“Arquitetura terá papel mais importante que a decoração nas casas do futuro”
Curador da mostra La Casa Italiana, o arquiteto italiano Simone Micheli, usa poesia para descrever o futuro do morar.
Na edição de maio da revista Casa Claudia, arquitetos e designers de interiores foram questionados sobre o futuro do morar. Cada um passou a sua visão. Para você, como serão as casas daqui a algumas décadas?
O homem ficou em segundo plano por muitos anos. Ele voltará a ser o centro de tudo e, dessa forma, procurará na sua casa o mesmo conforto e segurança que o homem da caverna buscava no passado. Assim, os espaços serão livres, com menos objetos. Boa parte da funcionalidade e a emoção ficará por conta da arquitetura. Acredito que o homem entrará em conflito com os objetos.
A mostra La Casa Italiana, no entanto, mostra a preponderância do objeto – camas com cabeceira gigante, banheira de Corian imensa…
É que a Mostra representa uma fase intermediária que vivemos hoje. É a casa do presente. Ela pretende trazer para o visitante um outro tipo de reflexão e, mais que isso, uma história dos produtos de ponta na Itália. Então, eu trago objetos simbólicos do novo luxo contemporâneo – como o banheiro, as salas de banho, tudo é grande pois a preponderância ainda não é do homem. É um extrato do nosso presente. Ainda assim, eu trabalho com a idéia de que o homem deverá voltar a ouvir o rumor do vento, o perfume do mar, os detalhes de sua cidade. E para isso, precisará se desvencilhar do consumismo.
Há algum lugar no mundo, alguma cidade que você conheça, em que esse futuro parece mais próximo?
Sim, o Tibet. Lá o homem tem um contato com a natureza. Mas temo que o consumismo chegue lá também. No Brasil, fui convidado a projetar um resort com 30 casas em Sítio do Conde, a alguns quilômetros ao norte de Salvador. A construção deve começar em um ano. Lá, a natureza é tão grandiosa que quem se hospedar ali tende a estar muito próximo dos valores que serão os primordiais.
Qual o papel da luz (que é tão presente na mostra) nesse novo morar?
Sem a luz não há cor. A luz é emoção e, portanto, parte fundamental da emoção que a arquitetura deverá trazer para o homem (como eu disse anteriormente). Eu trabalho com a luz como cimento armado – ela é parte importante de tudo que eu crio. Ela permite construir um sonho. Acho que poucos arquitetos no mundo trabalham com a luz como matéria bruta. Dentro da exposição, a luz é o manifesto da tecnologia – mas, embora tenha chamado a sua atenção, está tímida dentro do que eu imagino que seja possível fazer com ela. Eu utilizo a luz e seu controle, na mostra, para marcar que o controle da casa, através da automação, é uma realidade e está muito presente hoje, na Itália. Se pode controlar tudo. O homem pode controlar tudo. Dominar o espaço em que vive.
O quê: Mostra La Casa Italiana
Onde: MuBE – Museu Brasileiro da Escultura, av. Europa, 218, São Paulo
Quando: de 05 a 29 de junho, das 10h às 19h (de terça a domingo)
Quanto: entrada franca