Casa-pátio com alma artesanal, tijolinhos e um jardim apaixonante
A visão do jardim e a presença de detalhes que revelam o passado da antiga construção contam a história desta reforma e o apreço de um arquiteto pela beleza natural das coisas
Por Texto Amanda Sequin | Produção Deborah Apsan
Atualizado em 9 set 2021, 14h07 - Publicado em 29 jan 2016, 16h00
Livre de paredes, estar, cozinha e jantar se abrem para a área externa até mesmo nos dias chuvosos graças ao portão de garagem adaptado, que oferece cobertura e contribui para a integração.
(Fotos: Evelyn Müller/Casa.com.br)
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Esta história começa com um telefonema inesperado. Já haviam se passado dois anos desde que o arquiteto Fábio Marins e sua mulher, Mariana, desistiram de buscar a casa dos sonhos e seis meses do dia em que entraram num apartamento recém-reformado. No entanto, bastou o corretor ligar oferecendo uma proposta sem compromisso para o ciclo de mudanças recomeçar. “Topei ir ver o imóvel. A fundação estava precária. Mesmo assim, consegui enxergar ali, na mesma hora, a casa-pátio que eu tanto queria. Fui tachado de louco quando fechei negócio e, num fim de semana, passei para o papel tudo o que estava na cabeça”, recorda Fábio com um sorriso, claramente orgulhoso da escolha. Mineiro radicado na capital paulista há quase 15 anos, ele ansiava por um espaço amplo, onde a natureza se impusesse. E, sim, a configuração da área permitia transformar o tímido quintal num belo jardim. Dessa forma, o arquiteto logo reservou na planta um bolsão verde de 52 m², com a premissa de voltar todos os cômodos para esse trecho.
A construção, no entanto, mostrou-se muito frágil. Quando começou a remoção do revestimento, as paredes de tijolos assentados no barro praticamente balançavam. Seria muito mais fácil derrubar por completo e preparar o terreno para uma obra 100% nova, porém Fábio teve punho. “Para mim, era importante preservar a história, prática que vem se perdendo em São Paulo. Deu trabalho,
pois foi um processo quase artesanal. Mas o prazer compensou”, avalia. Fio a fio, as superfícies foram raspadas e, então, receberam uma camada de malha de aço e cimento. A fim de estruturar o pavimento superior, inexistente no projeto original, o proprietário usou os mesmos pilares do térreo e inseriu uma viga metálica, viabilizando grandes aberturas para a parte externa. Além dos tijolos, que permaneceram visíveis, por aqui figuram portas e janelas da velha morada, seja em posição diferente, seja em funções
inusitadas, como a de tampo de mesa ou base para espelhos.
Segundo Fábio, o aproveitamento da madeira e de outros materiais beirou 80%, o que representa bela economia. No fim das contas, a residência ficou do jeitinho que ele imaginou quando pôs os pés nela pela primeira vez. Simples, contemporânea e paulistana – e com o sotaque mineiro de seus moradores.
1/16 Fábio projetou a cozinha ao redor de uma ilha e com poucos armários embutidos de modo a facilitar a movimentação. (Fotos: Evelyn Müller)
2/16 Mariana e o pastor-de-shetland Zig Nelson brincam em frente ao jardim vertical. Para montá-lo, o arquiteto optou por uma sacada econômica: com blocos canaleta de 20 cm, virados ora para cima, ora para a frente, ele formou os nichos próprios ao encaixe dos vasos. “O jardim foi a base do projeto – virou meu xodó. É uma delícia fazer tudo olhando para ele”, Fábio Marins, arquiteto. (Fotos: Evelyn Müller)
3/16 A velha edícula foi demolida para conceder mais espaço ao quintal e acomodar o ofurô (Multiforma). No caminho até o deck, pedras, pedriscos e gramíneas constituem um desenho no solo. (Fotos: Evelyn Müller)
4/16 O cimento queimado, os tijolos e a caixilharia feita sob medida (Serralheria Santos) destacam-se na fachada lateral. O andar superior se debruça sobre o térreo, criando um corredor coberto de 10 m² voltado para o jardim. (Fotos: Evelyn Müller)
5/16 Deste ângulo se pode observar, sobre a laje da entrada, um pequeno terraço, também cheio de plantas. O acesso se dá por uma delgada escada metálica. (Fotos: Evelyn Müller)
6/16 Livre de paredes, estar, cozinha e jantar se abrem para a área externa até mesmo nos dias chuvosos graças ao portão de garagem adaptado, que oferece cobertura e contribui para a integração. (Fotos: Evelyn Müller)
7/16 No alto (em primeiro plano), é possível avistar uma solução inventada por Fábio para não perder o trecho superior da antiga parede: ele prensou os tijolos com chapas de madeira e inseriu barras de aço na transversal. Só então demoliu o restante. (Fotos: Evelyn Müller)
8/16 Cabos de aço sustentam as sobras de madeira que dão forma à escada em que posa Zé Batata, o gato do casal. (Fotos: Evelyn Müller)
9/16 Venezianas de madeira das antigas janelas estruturam o tampo da mesa de jantar. (Fotos: Evelyn Müller)
10/16 A madeira recuperada na obra também ocupa parte do banheiro do casal, coberto de pastilhas de porcelana de 2 x 2 cm (Art Vênite Revestimentos). As janelas basculantes de vidro aramado ficam abertas por hastes. “Quis dar efeito de cabana”, conta o proprietário. (Fotos: Evelyn Müller)
11/16 Petúnias adicionam cor à entrada da casa, cuja área verde soma 15 m². (Fotos: Evelyn Müller)
12/16 A superfície com cobogós protege a parte destinada ao escritório com entrada separada da casa. (Fotos: Evelyn Müller)
13/16 Na entrada, nada de muro alto – as plantas deixam a construção discreta e ainda embelezam a rua. Cobogós (Mineração Caieiras) formam desenhos no interior do escritório enquanto o protegem contra o sol. A porta ao lado da entrada principal dá acesso direto da rua ao local de trabalho. (Fotos: Evelyn Müller)
14/16 Com algumas paredes a menos, o térreo de 115 m² ganhou amplitude. O pavimento superior e o escritório com entrada separada foram construídos do zero na reforma, que durou dez meses. (Fotos: Evelyn Müller)
15/16 Área: 50 m² (Fotos: Evelyn Müller)
16/16 Área: 49 m². Contempla garagem, despensa e o jardim da entrada (Fotos: Evelyn Müller)