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Refúgio em Ubatuba parece flutuar sobre o terreno

Uma lição de engenharia. A casa no litoral paulista se sustenta com apenas três pilares de concreto.

Por Por Rosele Martins Fotos: Nelson Kon Ilustrações: Gil Tokio/Pingado
Atualizado em 20 dez 2016, 23h50 - Publicado em 17 ago 2010, 13h40

Para alcançar tal feito, traço criativo e pensamento racional chegaram a um consenso. Conheça os ambientes na galeria de fotos e depois, leia a história desta idéia nada convencional.

Se a descoberta da sustentação em três pilares impressiona, espere até saber qual era a ideia inicial do arquiteto paulista Angelo Bucci. “Ele me perguntou se poderia usar apenas dois”, conta o engenheiro civil Ibsen Puleo Uvo, especializado no cálculo de estruturas de concreto. Convencido do balanço excessivo que a ousadia provocaria, Angelo concordou em acrescentar um terceiro apoio. Mas sem comprometer a leveza original – mesmo com a coluna extra, as lajes da casa em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, ainda parecem flutuar.

“Pensei o projeto assim porque sabia da possibilidade de executá-lo”, afirma o arquiteto, que alguns anos antes havia desenhado outra moradia com princípio semelhante. Se tivesse empregado mais pilares, ou acompanhado com o corpo da construção os 50% de declive do terreno, o resultado, diz ele, não seria tão impactante. Nem satisfaria ao casal de proprietários, ansioso por “uma casinha de Tarzan”, como define o médico nascido em Orlândia (cidade natal também do arquiteto) e morador da capital. “Nosso refúgio de praia anterior foi engolido por edifícios. Aqui, eu e minha mulher queríamos o oposto: ficar no alto, junto dos passarinhos”, revela, feliz pela proximidade com a copa das árvores que ajudou a tornar mais abundantes – para cada espécie retirada por causa da obra, plantaram-se outras duas ou três.

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“Depois de removermos o escoramento das lajes, um projetista suíço amigo do arquiteto visitou a construção e ficou surpreso ao constatar: a estrutura não balançava, mesmo que se pulasse lá dentro”, lembra o proprietário, entre risos. Encantados pela combinação bem dosada de arquitetura contemporânea e aconchego, ele e a mulher não se arrependem um dia sequer da escolha. “Amigos diziam que eu era louco, os filhos reclamavam do excesso de escadas, a obra foi bastante trabalhosa, demorou e custou além do previsto… Mas e o prazer de acordar e ter a praia assim, aos nossos pés?”, questiona o médico, cujo privilégio de ver o mar sem obstáculos alcança até mesmo atividades corriqueiras. “Faço a barba enxergando o vaivém das ondas pelo espelho do banheiro”, conta. “Esse entusiasmo foi determinante na realização do projeto”, pondera Angelo Bucci. “Eles compraram a ideia já no primeiro croqui, desenhado a mão em uma lousa no escritório. Sem o suporte de todos os envolvidos, a casa não seria tão interessante”, avalia ele, elogiando os clientes e também o calculista, os empreiteiros e os demais profissionais parceiros na empreitada. Engana-se, no entanto, quem imagina que o arquiteto se deu por satisfeito. “Não pude dessa vez. Mas quem sabe numa próxima consigo usar os dois pilares?”, conclui.

Projeto: Angelo Bucci/SPBR Arquitetos (colaboração: Ciro Miguel, Juliana Braga, João Paulo Meirelles de Faria, Flávia Parodi Costa, Tatiana Ozzetti, Lucas Nobre e Nilton Suenaga). Execução: Alexsandro Bremenkamp e Theobaldo Bremenkamp. Cálculo estrutural: Ibsen Puleo Uvo. Instalações: Hunter Pelton Engenharia. Paisagismo: Raul Pereira. Iluminação: Ricardo Heder (Lux) Reportagem fotográfica.

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