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Edifícios residenciais em SP ganham jardim e comércio no térreo

Empreendimentos em São Paulo revelam uma nova relação com a rua. Jardins, cafés e comércio no térreo pretendem valorizar o convívio e o prazer de vivenciar a cidade

Por Por Juliana Russo (ilustrações) e Vera Kovacs (texto)
Atualizado em 20 dez 2016, 19h43 - Publicado em 25 set 2014, 20h37
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Encantadoras, as ilustrações desta matéria refletem desejos de quem está nas metrópoles: poder caminhar por calçadas largas e arborizadas, conviver com a vizinhança, ler num banco público, morar perto do trabalho sem perder tempo no trânsito. Essas perspectivas permeiam o novo Plano Diretor Estratégico (PDE) do Município de São Paulo, sancionado pelo prefeito, Fernando Haddad, em 31 de julho. No entanto, antes mesmo de sua aprovação, algumas incorporadoras frmaram parceria com arquitetos preocupados em dar mais vida a nosso ambiente urbano. “A morte da rua foi decretada quando surgiram os condomínios-clube, grandes empreendimentos murados com opções de lazer, mas que condenavam seus moradores a viver enclausurados numa suposta ilha de segurança”, sentencia o arquiteto José Ricardo Basiches.

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Ele assina o edifício residencial VN Quatá para a Vitacon, ainda em fase de obras na Vila Olímpia, bairro conhecido por reunir bares, restaurantes e escritórios, além de moradias. Por essa característica mista, a região acolheu bem um conceito perdido há muito tempo pelos estressados habitantes da cidade – a gentileza de uma construção. “Sem deixar de pensar na segurança, planejei o térreo integrado ao exterior. O terreno de esquina permitiu inserir uma praça com café, ambos abertos para a rua, porém com acesso também para os moradores”, explica Basiches. O código atual de edificações exige que todo prédio tenha recuo mínimo de 5 m em relação à calçada. “O que fiz foi integrar essa distância ao passeio público. O gradil existe, contudo está no acesso à portaria. Há monitoramento e controle, como em qualquer residencial”, complementa o profissional.

 

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No mesmo bairro do VN Quatá, a Vila Olímpia, fica outro empreendimento: o Limited Funchal, recém-inaugurado na esquina da Rua Funchal com a Casa do Ator, é outro exemplo de uso misto, pois engloba uma torre residencial de 18 andares a outra, horizontal, com seis pavimentos de apartamentos dúplex e térreo reservado a lojas. Estas são unidas pela praça central totalmente aberta para a rua, o que facilita, inclusive, o deslocamento dos pedestres à estação Vila Olímpia da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a 400 m do local. O projeto, a cargo do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos, tem como incorporadora a Yuny e a Novo Marco como construtora.

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“A obra antecipou premissas do novo Plano Diretor, que incentiva construções com fachadas ativas como esta”, conta a arquiteta Grazzieli Gomes Rocha, diretora associada do Aflalo & Gasperini. As normas do PDE têm como foco o crescimento de São Paulo até 2030 e apontam diretrizes para outras leis, como a de zoneamento, a de uso e ocupação do solo e a do código de edificações. Trocando em miúdos, deixam-se de lado os bairros setorizados (só residenciais ou comerciais) de modo a propiciar condições para o cidadão morar perto do trabalho. Além disso, descarta-se da área computável (a conta do quanto se pode construir no terreno) o espaço para lojas, jardins e praças junto ao passeio.  

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Projetar prédios mais belos também faz parte da ideia de gentileza urbana. “A construção representa uma célula da cidade. É preciso criar sinergia entre as partes, caso da rua que se beneficia de um jardim, a princípio, privativo”, pondera o arquiteto Lourenço Gimenes, sócio de Fernando Forte e Rodrigo Marcondes Ferraz no premiado escritório FGMF. Juntos, eles conceberam o Tetrys Pompeia, edifício residencial em fase de lançamento no bairro da zona oeste. Com geometria colorida, a fachada em forma de cubos oferece frente amigável, na qual existirão bancos e um bicicletário na porta tirando proveito da sombra de um ipê.

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“A praça aberta na calçada é uma aposta para transformar o local em ponto de encontro dos moradores e da vizinhança”, afirma Luis Piccini, diretor da incorporadora INK, que, com a KOA Desenvolvimento Imobiliário e a REM Construtora, compõe o time responsável pela iniciativa. A segurança, segundo Lourenço, fca garantida por meio de um rebaixo na extensão do jardim, próximo à entrada, e de divisórias de vidro. “Ambos fazem uma separação muito sutil entre o trecho público e a área privada do condomínio”, detalha.

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“Como contribuir para as pessoas voltarem a caminhar pela metrópole?” Essa era uma das questões primordiais para o administrador Rafael Rossi quando resolveu, em 2011, criar a própria incorporadora. O primeiro edifício da Huma está, hoje, em obras na Vila Mariana e foi concebido de um jeito camarada com a calçada. Com projeto do Una Arquitetos, o Huma Klabin tem, no formato da fachada, a resposta que Rafael buscava. “O recuo frontal exigido pela legislação foi absorvido como um jardim que se oferece à cidade”, explica o arquiteto Fernando Viégas, sócio do escritório.

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“Um dos andares da garagem fica no nível da rua – é ele que separa o imóvel do ambiente público.” Porém, há empresas ainda reticentes em relação às mudanças na maneira de desenhar. Carlos Borges, presidente executivo da construtora Tarjab, reconhece a tendência, mas encontra barreiras nos próprios clientes. “Eles exigem muros e grades eletrificadas”, justifica. Prova de que ainda há caminho a percorrer. Rafael, por exemplo, interpreta como tímida a resolução do PDE que aumenta em quatro vezes o coeficiente de construção nos terrenos próximos aos principais eixos de transporte da cidade. “Eles representam uma fração pequena se comparada ao coeficiente de até 24 vezes de Nova York.”

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