Continua após publicidade

Campos Elíseos: cercado por bela arquitetura

Antiga morada dos barões do café, o bairro oferece bons negócios para quem gosta de apartamentos antigos. E promete ganhar novos ares com o projeto de requalificação urbana Nova Luz

Por Da redação
Atualizado em 14 dez 2016, 10h56 - Publicado em 19 nov 2006, 21h07

Restaurados, o Theatro São Pedro, a Estação Júlio Prestes e Estação da Luz devolveram algum glamour à região. Para quem pensa em se mudar para esses lados, o lugar mais sossegado fica no final da alameda Barão de Limeira, no trecho conhecido como Chácara do Carvalho. Sobrados impecáveis rodeiam o Colégio Boni Consilii, e é possível encontrar jóias arquitetônicas por preços razoáveis. Imóveis novos são raros. Chama a atenção um empreendimento chamado Cult, na Alameda Nothmann. São estúdios e apartamentos de um dormitório, piscina, área social e de serviços. “É uma região populosa e carente de empreendimentos para solteiros”, afirma Marcella Carvalhal, gerente¿ de marketing da incorporadora Klabin Segall. A médio prazo, o bairro deve ser beneficiado com o projeto Nova Luz, que prevê incentivos fiscais generosos para quem quer se instalar, reformar imóveis ou implantar novos negócios no perímetro conhecido hoje como Cracolândia – na vizinhança. “Toda região entorno da Praça da República e da Nova Luz será valorizada”, aposta Sérgio Ferrador, conselheiro do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais e Residenciais de São Paulo (Secovi). No início do século 19, os mapas de São Paulo nomeavam “Campo Redondo” um aglomerado de chácaras, entre elas a Chácara Sharpe, vendida em 1865 para o suíço Frederico Glette e o alemão Victor Nothmann e loteada pelos proprietários no ano seguinte. Segundo a mitologia grega, os espíritos dos heróis seguiam para os Campos Elíseos. Versão local dos Champs Elysées, bairro criado em Paris no século 16, o empreendimento incluiu serviços de água encanada e ruas com 16 m de largura. Concluída em 1901, a torre da Igreja do Sagrado Coração de Jesus virou ponto predileto para fotografar vistas da cidade.

Bens tombados no coração do bairro

O Palácio dos Campos Elíseos, a Igreja e o Liceu do Sagrado Coração de Jesus e a estação Júlio Prestes encabeçam a lista dos bens tombados nesse quadrilátero cheio de mansões centenárias em diversos estados de conservação. Mesmo estando a algumas quadras da área mais residencial, torna-se evidente que o restauro dessa memória arquitetônica influencia na valorização dos apartamentos. “Ao investir milhões de reais na Sala Júlio Prestes, não faz sentido deixar o entorno deteriorado”, observa o arquiteto Marcelo Ferraz. O arquiteto Sergio Kipnis acredita que a cidade já atingiu seu ponto máximo de crescimento, e que o centro tende a retomar as atenções. “Apesar da decadência, existe um potencial muito grande”, aposta Kipnis.

Palácio dos Campos Elíseos

O corredor de ônibus na barulhenta avenida Rio Branco nem dá pistas de que, cem anos atrás, ela se chamava alameda dos Bambus e enfileirava palacetes como o dos Campos Elíseos, atual sede da Secretaria Estadual da Indústria e do Comércio. Projetado pelo arquiteto alemão Matheus Haussler para o político Elias Antonio Pacheco e Chaves, foi construído de 1890 a 1899. Transformado em residência dos presidentes (governadores) de Estado em 1912, sediou o governo de 1932 até 1965. Em processo de restauração, o palácio deve ser transformado em museu.A idéia é que o local volte também para hospedar chefes de estado, uma de suas antigas funções.

Positivos

Continua após a publicidade

Opções culturais

Transporte farto

Negativos

Poluição

Ausência de áreas verdes

Continua após a publicidade

“Ninguém sabe direito onde o bairro termina”Darlene Ichimaru e Santo Bedendo moram na região há dezessete anos. “Segundo os Correios, nosso endereço é na Barra Funda, mas, ao atravessarmos a rua, estamos nos Campos Elíseos”, diz Santo. O casal ensina os filhos Pedro, 14 anos, e Mateus, 12, a se defenderem. “Eles já presenciaram pequenos assaltos e viram um tiroteio daqui da janela. Mesmo assim, andam de metrô e ônibus, sempre em grupos de amigos”, relata o pai dos meninos, que estudam no Boni Consilii. “As crianças se acostumaram, adoram o colégio e não querem sair daqui”, conta Darlene. A família mudou-se de um apartamento amplo, com três quartos, na alameda Barão de Limeira, para alugar um de dois dormitórios em prédio com piscina.

“Quem me visita fica encantado com o prédio”

Diana Dorothea Danon mora desde 1968 no Edifício Cícero Prado. “Ao me mudar para cá, os amigos viraram o nariz.” Porém, o preconceito se desfez para quem conheceu o projeto de Gregori Warchavchik, “de uma beleza extraordinária e material excelente.” Além da estética, a localização é estratégica para Diana, que há trinta anos retrata em desenhos a arquitetura paulistana. “Ando muito a pé pela cidade, por isso, sempre morei no centro.”Quando passa por uma demolição, a artista recolhe fragmentos de azulejos, grades, pequenos tesouros que iriam para o lixo. “Apesar de ver casas em muito mau estado, acho que a conscientização melhorou.”

Nos Campos Elíseos viveram médicos, advogados, operários, políticos e artistas da Semana de 22: Mário de Andrade, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Na vizinhança deles, imigrantes europeus se amontoaram, desde o século 19, nos cortiços da rua do Triunfo, atual alameda Cleveland. O cenário permanece, com outros habitantes e em outras construções. Uma delas pertenceu ao pai de Santos Dumont e hoje, degradada, abriga 48 famílias. “Queremos que a casa seja restaurada e dê, por exemplo, oficinas para as crianças, e que a gente continue nos fundos”, sonha a moradora Marilene Rosa Silva. Ao redor do Colégio Boni Consilli, na avenida Barão de Limeira, instalado na antiga residência de Antônio Prado, prefeito entre 1899 e 1910, várias crianças vão a pé para as aulas e outras chegam em carros importados. Esse perfil social eclético acompanha a região há mais de um século. “Só essa mescla garante a paz”, acredita o arquiteto Marcelo Ferraz. “Condomínios fechados são guetos e apenas trazem uma ilusão de segurança”, afirma Ciro Pirondi, um arquiteto apaixonado pelo centro da cidade, onde morou por dez anos. ¿

Publicidade