Cientistas usam melanina para criar obras de arte envoltas em vidro
O pigmento presente na pele foi transformado em líquido e virou obra de arte exposta na Triennale di Milano
Você pode não saber, mas você tem uma substância mais valiosa do que o ouro na sua pele, nos seus cabelos e nos seus olhos. A melanina, chamada por alguns cientistas de o pigmento da vida, tem sido considerada mais cara que o ouro. Motivos não faltam: além de fornecer proteção contra raios ultravioleta, a substância está intimamente ligada à ideia de sobrevivência e adaptação da espécie humana na Terra.
Pesquisadores do Mediated Matter Group, vinculados ao MIT (Massachusetts Institute of Technology), vêm conduzindo recentemente uma série de experimentos com a substância – que nos animais pode ser encontrada também em penas de aves ou nas asas das borboletas, por exemplo. “Nosso objetivo é fornecer insights sobre este pigmento comum, ainda que extraordinário, e discutir o seu papel de apoiar a vida na Terra na era da biologia sintética”, explica a equipe.
A grande surpresa, para o universo do Design, com relação aos experimentos é que alguns dos totens criados com melanina líquida foram usados na Triennale di Milano – como parte da mostra Broken Nature, que fica em cartaz até setembro deste ano na cidade italiana. “Estas espécies de órbitas exibem uma ampla gama de cores e espectros de absorção, de amarelo a tons mais escuros”, explica a equipe. Assim, as formas da substância chamam a atenção e parecem verdadeiras obras de arte ao dançarem dentro de uma estrutura de vidro.
Mas não pense que foi fácil chegar neste formato para exposição. É possível criar a melanina, em laboratório, de três maneiras diferentes: sinteticamente, através de uma reação entre uma enzima de um cogumelo e o bloco de construção de proteínas L-tirosina; extração, onde o pigmento pode ser tirado de penas de aves, antes de ser purificado e filtrado; e síntese bacteriana onde os genes para a produção de melanina são manipulados em espécies de bactérias, como escherichia coli e, portanto, controlados através de circuitos de genes recombinantes no espaço e no tempo, e em resposta a mudanças no ambiente.
“Cada forma de realização estrutural – um totem biológico – é iniciada com a introdução da tirosinase, uma enzima que leva à formação de cor que continua ao longo do dia, aprofundando-se quando o sol atinge o ponto máximo no céu”, descreve o grupo. Uma das vertentes de estudo do Mediated Matter Group também propõe que a melanina seja usada na fabricação de vidros – proposta exibida na Design Indaba 2018, na África do Sul. A ideia é que a melanina, na composição do vidro, possa criar um espaço para espelhar e proteger espécies em risco de extinção. “Desta forma, a demonstração é uma “janela” que fornece proteção, conexão e transformação da luz solar”, finalizam sobre a importância de suas pesquisas. Quem diria que uma das apostas dos cientistas para o futuro do planeta e da biodiversidade pudesse estar dentro dos nossos olhos?