Uma reforma radical transformou esta residência paulistana, antes escura e compartimentada, numa morada clara e integrada. Cercada de jardins, ela ganhou ainda mais vida entre as texturas de madeira, pedra e concreto
Por Por Deborah Apsan (visual) e Marília Medrado (texto)
Atualizado em 9 set 2021, 13h58 - Publicado em 5 ago 2016, 17h30
No fundo da sala, a luminosidade ganhou passagem graças aos painéis de vidro em esquadrias de freijó e batentes de cumaru (SD Marcenaria) que envelopam o pátio interno. No piso, tacos de peroba de demolição. Tijolinhos assentados com junta seca cobrem a parede estrutural mantida na obra.
(Foto: Cacá Bratke/)
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Uma casagostosa de morar e integrada, com área externa para receber os amigos, uma cozinha agradável onde a proprietária pudesse desfrutar de seu hobby em meio a ingredientes e panelas, além de quatro quartos e… ah, não menos importante: um telhado bem tradicional. Em meio a tantos desejos, reformar o imóvel adquirido pelo casal com dois filhos num bairro nobre da capital paulista parecia mesmo assunto urgente. Apesar da boa localização, a excessiva compartimentação e a área de serviço grande demais, aspectos costumeiros em residências antigas como esta, pediam atualização. A princípio pequena na imaginação dos moradores, a mudança tomou proporções reais – bem maiores – na prancheta dos arquitetos Fernanda Neiva e Gil Mello, sócios no escritório Galeria Arquitetos. “Reaproveitar a estrutura existente era uma premissa, pois não fazia sentido pensar numa fundação nova no terreno com características de várzea”, explica Fernanda.
Aos olhos dos profissionais, outro problema chamava a atenção: a falta de luz na parte central do térreo. “O quintal antigo, situado onde agora fica a lavanderia, era um local escuro e úmido, espremido entre o muro de 6 m do vizinho e a velha edícula.” Transferido para o lado desse paredão, o anexo de serviços deu lugar à área de lazer, banhada pela luz da manhã. Além disso, criou-se um pátio interno, inundando de claridade o meio da planta. “O pavimento de cima já possuía o recorte. Só removemos a laje, o que permitiu que a luminosidade chegasse ao andar de baixo.”
Redesenhada e aberta por esse novo vão, que parece se prolongar até a sala de estar, a entrada tornou-se um convite a quem chega. Mesmo no interior, o verde dos jardins ao redor da construção apresenta-se através das janelas e portas de vidro generosas. A visão é proporcionada em parte também pela mudança do sentido da escada metálica vazada, pintada de verde. Lá em cima, a distribuição dos cômodos foi refeita. Ao migrar para os fundos, o quarto do casal encontrou espaço suficiente para virar uma suíte com closet. Na frente, olhando para a rua, instalaram-se dois novos dormitórios onde antes havia apenas um.
E o telhado? Ao projeto apresentado pelos arquitetos, só houve um pedido de alteração dos clientes. “O desenho sugeria uma cobertura reta, mas eu fazia questão dele”, revela a moradora. Pronto, lá está agora a armação de quatro águas valorizada pelo esmerado beiral de cumaru.
1/11 No fundo da sala, a luminosidade ganhou passagem graças aos painéis de vidro em esquadrias de freijó e batentes de cumaru (SD Marcenaria) que envelopam o pátio interno. No piso, tacos de peroba de demolição. Tijolinhos assentados com junta seca cobrem a parede estrutural mantida na obra. (Por Evelyn Müller)
2/11 A pedra goiás verde reveste o piso externo e a moledo, o muro. A parede de concreto esconde a porta social – o banco de madeira delimita o acesso de pedestres ao estar e completa o espaço. (Por Evelyn Müller)
3/11 As janelas do térreo dão visibilidade ao jardim composto de helicônia, costela-de-adão, filodendro e íris, paisagismo assinado pelo escritório Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem. (Por Evelyn Müller)
4/11 Comprida, a prateleira de concreto armado perto do forro parece alongar a sala de TV. Ela continua do lado de fora, protegendo os caixilhos das intempéries. (Por Evelyn Müller)
5/11 Além das salas, a nova cozinha também fica aberta para o pátio interno, grande fonte de luminosidade natural no térreo. (Por Evelyn Müller)
6/11 Diante do vizinho, uma das laterais da casa ganhou tijolos de vidro de 8 x 19 x 19 cm (2s Glass Block). Essas peças, ora foscas, ora transparentes, garantem privacidade ao pavimento superior. (Por Evelyn Müller)
7/11 A cozinha tem armários de MDF revestidos de folhas de freijó. Toda a marcenaria foi realizada pela Roberto Gonçalves Comércio de Móveis. No piso, optou-se pelo ladrilho hidráulico de 10 x 20 cm (ref. Azul Ultramar, da Ladrilar) com resina impermeabilizante protetora. (Por Evelyn Müller)
8/11 Pendurado numa viga metálica, o pergolado de cumaru possui cobertura de vidro. Além de um convite à permanência, o banco curvo de concreto delimita o canteiro do jardim, que conta com uma pitangueira e vegetação tropical. (Por Evelyn Müller)
9/11 O mesmo ladrilho hidráulico do piso da cozinha é repetido no frontão da churrasqueira. Os armários são de ripas de freijó. No piso, a pedra goiás verde do pátio de entrada exibe aqui outro tratamento: emoldurada pela grama, deixa o solo permeável. (Por Evelyn Müller)
10/11 Quando abertas, as venezianas de correr das janelas ficam embutidas na alvenaria, padrão que se repete na fachada da frente da casa. (Por Evelyn Müller)
11/11 A área social parece abraçar o pátio no centro do térreo. Em cima, a fachada da frente passou a abrigar dois quartos, deixando a suíte maior nos fundos. Área: 240 m²; Arquitetos Colaboradores: Julia Pinheiro e Liliane Nambu (coordenação) e Karina Almeida; Cálculo Estrutural: Jairo Correa Junior; Construção: Bogner Empreiteira; Paisagismo: Gabriella Ornaghi Arquitetura da Paisagem; Luminotécnica: Galeria Arquitetos (Por Evelyn Müller)