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Jeanne Gang: a primeira mulher que desenhou um arranha-céu

Primeira mulher do planeta a desenhar um arranha-céu, a arquiteta americana Jeanne Gang enxerga na dobradinha verticalização + sustentabilidade a saída para metrópoles superpovoadas

Por Denise Gustavsen
Atualizado em 20 dez 2016, 21h18 - Publicado em 7 Maio 2013, 21h06

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A visão extraordinária das formações rochosas do Grand Canyon, no Arizona, das superestradas e pontes da América nunca saiu do imaginário de Jeanne Gang. Dessas férias com a família, durante a infância, nasceu a vontade de seguir o caminho do pai e tornar-se engenheira. Ideia abandonada, em parte, logo depois. Curiosa por natureza e disposta a mover montanhas para construir um admirável mundo novo, acabou seduzida pelo potencial transformador da arquitetura. “É como um hardware, um influenciador poderoso, mas necessita, entretanto, de um bom sofware, que são as políticas e os programas de apoio comunitário para mudar comportamentos”, diz. Formada pela Harvard University, mirou seus estudos em direção ao urbanismo, aos materiais, à ecologia e à tecnologia. Esse mix de conhecimentos deu forma à Torre Aqua, arranha-céu de 262 m de altura e delicadas fachadas onduladas que risca serenamente o céu de Chicago. Bem diferente dos vizinhos, o edifício multiúso de metal, concreto e vidro rompe com o padrão de construções de linhas retas e superfícies lisas, lançando novo paradigma à arquitetura local. Expressão do olhar visionário da comandante-chefe do Studio Gang Architects, o prédio mais alto do mundo já concebido por uma mulher trouxe Jeanne para o olho do furacão. Afinal de contas, arranha-céus são os inimigos número 1 de cidades mais humanas? Voz dissonante, entre muitas outras, da tese defendida pelo aclamado urbanista dinamarquês Jan Gehl, ela segue em direção oposta. Para a arquiteta, que vive numa das áreas mais densas do mundo, delineada por um skyline de construções altíssimas, a resposta é um sonoro não! “Quem não gosta de montanhas, que são muito maiores do que a escala humana?”, indaga. “Edifícios altos são essenciais para o futuro das cidades, cuja população cresce a uma incrível velocidade. Com bom desenho, é possível erguer torres humanizadas.” Em seu projeto famoso, já alçado a ícone, ela deu atenção especial às aves, uma de suas paixões. Adotou barras irregulares nas janelas para impedir a colisão dos pássaros com os vidros. “O Aqua responde ao ambiente onde foi construído”, explica. “Suas varandas permitem que os moradores entrem em contato com o entorno.”

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Dona de um currículo exemplar, Jeanne, de 47 anos, passou uma temporada no escritório do holandês Rem Koolhaas, um dos pesos pesados da arquitetura mundial contemporânea, antes de abrir as portas de seu próprio estúdio. Tão impressionante quanto as obras do holandês famoso é a produção dessa americana de olhar forte e discurso vibrante, que mistura beleza, pragmatismo e sustentabilidade em seus desenhos espalhados por lugares como Índia e Taiwan, mas que, fundamentalmente, estão ajudando a impactar, e bem, sua própria cidade. É claro que a vida de Jeanne é mais fácil em Chicago do que a de boa parte dos arquitetos de países em desenvolvimento. Destruída por um grande incêndio no verão seco de 1871, a metrópole americana ressurgiu das cinzas, reinventada por um planejamento urbano de ponta. Da destruição veio a possibilidade de pensar o futuro e lançar as bases do que o lugar viria a se tornar. Planos ainda em andamento, como a revitalização da ilha Northerly, à beira do lago de Chicago, capitaneada pelo Studio Gang, brotaram aí. “Essa ideia estava prevista na proposta de 1909, mas só agora está saindo do papel”, lembra a profissional, autora das atrações de viés ecológico da ilha – o anfteatro integrado à paisagem é só uma delas. “Às vezes, penso em Chicago como um adolescente excêntrico: quer ser crescido, já percorreu um grande caminho, mas ainda pode cometer erros estúpidos.” A longo prazo, acredita Jeanne, o sucesso dependerá sobretudo da capacidade de a urbe se equipar para oferecer bem-estar a todos os moradores. Não é uma receita nova, mas elementar, e congrega mais e mais fiéis aqui e do outro lado do Atlântico.

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Dona de um discurso engajado, essa americana de Illinois não poupa críticas duras ao desequilíbrio no planeta, corroído pelo consumo e pela poluição fora de controle. “Sem sustentabilidade, não poderemos ter prosperidade nunca”, assegura. “Não importa o lugar, é urgente a necessidade de investirmos em infraestrutura verde. Em matéria de clima e energia, São Paulo e Nova York, por exemplo, podem seguir o mesmo caminho.” E essa estrada passa, na sua opinião, por criar fontes alternativas de energia e sistemas de tratamento de água. Concentrar a ocupação, como fez Chicago, e melhorar a mobilidade são outras alternativas que se mostram eficazes. Contudo, o exemplo mais recente (e alentador) são os quilômetros e quilômetros de ciclovias. Um modelo que alguns paulistanos corajosos teimam em seguir numa malha viária muito mais amistosa com os automóveis. “É uma forma de melhorar o trânsito sem investir na construção de novas vias ou de linhas de metrô”, avalia. A melhor lição de Jeanne, porém, é que seu discurso tem ressonância prática.

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