Refugo industrial é reaproveitado e vira bolsa, tênis, móveis…

Conheça a história de empresas que transformam refugo industrial em roupas da moda, artigos de luxo, peças de design e até produtos para animais de estimação.

Por Texto Chris Martinez | Design Roberta Jordá | Fotos Divulgação
Atualizado em 20 dez 2016, 23h52 - Publicado em 25 set 2012, 16h19
f-refugo-industrial-reaproveitamento

A pele do pirarucu, peixe amazônico de fundamental importância para a alimentação e a economia da população local, já desfilou nas passarelas  internacionais em forma de bolsas, tênis, roupas – no melhor estilo de uma moda que une o chique com o sustentável. Restos de fraldas ou de absorventes, desperdiçados durante o processo industrial, tornaram-se charmosas espreguiçadeiras feitas com madeira plástica. E até mesmo o isopor, vilão da família dos plásticos, agora pode ser visto no figurino de molduras para espelhos, porta-retratos, rodapés e deques para área de lazer. Os exemplos acima parecem exóticos, mas têm um ponto de convergência bem especial.

Como e porquê as empresas optaram pela produção consciente

 

02-refugo-industrial-reaproveitamento

São reflexos da ideologia de Oscar Metsavaht, dono da grife de roupas Osklen, do Rio de Janeiro; da multinacional Kimberly-Clark, conhecida por fabricar o papel higiênico Neve; da carioca Ecowood, que faz madeira plástica; e da catarinense Santa Luzia, que trocou a madeira pelo isopor reciclado para fazer seus produtos. A lista inclui ainda a Butzke. Localizada em Timbó, SC, a ex-fabricante de carroças com mais de 100 anos carrega o mérito de ter sido a primeira empresa moveleira do Brasil a obter o selo verde FSC – que garante a procedência e o manejo sustentável de toda a madeira de eucalipto utilizada no processo de fabricação. Em comum, essas empresas apostaram em um conceito conhecido como Triple Bottom Line – people, planet, profit (pessoas, planeta e lucro) – antes mesmo de a palavra sustentabilidade se tornar uma bandeira a ser empunhada na vida e nos negócios.

Continua após a publicidade

Afinal, nos dias de hoje o consumidor está preocupado, sim, com o meio ambiente. Pesquisa divulgada pelos institutos Akatu e Ethos, sob o nome Percepção do Consumidor Brasileiro – Responsabilidade Social Empresarial, mostra que 78% dos brasileiros têm interesse em saber o que as empresas estão fazendo no quesito responsabilidade socioambiental. Outro estudo do Akatu revela que 37% dos entrevistados se dispõem a pagar mais por um produto com um selo ambiental. Ambas as pesquisas comprovam que ninguém mais quer conviver com estatísticas vergonhosas como a do plástico, que representa 90% do lixo depositado nos oceanos. Cada case citado nesta reportagem ilustra a trajetória particular de iniciativas sustentáveis. Metsavaht guardou o diploma de médico na gaveta para tocar a Osklen, um negócio que começou com uma pequena loja em Búzios e se materializou numa rede com 64 lojas no Brasil e nove no exterior. Cresceu ao sabor do que o empresário chama de luxo sustentável.

Ou seja: criar uma moda diferenciada, respeitando o meio ambiente e toda a cadeia produtiva. Para viabilizar essa dinâmica nos negócios, Oscar Metsavaht fundou o Instituto-e, caldeirão de iniciativas sustentáveis de onde saem diretrizes para a Osklen. Uma delas, a etiqueta efabrics, identifica se as matérias-primas usadas nos produtos da marca respeitam critérios de comércio justo e desenvolvimento sustentável. De lá também saem ideias de projetos socioambientais. Um deles é programa Recuperação da Costa Brasileira, que reabilitou 17 dunas e a vegetação nativa que margeiam o calçadão carioca nas praias de Ipanema e do Leblon. No Rio também está sediada a Ecowood, empresa que compra resíduos de fraldas e absorventes da Kimberly- Clark e desenvolve móveis e revesti-mentos. Isso só é possível porque a fabricante, fundada em 2005, tem uma tecnologia capaz de transformar resíduos diversos – fundindo polímeros com fibras naturais – para produzir um material com características da madeira. “Fazemos produtos sem cortar árvores”, conta orgulhoso Rodolfo Queiroga, proprietário. Feito de madeira, um deque com 100 m² demanda o corte de dois ipês. Na Ecowood, as árvores são substituídas por 2,2 toneladas de resíduos plásticos e fibras orgânicas. Já a Kimberly-Clark, fonte dos resíduos usados pela Ecowood, deu novos rumos à sua história ao procurar alternativas para a redução do lixo industrial. “A companhia decidiu que não mandaria mais resíduos para nenhum aterro sanitário”, diz Janaína Coutinho, gerente de qualidade, segurança e meio ambiente da K-C. Após pesquisa com 248 negociantes de diferentes segmentos, a empresa descobriu que os resíduos -– compostos de celulose, polímero e plástico – poderiam servir de matéria-prima em 184 negócios. Passou, então, a vender 100% dos descartes da produção para parceiros.

Reciclagem de isopor

03-refugo-industrial-reaproveitamento
Continua após a publicidade

Buscar insumos alternativos revigorou a tradicional Santa Luzia. Fabricante de molduras, perfis e revestimentos, a companhia tomou conhecimento de uma fórmula, inédita no Brasil, para reciclar o isopor. Com tecnologia trazida da Alemanha, transforma o material numa placa de plástico que substitui a madeira. “Até 2000, 95% das nossas matérias-primas eram madeira e apenas 5% eram material reciclado. Hoje, é o inverso”, diz um dos proprietários, Marcos Zanette. Na reciclagem do isopor, a empreitada gerou também trabalho para os detentos de um presídio próximo a Curitiba: são eles que higienizam os recipientes de isopor usados nas refeições. Já na história da Butzke a madeira não foi substituída. O caminho escolhido foi buscar o uso consciente do material. Em 1998, tornou-se a primeira indústria moveleira do país a ter o certificado FSC – Florest Stewardship Council, criado na década de 90 em resposta ao uso predatório das florestas. “Se não encontrássemos uma maneira sustentável, estaríamos prejudicando a nossa própria longevidade”, diz Michel Otte, sócio-diretor.

04-refugo-industrial-reaproveitamento
Publicidade