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Conheça a história do Centro Cultural São Paulo

Graças à sua arquitetura revolucionária e ao uso dado ao espaço, o Centro Cultural SP foi o coração da 10ª Bienal de Arquitetura.

Por Por Luisa Cella | Fotos Fran Parente
Atualizado em 14 set 2018, 11h21 - Publicado em 26 fev 2014, 13h08

Localizado entre a rua Vergueiro e a avenida 23 de Maio, o Centro Cultural São Paulo foi eleito o coração da 10ª Bienal de Arquitetura, que aconteceu de 12 de outubro a 1º de dezembro. A escolha do espaço se deve à importância de sua arquitetura e ao uso dado a ela, que a posicionam como uma área gentil em meio ao caos da metrópole, capaz de oferecer abrigo, entretenimento e cultura a usuários de diferentes idades e classes sociais. “O tema da Bienal deste ano é Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar. Na minha opinião, o prédio do CCSP é um exemplo genial da ligação entre esses modos. Seu uso é o mais democrático e intenso de São Paulo”, defende o arquiteto Guilherme Wisnik, curador da mostra. Atualmente, acontecem no Centro cerca de 300 eventos por mês e a diretoria contabiliza mais de 800 mil visitas ao ano. Inaugurada em 1982, durante a ditadura militar, a obra foi criada com base em conceitos libertários e inovadores, idealizados pelos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Benedito Castro Telles, do escritório Plae Arquitetura. “Os militares não o enxergaram como um espaço de liberdade, ou estavam mais preocupados em ir lá e cortar logo a cordinha da inauguração, só para aparecer em seu governo”, conta Luiz Telles. O período de opressão reforçou o desejo de traçar uma obra aberta, como uma extensão da rua que seduzisse os pedestres a permeá-la. “Nosso foco não era um prédio monumental, mas convidativo. Por isso, não há uma única entrada. São cinco aberturas através das quais se vê o interior funcionando”, conta Luiz.

Nos primeiros séculos da cidade, o terreno com 400 m de comprimento, 70 m de largura e um desnível de aproximadamente 10 m era margem da nascente do rio Itororó. Ficava espremido junto a ela um pequeno vale e a estrada que levava a Santos. As casinhas instaladas no local nos séculos 19 e 20 foram, mais tarde, desapropriadas devido à construção dos metrôs Vergueiro e Paraíso, as primeiras estações de São Paulo. Quando os arquitetos conheceram a área, já muito remexida por causa das mudanças nos arredores, havia restado ali apenas as árvores dos quintais das antigas residências, que foram preservadas no projeto. “Manter a área verde entre os dois volumes principais permitiu uma espécie de respiro no percurso pelo interior da obra. A copa das árvores evita também que o conjunto se revele logo de cara”, conta Luiz. Com a intenção de aproveitar a geografia do terreno e enaltecer a sua condição de margem, os arquitetos desenharam uma obra essencialmente horizontal, onde os 46 500 m2 de área construída se distribuem por apenas quatro pavimentos. Isso criou um grande contraste com a paisagem urbana verticalizada dos arredores. Os projetistas exploraram conceitos da escola paulista de arquitetura, como a tônica na horizontalidade, a introspecção da obra – que se revela apenas no interior –, ambientes contínuos, rampas, as aberturas zenitais e o concreto armado aparente. E conquistaram uma identidade marcante a partir das formas curvas e do uso do aço moldado como material complementar ao concreto, algo pouco comum para a época.

Até o início das obras, em 1978, o espaço vinha sendo desenvolvido para funcionar como a Biblioteca Central de São Paulo-Vergueiro, encomendada pela prefeitura para desafogar a superlotação da Biblioteca Mário de Andrade. Mas o novo prefeito da época, Olavo Setúbal, alterou a proposta no meio do caminho, pedindo que o lugar se transformasse num centro cultural. A construção já em andamento seguiu com poucas alterações, mantendo a biblioteca como elemento central, e o prédio foi erguido às pressas. Na data da inauguração, só 70% do edifício estava acabado, e só depois de dez meses a biblioteca começou a funcionar. A forma como a construção foi tocada, a mudança no uso e problemas de projeto refletiram em complicações na infraestrutura. Oito dias após a abertura, registrou-se a primeira inundação. Em 1991, um grande temporal derrubou parte da cobertura e o local ficou fechado para reforma durante nove meses. A última restauração, feita no ano passado, tratou de cuidar da acústica dos auditórios, que sediam espetáculos de dança, cinema e música. Uma nova adaptação já está programada para melhorar a reserva técnica do subsolo. “Como a programação é variada, mudanças são inevitáveis. A arquitetura aqui não se encerra, o centro está sempre em construção e são os próprios frequentadores que sugerem novos usos”, afirma o atual diretor do CCSP, Ricardo Resende. Ali é comum encontrar, por exemplo, grupos de dança que elegeram os corredores internos como palco de ensaios graças aos seus painéis espelhados. Performances artísticas que se relacionam com o espaço também são recorrentes.

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“Recentemente, assisti a uma cena aqui que me emocionou. Uma garota do grupo de dança K-pop ensinava passos do gênero a uma moradora de rua, que, por sua vez, respondia mostrando à menina movimentos de dança afro”, fala o diretor do espaço, que em sua gestão criou curadorias específicas para cuidar das programações de música, teatro, audiovisual, cinema, dança, artes visuais, literatura e poesia. Como uma grande praça transparente e livre, o CCSP dá liberdade aos cidadãos, que podem usá-lo para estudar, ler, dançar, encontrar amigos, jogar xadrez ou descansar.

 

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