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Bons motivos para visitar a Bienal de Arquitetura

A editora Silvia Gomez, da revista Arquitetura & Construção, revela o que mais a encantou no CCSP, na Vergueiro. Um dos pontos da Bienal de Arquitetura

Por Silvia Gomez
Atualizado em 20 dez 2016, 16h35 - Publicado em 6 nov 2013, 18h55

Há algumas raras construções que conseguem despertar um tipo de percepção profunda da arquitetura, uma vivência incomum de suas paredes, pisos, de seus vazios. Sinto isso toda vez que visito o Centro Cultural São Paulo, o CCSP, no bairro Paraíso, em São Paulo. Projetado em 1982 pelos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, o CCSP é para mim um lugar misterioso. A começar por sua fachada, uma espécie de rasgo baixo na paisagem que não revela a princípio o que vamos encontrar. Lá dentro, tampouco é possível decifrar facilmente todas as suas possibilidades e seus muitos espaços distribuídos entre corredores, pátios, rampas, jardins e terraços. Certamente não por acaso foi escolhido como o ponto principal da 10 ª Bienal de Arquitetura de São Paulo, em cartaz até 01 de dezembro. Com sua proposta de discutir a complexa vida nas cidades hoje, a Bienal acertou ao apostar num local cuja natureza democrática e aberta é um estímulo à diversidade. No caminho até as exposição, duas moças ensaiam dança do ventre, um grupo medita, outro aprende pintura, um professor me convida para uma aula de dança. Não posso, obrigada, estou a trabalho. Uma visita à Bienal.

Carrópolis

Ah, sim, a Bienal. De repente, carros velhos estacionados chamam atenção para a mostra Carrópolis, uma bela reflexão sobre o insustentável predomínio dos automóveis nas grandes metrópoles. Alguns dos painéis e fotos contam a história de Detroit, cidade americana que foi a sede da indústria automobilística mundial, berço da Ford, fundada ali em 1903, e da Motown Records, a lendária gravadora dos anos 60 que deu ao mundo nomes como Diana Ross e Jackson 5.  Pois você pode usar os fones de ouvido disponíveis para escutar Michael Jackson e seus irmãos cantando “ABC” enquanto observa as impactantes fotos de uma Detroit fantasma, repleta de prédios e ruas abandonados. Em 50 anos, com a suburbanização e a fuga das montadoras, Detroit perdeu grande parte de sua população rica e viu cair sua arrecadação. Sem reciclar sua economia, baseada na baixa escolarização, decretou falência em 2008, após a crise hipotecária e mais de 100 mil despejos. A surpresa dessa história? Parte do território abandonado começou a ser ocupado por hortas comunitárias. Resta observar que caminho Detroit seguirá – e aprender com ele.

Adeus, Robin Hood

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Outro momento instigante da Bienal conta a história de Robin Hood Gardens, um conjunto habitacional em Londres criado em 1972 por uma dupla meio fora da lei de arquitetos, Alison e Peter Smithson. Em 2012, as autoridades municipais britânicas alegaram que o complexo estava degradado demais para ser recuperado, o que gerou um protesto internacional apoiado por grandes arquitetos como Zaha Hadid e Richard Rogers. Vale a pena assistir à entrevista em vídeo em que Alison e Peter detalham seus então avançados conceitos, muito úteis ao momento brasileiro em que pensamos as habitações do programa Minha Casa, Minha Vida.

10 ª Bienal de Arquitetura de São Paulo

Eixo principal: Centro Cultural São Paulo – Rua Vergueiro, 1000, Paraíso. Tel. (11) 3397-4002.

Quando: Até 01 de dezembro, das 9h às 22h.

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