Naturalmente, este trabalho do arquiteto paulista Gui Mattos começou pela fotografia. Ao visitar o terreno para o qual seus clientes haviam encomendado uma casa de lazer, ele registrou a paisagem, o entorno e uma infinidade de detalhes. Trata-se de um hábito costumeiro do escritório: toda essa informação dá elementos para um sem-número de estudos, ideias e sugestões, até que sejam definidos os rumos do projeto. No lote do condomínio luxuoso no interior de São Paulo os cliques foram ainda mais relevantes. Por meio deles, o arquiteto enxergou uma combinação potencialmente fotogênica e, por que não, fotográfica: grandes porções de mata nativa aqui e ali, somadas à topografa acidentada e íngreme, poderiam resultar em vistas destacadas por enquadramentos precisos. Como os pedidos da família (seis quartos, casa para o caseiro, sauna, piscina, garagem etc.) se acumulavam, a opção por uma implantação escalonada ganhou força. Sem cortes nem aterros, a construção se acomodaria no declive em partes sucessivas, cada uma num patamar mais baixo. Imaginando encaixar grandes blocos de concreto até vencer os 8 m de desnível, Gui compartimentou a casa de modo prático: “Pais e filhos numa ala, hóspedes em outra”, diz ele. E ainda evitou a sensação de um conjunto grande demais. “Os clientes têm uma moradia térrea em São Paulo, então achei que a solução em patamares relativamente compactos e independentes agradaria”, explica. Conhecido pelos projetos repletos de luz natural, o arquiteto não agiu de modo diferente desta vez. A cobertura plana ganhou um vão, por onde a sala de estar recebe claridade de um extremo ao outro, e foram incluídos pátios também para ampliar as vistas e a presença do sol. Que a construção se voltaria para os fundos do lote, onde se localiza o belo panorama verde, dava para imaginar. Mas um deles recorta justamente o bloco da entrada, revelando o único vizinho próximo, no lado oposto da rua. “Não achei certo alguém sentado nas poltronas da área social, de costas para a paisagem, ficar sem visual algum para apreciar”, justifica o arquiteto, que efetivamente emoldurou cada foco de interesse com sua obra. “Só o casal desfruta de vista constante da mata, mas os hóspedes têm outra perspectiva, assim como quem está na varanda, na escada…”, conclui.
Múltiplos planos respeitam o terreno
Acompanhando o declive acentuado, a construção dispensou cortes e aterros. O formato em L é outro trunfo, pois viabilizou enfoques da paisagem em diferentes sentidos.
– No fim, a sauna: a dois lances de escada da piscina, no ponto mais baixo do terreno, ela tem uma ampla esquadria sanfonada na face nordeste – assim os proprietários podem repousar em espreguiçadeiras enquanto aproveitam momentos de pura contemplação. a projeção do andar de cima vale como um beiral e desenha um jogo de volumes.
– Hóspedes reunidos: na extremidade desse eixo há uma sala destinada aos filhos e convidados, dotada de uma grande abertura no fundo. Janelas e painéis de vidro à direita e à esquerda ampliam as vistas – as esquadrias dos quartos ganharam marquises de concreto para proteger os interiores do sol da tarde, que incide com força na lateral noroeste.
Lazer escalonado: são vários platôs, a varanda junto à área gourmet, seguida do deck e da piscina com spa e do mirante. Esses níveis nem sempre coincidem com os da casa, criando um efeito dinâmico. A divisão atenua também o sobe e desce dos degraus.
Lugar da família: posicionado na largura do trecho mais plano e alto do lote, este bloco concentra os espaços sociais e as acomodações da família. Também traz, à esquerda, garagem, serviços, cozinha e área gourmet, que se sucedem e culminam na escada para o andar inferior.
Área: 973 M²; Projeto estrutural: Carlos Leal Engenheiros Consultores; Projeto de elétrica e hidráulica: Grau Engenharia de Instalações; Luminotécnica: Lightworks; Piso de demolição: Santa Madeira Comércio de Madeiras; Paisagismo: André Paoliello.