta, exibe armários de freijó (Marcenaria Casa 10 Planejados) e bancada de aço inox. O sofá-mesa nasce a partir do pilar que sobrou após as paredes caírem. No andar de cima, detalhe da fixação de inox da placa de vidro temperado laminado do quarto. (Foto: Fran Parente)
Nesta vista da sala de estar, a escada de concreto revela seu desenho híbrido, misto de degraus, prateleiras e bancada. Não há guarda-corpo, apenas um corrimão na parede para ajudar na subida. (Foto: Fran Parente)
Uma terceira opção nada comum se deu no uso de tons – tetos em nuances escuras e diferentes e paredes brancas. “É um jeito bem contemporâneo de ter a cor presente, agregando os ambientes”. Assim, pouco fazem falta as paredes derrubadas na reforma. Até mesmo o único quarto, no andar superior, se vê aberto, protegido apenas por um painel de vidro fechado com cortina quando o casal de moradores se retira para dormir.
Como os dois andares se comunicam visualmente, a ideia cria um jogo entre os níveis: embaixo, verde (Sherwin-Williams, ref. SW 6482) e, em cima, vinho (Sherwin-Williams, SW 6293). (Foto: Fran Parente)
“Recortar parte da laje permitiu ganhar um trecho com pé-direito duplo, criando um ponto vazado na área social, o que de novo faz muita diferença em residências compactas”, ensina Rodrigo, que calculou esse respiro justamente à frente da escada escultórica, como se preparasse também um lugar para sua apreciação. Afinal, uma escada pode ser mais do que uma
óbvia sucessão de degraus. Basta desobedecer as instruções.
Sem a divisória lateral, o dormitório parece maior, separado da escada apenas pelo painel de vidro temperado laminado (1,88 x 2,47 m), de cima a baixo. (Foto: Fran Parente)
Área: 73 m²; Obra: Oscar Toshio Kusaka/ OTK Construtuora; Marcenaria: Marcenaria Casa 10 Planejados (Ilustração: Campoy Estúdio)