3 perguntas para o urbanista Ayrton Camargo e Silva sobre mobilidade urbana
Estabelecer faixas exclusivas para ônibus e implantar sistema de transporte elétrico são opções para melhorar a locomoção nas cidades
Autor do livro Tudo é Passageiro, o arquiteto e urbanista Ayrton Camargo e Silva conta como o bonde deu lugar aos carros na vida de nossas metrópoles. Na entrevista a seguir, ele reflete sobre a mobilidade de ontem e de hoje.
Arquitetura & Construção: Por que assistimos à crise da mobilidade urbana?
AS: Os bairros vão se adensando, mas as avenidas são inelásticas. O colapso é fruto da incapacidade das ruas de atender a tantas viagens. É falsa a ideia de que o carro proverá todo o deslocamento da população, pois a capacidade de vazão é limitada.
A&C: Há saídas?
AS: A curto prazo, criar faixas exclusivas para ônibus. Numa via expressa, uma faixa de 3 m de largura escoa 2,8 mil pessoas por hora. Se essa mesma via ficar só para ônibus, o número cresceria para 40 mil. Melhorar o sistema com semáforos controlados por computador, dando prioridade aos ônibus nos cruzamentos, é outra alternativa. A longo prazo, acredito em implantar nos corredores um esquema de transporte elétrico como o bonde, hoje chamado de veículo leve sobre trilhos, o VLT, que usa energia limpa.
A&C: Que lições nos lega o passado?
AS: Entre 1900 e 1968, com o fim dos bondes, havia mais de 700 km de linhas instaladas. Esses trilhos que percorriam os bairros poderiam ter sido transferidos para os principais corredores, redesenhando toda a trama. Iniciativas como a inauguração do VLT na cidade do Rio de Janeiro e na Baixada Santista só começam a ocorrer agora no Brasil. Lá fora, cidades francesas com cerca de 400 mil habitantes adotaram o bonde como opção de mobilidade. As alemãs estão os recolocando de onde foram retirados. Lisboa, em Portugal, e Madri e Barcelona, na Espanha, reimplantaram suas redes. O melhor: esse processo também revitaliza as áreas onde acontecem.