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Algodão, uma nova história

No semi-árido da Paraíba, a cultura do algodão recupera o vigor ao seguir os padrões orgânicos de cultivo. Naturalmente colorido, o fio atrai consumidores interessados no bem-estar do planeta e preocupados com a saúde de quem planta

Por Por Zizi Carderari Texto Silvia Gomez
Atualizado em 20 dez 2016, 15h30 - Publicado em 15 out 2008, 18h59
Um título para uma foto sem titulo

O agricultor Manoel Soares, conhecido como seu Nelson, tinha só 8 anos quando aprendeu com o pai a colher algodão nas terras da família, na comunidade Lagoa de Dentro, em São José de Piranhas, PB. Até hoje, essa é uma de suas memórias mais vivas. “Para mim, foi uma vitória voltar a plantar. Faz lembrar os velhos tempos”, diz. Por velhos tempos, ele se refere à tradição desse cultivo no Nordeste, bastante forte até os anos 1980, época da chegada da praga do inseto bicudo. “Muita gente foi embora.” Mas, desde 2000, parcerias deram início a uma retomada no plantio do algodão no semi-árido paraibano. “Fomos atrás de um produto com diferenciais vantajosos para plantar em pequenas áreas de agricultura familiar”, explica Maysa Gadelha, da Coopnatural, cooperativa com 30 integrantes do setor têxtil, que compram a matéria-prima diretamente dos produtores. Com a ajuda da tecnologia da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a colaboração de ONGs como o Coep (Comitê de Entidades no Combate à Fome e Pela Vida), 70 famílias de agricultores de 17 municípios do estado agora trabalham sem inseticida e de forma sustentável para fazer nascer plantas de fio colorido, vendido por um preço de 30 a 80% maior do que o convencional.

Fibra colorida dispensa processos de tingimento

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Ao lado do linho, o algodão é a fibra mais antiga cultivada pelo homem: já era fiado na Índia há 5 mil anos. Fácil de tingir e alvejar, sempre sofreu como a cobaia de processos químicos agressivos. “A cultura convencional consome hoje em torno de 25% dos agrotóxicos fabricados no mundo”, afirma Melchior Batista, pesquisador da Embrapa. Por isso é que, em tempos de preocupação ambiental, é natural que o fio orgânico colorido atraia novamente a atenção. Na história, há registros de que era usado desde 4500 a.C. pelos incas e por povos da África e da Austrália. No Brasil, a Embrapa foi pioneira numa pesquisa de melhoramento genético de sementes cujo resultado foi o lançamento, em 2000, de uma variedade na cor creme, a BRS 200. Em 2003, veio a BRS Verde e, em 2005, a BRS Rubi e a BRS Safira, de nuances de marrom. “Só na Paraíba, são mil hectares de fibra colorida. Orgânica ou não, ela já se torna vantajosa ao dispensar o tingimento, uma das etapas mais problemáticas”, diz Luiz Paulo de Carvalho, também da Embrapa. Parte dessa estatística é engrossada pela produção deste ano de seu Nelson. “Sem inseticida, consegui colher 156 kg de plumas. Quero mais para 2009”, comemora o agricultor.

 

Produção confiável

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Quais são os critérios para a produção do algodão ser considerada orgânica? “Trabalhamos com regras internacionais que tratam do preparo do solo, do uso de adubos naturais e de sementes sem veneno. O controle de pragas deve usar produtos que não prejudiquem a saúde e o meio ambiente”, diz Marco Antonio Baldoni, do IBD (Instituto Biodinâmico). A entidade já certificou parte da cultura de algodão orgânico no Brasil, mas existe um bom número de produtores que, apesar de seguirem os preceitos corretos, não dispõem do selo. O algodão fornecido por eles leva o nome de agroecológico e também é confiável. “A certificação é um processo caro para o agricultor familiar”, afirma Pedro Jorge Lima, da Esplar, ONG voltada para a agroecologia.

Agora que você conheceu a história do algodão orgânico da Paraíba, aproveite para se inspirar ainda mais com as fotos que selecionamos na galeria.

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