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Mulheres marcam presença nos canteiros de obra

A participação das mulheres como engenheiras, gesseiras, encanadoras, eletricistas nas construções pode ser uma solução para o apagão de mão de obra no setor.

Por Reportagem Denise Gustavsen | Design Manoel Vitorino Jr. | Fotos Zé Gabriel
Atualizado em 20 dez 2016, 22h21 - Publicado em 2 mar 2012, 17h38
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Brinco e esmalte combinam com areia e cimento? Para boa parte das profissionais, é justamente essa delicadeza que as coloca em vantagem sobre o gênero masculino nos canteiros. Cuidadosas,as mulheres costumam executar algumas tarefas com mais capricho que os homens. Se você está pensando em reformar ou construir, a contratação de uma técnica mostra-se a saída certa num mercado que sofre com a escassez de trabalhadores. Bons exemplos não faltam, como você vê nas histórias destas cinco mulheres

 

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Juliana Lima – uma engenheira de pulso firme

Sujar os fios de cabelo de pó, tratar como perários mais rudes e encarar cenários repletos de ferros, concreto e ruídos intensos não é nenhuma novidade para a engenheira civil Juliana Lima, de 30 anos. Desde os 24, ela bate ponto nos canteiros de outra grande construtora de São Paulo e comanda uma equipe de sete pessoas, entre as quais cinco homens. O trabalho é árduo, mas ela tira de letra. Aliás, só vê vantagens na condição feminina. Com a mesma lógica de quem adora cálculos matemáticos, Juliana rege sua turma. “Você não pode usar a autoridade para se impor. Sabedoria e leveza sim”, conta. “Não dá para ser boazinha, mas conversar faz mais efeito do que mandar.” Com a indefectível bolsa de náilon a tiracolo (onde carrega trena, celular, maçaneta mestra, chaves e bloco de anotações), calça jeans, bota e camisa, a moça sobe e desce de andaimes e cremalheiras sem nenhum constrangimento. Na cartilha da engenheira, discrição é palavra-chave. Blusinha curta ou decotada não são bem-vistas, afinal, costumam causar confusão no canteiro. Séria e exigente, ela já se viu obrigada, por duas vezes, a chamar a atenção de funcionárias mais desavisadas, pois não tolera falta de profissionalismo. “Sou tão exigente quanto sou cobrada.” Apaixonada pela profissão, entra no prédio da construtora Even de manhã cedo e só sai de lá ao anoitecer. Cansativo? Não! Os desafios diários são seu combustível. Aliás, Juliana não consegue imaginar um engenheiro civil completo sem uma temporada rigorosa dessas. “Faz parte da nossa evolução.”

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Maria Isabel dos Santos – ela sabe tudo de elétrica e hidráulica

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Brinco e esmalte combinam com areia e cimento? Para boa parte das profissionais, é justamente essa delicadeza que as coloca em vantagem sobre o gênero masculino nos canteiros. Cuidadosas, as mulheres costumam executar algumas tarefas com mais capricho que os homens (veja o boxe abaixo). Se você está pensando em reformar ou construir, a contratação de uma técnica mostra-se a saída certa num mercado que sofre com a escassez de trabalhadores. Bons exemplos não faltam. Aos 37 anos, Maria Isabel Alves dos Santos decidiu dividir o trabalho de operadora de telemarketing com um curso de ajudante de elétrica e hidráulica no bairro onde mora, em São Paulo. No início, queria apenas dominar o assunto para tocar os consertos da própria casa. Aluna aplicada, no fim das aulas, em 2010, teve o currículo aprovado por uma grande construtora paulistana, a Gafisa. Hoje, cuida do depósito de materiais elétricos no canteiro de obras de um edifício residencial, nos arredores da capital. Com mão de ferro, ela controla fios, lâmpadas, fusíveis e ferramentas usados pelos eletricistas. Ao chegar ali, deu cabo até da desorganização e agora o lugar traz arrumação irrepreensível – cada coisa em seu lugar. “Só assim o serviço flui”,diz. “Sem a minha autorização, ninguém pode mexer em nada.” Depois de ter sido equilibrista de circo por anos a fio e trabalhado inclusive em salões de beleza, Maria Isabel se realizou na atual carreira. Mesmo vaidosa, não se incomoda de trabalhar uniformizada todos os dias com botas e luvas sem nenhum charme, iguais às dos colegas. Só não abre mão do capacete cor-de-rosa presenteado pela empresa, das unhas sempre pintadas e do cabelo bem tratado. “Em respeito aos outros, devo estar bonita”, brinca, feliz da vida com a oportunidade de crescimento na profissão. “Os salários são maiores e o mercado está aquecido. Quer coisa melhor?”

 

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Ana Lucia Siciliano – apaixonada pelo passo a passo da obra

Antes de os canteiros serem invadidos por elas, a arquiteta Ana Lucia Siciliano já gostava de acompanhar o passo a passo das obras. Desde o início da carreira, nos anos 90, ela comanda equipes masculinas na construção dos projetos que desenha e descobriu um jeito infalível de fazer a engrenagem funcionar sem sobressaltos. “Sou rígida e, ao mesmo tempo, descontraída. Trato todo mundo igualmente porque, além de ensinar, aprendo muito”, diz.  No carro, a arquiteta guarda seu infalível jaleco branco e os sapatos pretos para encarar o pó e, depois de sacudir os cabelos, poder partir com elegância direto para reuniões com os clientes. Seu grande prazer é ver a ideia ganhar forma.

 

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Giselle e Gilvani Tavares Costa – técnicas em edificações formadas no Senai

As irmãs Giselle e Gilvani Tavares Costa, de 24 e 23 anos, respectivamente, frequentaram primeiro as aulas do curso de construtor residencial e, em seguida, ganharam também o diploma de técnico em edificação, do Senai. De tão determinada e bem-sucedida, a dupla virou instrutora de obras da própria instituição, que recentemente cedeu Giselle para o canteiro do Itaquerão, o estádio do Corinthians que está sendo erguido pela Odebrecht para a Copa do Mundo de 2014. Embora torça para o Sport Club do Recife, a garota acha o trabalho desafiador. “Nós podemos executar qualquer função”, ensina. “Vencer os obstáculos é muito mais instigante.”

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Quanto custa contratar uma mulher

 

Bem treinadas, as profissionais com curso técnico já chegam aos canteiros em situação de vantagem. “É a oportunidade de ganhar mais que está atraindo essas profissionais”, diz Haruo Ishikawa. enquanto muitos dos homens amargam um duro começo como servente, responsável pela limpeza da obra e com um salário de r$ 910 por mês, elas partem de postos mais bem remunerados (a partir de r$ 1 086,80), oferecidos a quem já sabe, por exemplo, fazer massa e assentar tijolos. como os demais trabalhadores da construção civil, elas ganham por produtividade. assim, segundo Haruo, o salário pode facilmente chegar, em média, a r$ 3 500, com a perspectiva de atingir r$ 5 mil. no caso de engenheiras, o valor parte de r$ 3 mil. muitas construtoras já estão treinando seus trabalhadores ou garimpando mão de obra no Senai, boa opção tambémpara quem vai tocar uma obra residencial. no rio de Janeiro, o projeto mão na massa é uma alternativa. Já a usina Fortaleza, que promove cursos no rio Grande do sul e em são Paulo, possui cadastro de profissionais em seu site.

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