Casa de 60 m² é feita de um contêiner e materiais de construção
Nela, nada é convencional : madeira, tijolos e um contêiner deram origem ao sobrado de 60 m², suficientes para abrigar mãe e filho
“Eu ainda estava na faculdade de arquitetura quando experimentei projetar com contêiner pela primeira vez. Oito anos atrás, isso era uma novidade e tanto. Até então, só se empregava esse tipo de estrutura em abrigos temporários. Fundei minha empresa, a Ferraro Habitat, com a premissa de aproveitar os recursos da melhor forma possível, evitando o desperdício, tão comum no setor da construção civil. Quando eu e minha sócia, a Paola Avila, recebemos o convite para erguer esta casa na região do Campeche, em Florianópolis, fcamos animadas. A proprietária, uma bióloga argentina superpreocupada com o meio ambiente, queria utilizar exclusivamente materiais de segunda mão. Essa busca tomou mais tempo do que a obra em si. Grande parte do mérito pelo resultado cabe à Maria Victoria, nossa cliente, que mergulhou fundo na procura de lotes de tijolos, madeira de demolição, esquadrias e vidros. Tudo aqui já fez parte de outros lares. O projeto caminhava à medida que surgia quantidade considerável de elementos. Incorporar um contêiner à lista foi uma solução prática que poupou dinheiro e esforços durante o trabalho. Por escolha nossa, demos preferência ao modelo usado para o transporte de cargas refrigeradas, o reefer, que conta com bela camada de isolamento térmico. O que achamos tinha tamanho adequado e preço camarada, pois estava batido numa das pontas. Apostamos na compra. Com todos os componentes reunidos e os desenhos prontos, levantar a construção levou cerca de três meses – bem mais rápido do que os métodos convencionais. Mas, por uma dessas reviravoltas da vida, a proprietária precisou voltar para a Argentina no mesmo período em que decidi me mudar e alugar um imóvel para mim e meu filho, o Enrí. Então fechei um longo contrato com a Maria Victoria. Vivo no sobrado há pouco mais de um ano, e tenho liberdade e a confiança dela para fazer pequenos ajustes, sempre necessários numa morada recém-finalizada. No jardim, por exemplo, providenciei um canto para nossos coelhos de estimação usando a mesma linguagem do restante da residência: tudo reciclado. Neste novo lar, a área é enxuta, porém nós temos espaço de sobra. Meu filho brinca à vontade, inclusive debaixo da escada, e eu também encontrei lugar para meu ateliê de pintura. Ele se acostumou à nova rotina e é feliz aqui. Quanto a mim, já estou familiarizada com estas bandas muito antes de a casa estar de pé.” Livia Ferraro, moradora
As boas ideias deste projeto:
– O tijolo dá o tom: a obra teve início só depois que a proprietária encontrou um bom lote do material demolido.
– Janela vertical: a folha de vidro fixo repete o formato da porta de entrada e leva luz natural ao interior da morada.
– Entrada sob medida: até a porta principal foi garimpada em lojas de demolição, recebendo apenas pequenos ajustes para se encaixar no local.
– Cor marcante: dentro e fora de casa, os limites do contêiner ficam claros graças à tinta esmalte azul (Suvinil, ref. martim-pescador, P327).
– Guarda-corpo de corda: se há uma criança entre os moradores, mezaninos pedem atenção extra. Aqui, a trama estreita deixa pouco espaço para estripulias.
– Tablado multiuso: a base de madeira cumpre o papel de sofá, guarda caixas no vão inferior e é palco para as brincadeiras de Enrí.
– Piso versátil: fácil de manter, o cimento queimado ocupa as áreas comuns. O tom claro se deve à presença de pó de mármore na mistura.
Pouco espaço, bom planejamento
Toda integrada, a morada de apenas 60 m² tem espírito de loft e acomoda confortavelmente mãe e filho. O projeto encaixou dois banheiros na mesma prumada e dedicou um quarto ao menino.
Área: 60 m²; Construção: Ferraro Habitat; Consultoria ambiental: Maria Victoria Bisheimer.