A cidade e a urbanista Laura Sobral
A especialista conta a experiência do movimento A Batata Precisa de Você, iniciativa idealizada por ela para ocupar o Largo da Batata, em São Paulo
A urbanista Laura Sobral, especialista em cultura e espaço público, teve a iniciativa de ocupar regularmente o Largo da Batata começando o movimento A Batata Precisa de Você, em 2014, em São Paulo. De lá para cá, o projeto só cresceu. Na última reportagem da série de especialistas mulheres a compartilharem histórias de gentilezas urbanas, ela conta essa experiência e os caminhos a serem percorridos para garantir uma cidade melhor.
No início de sua carreira, o que pretendia para os centros urbanos?
Eu queria construir cidades melhores, mas percebi que o problema era anterior: as pessoas não reconheciam a cidade como sua. A gente constrói a cidade no nosso cotidiano. A gente faz isso quando escolhe onde morar, que caminhos fazer…
Como nasceu o movimento a Batata Precisa de Você?
Nos anos 90, a prefeitura de São Paulo lançou uma operação urbana que renovaria o Largo da Batata, em Pinheiros. Em 2013, depois de dez anos de obras e do encarecimento do metro quadrado na região, entregaram um espaço inóspito: um piso gigantesco com iluminação enterrada. Eu já morava ali perto, então juntei pessoas que estavam incomodadas com aquilo e lançamos o movimento de ocupação regular A Batata Precisa de Você. Em janeiro de 2014 começamos a promover encontros toda sexta-feira à noite. Em seis meses organizamos uma festa junina colaborativa e juntamos 2 500 pessoas.
Qual é a sua avaliação sobre o Largo da Batata hoje?
Desde 2014 ele está cada vez mais ativado, com inúmeros eventos toda semana: shows, jogos, debates etc. Eu até me casei ali. O movimento de ocupação deu origem ao Instituto A Cidade Precisa de Você, que articula a comunidade, o poder público, ONGs e empresas em torno de ações de melhoria de espaços públicos. Outros coletivos também se organizaram com base no A Batata Precisa de Você, como as Batatas Jardineiras, as Batatas Batuqueiras e o Batatas Construtoras. O mais urgente é que o poder público troque o piso da praça, já todo quebrado, e instale um radar para que os carros reduzam a velocidade. Mas também precisa reconstruir o palquinho, fixar tomadas ao ar livre para ligar equipamentos durante os shows e colocar um ponto de água. Tendo água, a própria comunidade rega as plantas.